Noites Sangrentas Capítulo 7
Vale da Névoa
A mata se adensava a cada passo. O uivo distante reverberava no peito de Carlos — mais tambor que ameaça.
Jonathan vinha atrás, lanterna trêmula.
— Devíamos esperar reforço — sussurrou.
— Esperar só dá tempo pra escapar — respondeu Carlos. Havia algo estranho na voz: mais excitação que medo.
Descendo o vale coberto de névoa, chegaram a um córrego raso. Jonathan iluminou as pedras manchadas.
— Sangue.
Carlos tocou. O cheiro metálico ainda impregnado. Do outro lado, um pedaço de tecido preso a um galho. Grosso. Quase couro. Ao pegá-lo, sua cabeça latejou.
— Parece pele… — arriscou Jonathan.
Carlos largou de súbito.
— Sigamos.
Mais adiante, pedras dispostas em círculo. No centro, símbolos riscados no chão, profundos, como gravados a garras. Jonathan girou a lanterna, perplexo.
— Isso é ritual. Isso foi feito de propósito.
Carlos passou os dedos nas marcas. O arrepio não era apenas medo. Era reconhecimento.
Um estalo quebrou o silêncio. Pesado. Próximo. Olhos em brasa brilharam entre os arbustos… e sumiram.
Jonathan ergueu a arma.
— Está nos cercando.
A criatura surgiu à esquerda. Sombra imensa. Carlos atirou e errou. Jonathan disparou logo depois, mas os tiros só ecoaram no vazio.
— Corra! — Carlos empurrou Jonathan até o círculo de pedras.
A fera os seguiu, parando na borda. Como contida por algo invisível. Rosnou, dentes à mostra.
Carlos ergueu a arma. Uma dor atravessou-lhe a cabeça. Ficou imóvel. Incapaz de atirar. Os olhos dele e da criatura se encontraram. E, por um instante, não era inimigo. Era… familiar.
O uivo preencheu a noite. A criatura recuou, engolida pela névoa.
Jonathan caiu de joelhos, ofegante.
— Por que ela não atacou? Por que você não atirou?
Carlos não respondeu. Ainda encarava o vazio. Sabia que não era incapacidade. Era vínculo.
— Vamos continuar — disse, a voz firme. Mas a convicção já o havia abandonado.
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