Noites Sangrentas Capítulo 7
A Noite Observa
A mata parecia mais densa a cada passo que Carlos e Jonathan davam. O som dos galhos estalando sob seus pés se amplificava, ecoando no vazio da floresta. O uivo, ainda distante, reverberava na mente de Carlos, pulsando como um tambor em seu peito, ameaçando tirá-lo de seu foco.
Jonathan caminhava alguns passos atrás, a lanterna tremendo levemente em suas mãos. "Você não acha que devíamos esperar por reforços? Isso... isso é maior do que nós dois."
Carlos manteve os olhos fixos na trilha à sua frente, sua expressão impassível. "Esperar só dá mais tempo para aquilo escapar", respondeu com firmeza. Porém, algo na sua voz soou diferente. Não era exatamente ansiedade, mas uma mistura perturbadora de excitação, como se ele estivesse se sentindo desafiado, mais do que amedrontado.
Jonathan permaneceu em silêncio, mas sua expressão era clara — a dúvida era visível em cada linha do seu rosto, refletindo o receio que ele não conseguia mais esconder.
Eles chegaram a uma área onde o terreno começava a descer, formando um estreito vale coberto por uma névoa fina. A luz da lua refletia na névoa, criando sombras dançantes que pareciam ganhar vida própria.
“Você sente isso?”, perguntou Jonathan, sua voz baixa, quase como um sussurro, temendo perturbar o silêncio opressor da floresta.
Carlos parou, olhando ao redor, e seu instinto o alertou. Não era apenas o frio úmido da noite que o envolvia. Era algo mais profundo, mais primal, como se ele estivesse sendo atraído para aquele lugar, uma força invisível puxando-o para dentro da escuridão da mata.
“Sim”, respondeu, breve, e começou a descer o vale, sem hesitar.
No fundo do vale, eles chegaram a um pequeno córrego. A água fluía lentamente, mas havia algo errado nela. Jonathan iluminou o leito do córrego com a lanterna e, ao focar no fundo, viu manchas escuras nas pedras.
"Sangue", disse ele, a voz trêmula, o medo evidente.
Carlos ajoelhou-se, tocando uma das pedras. O sangue estava seco, mas ainda exalava um cheiro metálico forte. Ele fechou os olhos por um momento, e um arrepio percorreu sua espinha. Algo estava errado. Mais errado do que ele poderia admitir.
Quando abriu os olhos, algo brilhou na margem oposta. Sem pensar, atravessou o córrego, ignorando os protestos de Jonathan.
“Carlos! Espera!”
Do outro lado, ele encontrou o que parecia ser um pedaço de tecido preso a um galho baixo. Era escuro e grosso, com uma textura semelhante ao couro. Mas havia algo estranho nele, algo que fez a cabeça de Carlos latejar.
“Isso parece... pele?”, perguntou Jonathan, finalmente alcançando-o, a voz carregada de apreensão.
Carlos não respondeu. Ele segurava o pedaço de tecido com força, os dedos apertando-o até os nós ficarem brancos. Ele sentia uma conexão inexplicável com aquilo, como se fosse uma parte de si mesmo, algo que ele não conseguia explicar.
“Carlos?”, insistiu Jonathan.
“Devemos seguir”, disse Carlos, largando o tecido abruptamente e retomando o caminho.
Mais à frente, encontraram um conjunto de pedras dispostas em círculo. No centro, havia marcas que lembravam símbolos, riscadas no solo com precisão, como se garras afiadas tivessem desenhado aquelas figuras. Jonathan olhou para os símbolos, a perplexidade estampada em seu rosto.
“Isso não é normal. Alguém está fazendo isso de propósito. Isso é um ritual”, disse ele, sua voz baixa.
Carlos ajoelhou-se ao lado das marcas, passando os dedos pelas linhas profundas. Ele não sabia o que significavam, mas havia algo nelas que parecia familiar. Uma memória distante, uma sensação que ele não conseguia acessar, mas que estava lá, algo de muito tempo atrás.
Jonathan começou a andar ao redor do círculo, iluminando os arredores com a lanterna. “E se isso não for só sobre um animal? E se for uma pessoa? Alguém que está manipulando essa coisa?”
Carlos permaneceu em silêncio. Seus olhos estavam fixos nas marcas, e sua mente não conseguia se afastar da sensação de que aquilo tudo estava muito mais conectado a ele do que ele gostaria de admitir.
De repente, um som cortou o silêncio. Não era um uivo desta vez, mas um estalo alto, como se algo muito pesado tivesse caído perto deles. Jonathan ergueu a arma instintivamente.
“Você ouviu isso?”
Carlos levantou-se, os olhos fixos na direção do som. “Sim. Fique atrás de mim.”
Eles avançaram com cuidado, os passos leves e a respiração controlada. O som veio novamente, mais próximo, desta vez. Era como uma mistura de passos pesados e respiração profunda, algo muito grande os observando de perto.
Jonathan iluminou um arbusto à frente, e a luz revelou um par de olhos brilhantes. Mas antes que pudessem reagir, a coisa desapareceu, movendo-se rápido demais para que pudessem acompanhar.
“Ela está nos cercando”, disse Jonathan, a voz baixa.
Carlos apertou o cabo da arma com força, sentindo o suor escorrer pela testa. O medo que ele estava tentando ignorar se espalhou por seu corpo. A criatura estava perto, mas ao mesmo tempo, algo mais o perturbava — uma sensação estranha, como se, de alguma maneira, ele estivesse em casa.
A criatura apareceu novamente, desta vez à esquerda, uma sombra negra e enorme, movendo-se com uma velocidade sobrenatural. Carlos virou-se e atirou, mas errou. Jonathan disparou em seguida, mas o som dos tiros só parecia aumentar o silêncio opressor.
“Corra!”, gritou Carlos, empurrando Jonathan para frente enquanto recuavam, correndo em direção ao círculo de pedras.
Ao chegarem ao círculo, a criatura os seguiu, parando na borda como se algo invisível a impedisse de avançar. Ela rosnou, expondo dentes longos e afiados que brilharam à luz da lua.
Carlos ergueu a arma novamente, mas algo dentro dele o impediu de atirar. Uma dor aguda atravessou sua cabeça, e ele ficou paralisado, como se sua mente estivesse dividida entre duas realidades.
“Carlos! O que você está esperando? Atire!” Jonathan gritou, implorando.
Mas Carlos não conseguia. Seus olhos estavam fixos nos da criatura, e por um momento, ele viu algo. Não era apenas um monstro. Era algo que ele conhecia, algo familiar.
O rosnado da criatura ficou mais alto, e ela recuou lentamente, desaparecendo na escuridão.
Jonathan caiu de joelhos, ofegante. “O que foi isso? Por que ela não atacou?”
Carlos não respondeu. Ele olhou para o lugar onde a criatura havia estado, a mente turva, o coração acelerado. Por que ele não conseguiu atirar?
Ele olhou para Jonathan e disse, com uma voz firme, apesar da confusão interna: “Vamos continuar.”
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