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Noites Sangrentas

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 9

A Fronteira do Medo

A mata parecia conspirar contra eles. Cada passo pesava, como se o chão úmido tentasse prendê-los. O vento fazia os galhos rangerem num lamento desconfortável.

Jonathan, alguns passos atrás, observava o parceiro em silêncio. Desde o encontro com o homem delirante, Carlos parecia… diferente. Mais calado. Mais distante.

— Carlos — chamou, cauteloso. — Aquele cara… por que olhou pra você daquele jeito?

Carlos não virou de imediato.
— Estava delirando. Não pense nisso.

Jonathan apertou os lábios, insatisfeito.
— Delírio ou não, parecia saber alguma coisa.

Carlos se virou devagar, os olhos sombreados pelas árvores.
— E o que exatamente você está insinuando?

Jonathan hesitou. O dedo roçou o gatilho antes que baixasse a arma, engolindo em seco.
— Nada. Só esquece.

O silêncio entre eles se tornou mais pesado.

Mais adiante, encontraram uma árvore tombada. Garras profundas atravessavam a madeira. Carlos tocou o tronco, e uma pontada latejante o fez recuar.

Flashes: sangue escorrendo. Mãos transformadas. Um rosnado ecoando.

— Tudo bem? — Jonathan se aproximou.

— Vamos continuar — respondeu Carlos rápido, sem encará-lo.

Jonathan seguiu, mas o olhar carregava algo novo: desconfiança.

A floresta se fechava mais a cada passo até revelar uma cabana oculta sob árvores retorcidas. Paredes cobertas de musgo, arranhadas por marcas profundas.

— Que lugar é esse? — Jonathan murmurou.

Carlos passou a mão pelo batente, tomado por uma sensação de déjà vu que o gelou.

Dentro, o cheiro de podridão quase os derrubou. Ossos espalhados. Manchas de sangue seco. Como se o tempo tivesse parado em um massacre.

Jonathan engasgou.
— Isso é… uma toca.

Carlos, atraído por algo, ajoelhou-se e pegou um fragmento de espelho no chão. Limpou a superfície empoeirada com a manga.

O reflexo devolveu seu rosto… mas não era o dele.
Olhos em brasa. Dentes afiados. Um sorriso cruel.

Ele deixou o espelho cair, ofegante.

— Carlos? — Jonathan ergueu a arma, mais no parceiro do que contra a mata. — O que você viu?

— Nada — Carlos respondeu, baixo demais.

Jonathan não acreditou. Pela primeira vez, sentiu vontade de puxar o gatilho.

Do lado de fora, o vento se intensificou, como se a floresta exigisse que partissem.

Então o uivo ecoou. Grave. Gutural. Vindo de todas as direções.

Jonathan armou a pistola.
— Está aqui.

Carlos fechou os olhos. O som reverberava dentro dele.

Quando os abriu, havia algo diferente no olhar: foco, intensidade… ou outra coisa.

— Vamos acabar com isso.

Jonathan parou, hesitante.

Na penumbra, por um instante, os olhos de Carlos refletiram como os da criatura.

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