Noites Sangrentas Capítulo 15
O Fim e o Começo
Carlos estava ajoelhado no chão da clareira, os músculos tremendo de exaustão. Sua respiração era irregular, pesada, como se cada respiração fosse um esforço sobre-humano. O corpo, marcado pela luta e pela transformação, parecia pronto para se partir, mas algo dentro dele se recusava a ceder. A criatura estava caída à sua frente, derrotada, mas ainda viva. Ela o encarava com olhos submissos, como se reconhecesse Carlos não apenas como um homem, mas como algo mais — algo que ela temia.
Jonathan permanecia alguns passos atrás, a arma ainda apontada para a criatura. Seu corpo estava rígido de tensão, mas sua mente estava em completo caos. O parceiro que ele conhecia não era mais o mesmo. As garras, os olhos brilhantes, a força sobre-humana — Carlos havia se tornado aquilo que eles estavam caçando.
“Carlos...”, murmurou Jonathan, a voz hesitante, carregada de desespero. “Você precisa me dizer o que está acontecendo. Precisa... me explicar.”
Carlos levantou a cabeça lentamente. Seus olhos, ainda refletindo um brilho amarelado, encontraram os de Jonathan. “Eu não sabia”, disse ele, a voz rouca, carregada de emoção. “Eu juro... eu não sabia.”
Jonathan deu um passo à frente, sem abaixar a arma. O medo ainda fazia sua mão tremer, mas a necessidade de respostas era maior. “Não sabia o quê? Que você era isso? Que você era... um deles?”
Carlos desviou o olhar, suas mãos — agora parcialmente humanas, parcialmente monstruosas — tremendo sobre os joelhos. “Eu não me lembro de nada. Não das noites. Não das transformações. É como se outra pessoa... outra coisa... tomasse o controle.”
Jonathan balançou a cabeça, incrédulo. “E agora? Você consegue controlar isso? Porque, Carlos, se você não puder... eu vou ter que te impedir.”
Carlos respirou fundo, a mandíbula tensa. “Eu não sei, Jonathan. Mas sei que não quero machucar ninguém.”
Jonathan ficou em silêncio, observando o amigo com olhos carregados de dúvida. Algo dentro dele parecia ceder à necessidade de acreditar, mas as palavras de Carlos não eram suficientes para apagar o medo que havia se instalado. Antes que pudesse responder, um movimento à frente os trouxe de volta à dura realidade.
A criatura estava se levantando.
Ela cambaleou sobre as patas traseiras, rosnando baixo, o olhar fixo em Carlos. Jonathan ergueu a arma imediatamente, mas Carlos levantou a mão, impedindo-o de atirar.
“Não!”, gritou Carlos, a voz carregada de autoridade. “Ela não vai atacar.”
Jonathan olhou para ele, incrédulo, uma onda de raiva e confusão passando por sua mente. “Você tem certeza? Porque eu não vou arriscar minha vida com base no que você acha.”
Carlos encarou a criatura, que agora permanecia imóvel, como se esperasse. Ele deu um passo à frente, estendendo a mão, mas ela recuou, rosnando novamente.
“Ela tem medo”, disse Carlos, mais para si mesmo do que para Jonathan. “Ela sabe que não pode me vencer.”
Jonathan abaixou a arma levemente, mas seu corpo ainda estava tenso. “Carlos, o que você está fazendo? Você não pode controlar isso. Você é como ela agora.”
Carlos virou-se para ele, os olhos brilhando intensamente sob a luz da lua, como se a fera que existia dentro dele estivesse em completo controle. “Eu não sou como ela. Eu ainda sou eu.”
Jonathan hesitou, a arma tremendo em sua mão. “Eu quero acreditar nisso, Carlos. Mas se você perder o controle de novo...”
Antes que pudesse terminar, a criatura rugiu, como se sentisse o conflito entre os dois. Carlos girou o corpo instintivamente, suas garras à mostra, pronto para atacar novamente. Mas, em vez de avançar, a criatura recuou para a escuridão, desaparecendo entre as árvores.
Jonathan abaixou a arma completamente, ofegante. “Ela... foi embora?”
Carlos assentiu lentamente, os ombros relaxando. “Sim. Ela sabe que não pode ficar.”
Jonathan observou o amigo, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. “E você? Vai embora também?”
Carlos ficou em silêncio por um momento antes de finalmente responder, a dor em seus olhos visível. “Eu não posso ficar aqui, Jonathan. Não assim.”
Jonathan deu um passo à frente, a expressão grave. “Então o que você vai fazer? Fugir? Se esconder até que isso aconteça de novo?”
Carlos levantou os olhos, e a dor em seu olhar era evidente. “Eu vou encontrar uma forma de acabar com isso. De me livrar disso. Mas não posso fazer isso perto de você... ou de mais ninguém.”
Jonathan apertou os lábios, lutando contra as emoções que ameaçavam transbordar. “Você sabe que eu não vou deixar você fazer isso sozinho, certo?”
Carlos balançou a cabeça, um sorriso triste tocando seus lábios, mas seus olhos não estavam sorrindo. “Você tem que me deixar, Jonathan. Porque, se eu perder o controle de novo...” Ele não terminou a frase, mas o significado era claro.
Jonathan olhou para ele, a arma ainda pendurada em sua mão. “E se eu não deixar você ir? E se eu decidir que a coisa certa a fazer é... acabar com isso agora?”
Carlos ficou de pé, o corpo ainda mostrando sinais de sua transformação. Ele deu um passo à frente, encarando Jonathan. “Então faça. Se você acha que pode.”
Jonathan levantou a arma lentamente, os olhos marejados. Ele apontou para Carlos, os dedos trêmulos no gatilho. “Me dá um motivo para não fazer isso, Carlos. Um só motivo.”
Carlos não desviou o olhar. “Porque, no fundo, você sabe que eu ainda sou o mesmo cara que te salvou naquela noite. O mesmo que confiou em você. E porque, Jonathan... você sabe que isso não é culpa minha.”
As palavras de Carlos atingiram Jonathan como um golpe. Ele abaixou a arma, respirando fundo, enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.
Carlos deu um passo para trás, a expressão carregada de tristeza e alívio. “Obrigado.”
Jonathan tentou dizer algo, mas as palavras não saíram. Ele apenas observou enquanto Carlos se virava e começava a caminhar em direção à escuridão da floresta. A lua cheia iluminava o caminho à frente, e, por um momento, Jonathan viu a silhueta de Carlos mudar levemente — mais alta, mais animalesca. Mas ele não disse nada. Apenas ficou parado, assistindo enquanto o amigo desaparecia na noite.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!