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A Mulher da Capa Preta

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 11

Caça na Escuridão

A noite parecia mais espessa, como se a escuridão estivesse viva, se fechando ao redor deles. A luz vacilante das lanternas mal arranhava o véu negro, e o silêncio, pontuado apenas pelos passos cautelosos dos dois homens, era quase sufocante. O vento carregava um cheiro metálico no ar, fazendo Jonathan prender a respiração, como se o próprio ambiente estivesse aguardando algo.

 

Jonathan estava tenso. Seus olhos percorriam as sombras com nervosismo, acompanhando cada movimento entre as árvores. Mas o que realmente o incomodava não era a escuridão ao redor deles — era Carlos. Desde o encontro com o homem misterioso, ele parecia... diferente. Mais calado. Mais distante.

 

“Carlos,” Jonathan chamou, a voz baixa, quebrando o silêncio pesado. “Você percebe que estamos nos afastando cada vez mais? A gente nem consegue mais ver as estrelas daqui.”

 

Carlos não parou. Seu olhar estava fixo à frente, como se ele visse algo além da escuridão, como se estivesse lendo um caminho que Jonathan não conseguia entender. “A coisa está por perto,” ele respondeu, a voz baixa e estranha. “Posso sentir.”

 

Jonathan parou, desconcertado. “Sentir? De novo com isso? Carlos, você não acha que está... sei lá, perto demais disso? Como se tivesse alguma conexão com essa coisa?”

 

Carlos parou abruptamente e virou-se para Jonathan. Seus olhos, agora refletidos pela luz tremulante da lanterna, estavam escondidos nas sombras, mas a voz que saiu de sua boca soou mais dura, mais fria do que Jonathan imaginava. “O que você está dizendo?”

 

Jonathan hesitou. Não conseguia entender a frieza no tom de Carlos. “Nada, esquece.” Ele passou a mão pelo rosto, tentando se recompor, mas a dúvida ainda queimava sua mente. “Só acho que precisamos de um plano. Se continuarmos andando assim, vamos ser nós os caçados.”

 

Carlos respirou fundo, tentando controlar a tensão que sentia. “Então fique perto e mantenha a arma pronta.”

 

Eles seguiram em frente, mas agora, a sensação de estarem sendo observados aumentava. A mata parecia mais viva, o farfalhar das folhas e o estalo dos galhos ecoando com uma frequência assustadora. Jonathan sentia o peso do olhar da criatura, mas sempre à distância, invisível. Algo estava ali, mas ele não conseguia tocá-la.

 

De repente, o rosnado soou, quebrando a tensão como um golpe. Era baixo, profundo, vindo de algum ponto à direita. Jonathan ergueu a lanterna rapidamente, iluminando a área, mas não viu nada ali.

 

“Você ouviu isso, não ouviu?” Jonathan perguntou, a voz tensa, os olhos procurando em vão por qualquer sinal de movimento.

 

Carlos assentiu, os olhos fixos na escuridão. “Ela está nos observando.”

 

Jonathan se virou para ele, irritado. “Como você sabe disso? Você fala como se entendesse essa coisa!”

 

Carlos apertou o punho, o olhar ainda fixo no vazio. “É só... instinto.”

 

Jonathan estreitou os olhos, a dúvida crescendo. “Instinto? Isso não é instinto, Carlos. Você está agindo estranho demais. E eu quero saber por quê.”

 

Antes que Carlos pudesse responder, o rosnado veio novamente, mais alto, mais próximo. O som reverberou pelas árvores, fazendo as sombras se agigantarem ao redor deles. A lanterna de Jonathan tremeu em sua mão, seu coração acelerando com o aumento da tensão.

 

“Ela está vindo!” Jonathan gritou, apontando a arma na direção do som.

 

Carlos também sacou a sua arma, mas havia algo diferente em seu comportamento. O rosnado reverberou em seus ossos, chamando algo primitivo dentro dele. Seu coração batia forte, o ar parecia denso, e sua visão ficou temporariamente turva.

 

Do meio da mata, a criatura emergiu. Ela era maior do que qualquer homem, sua silhueta uma mistura grotesca de humano e animal. Seus olhos brilhavam como brasas incandescentes, fixando-se neles com uma fome insaciável. As garras, enormes e afiadas, pareciam prontas para rasgar qualquer coisa com um único golpe.

 

Jonathan ficou paralisado pelo medo, a respiração presa na garganta. “Meu Deus…”

 

Carlos, por outro lado, sentiu algo diferente. Ele não conseguiu desviar o olhar da criatura, e, por um breve momento, algo inexplicável passou por ele. Era como se aquela criatura não fosse apenas um inimigo — era algo familiar, algo que o encarava não como uma presa, mas como um igual.

 

“Carlos, atira!” Jonathan gritou, quebrando o transe.

 

Carlos ergueu a arma, mas as mãos tremiam. O rosnado da criatura, mais alto e profundo, causou uma onda de calor que percorreu seu corpo, algo visceral e familiar. Ele não conseguia puxar o gatilho. Não queria.

 

“Carlos!” Jonathan gritou novamente, disparando três tiros rápidos.

 

As balas cortaram o ar, e a criatura recuou, soltando um rosnado mais alto. Por um momento, parecia que ela avançaria, mas então desapareceu nas sombras com uma velocidade impossível.

 

Jonathan abaixou a arma, ofegante, e se virou para Carlos, que estava imóvel, atordoado. “O que diabos foi isso? Por que você não atirou?”

 

Carlos olhou para Jonathan, como se estivesse acordando de um pesadelo. Ele não soube o que responder. “Eu… eu não sei.”

 

Jonathan permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Carlos, uma desconfiança crescente em seu olhar. “Carlos, o que está acontecendo com você?”

 

Carlos não respondeu. Ele sentiu algo quente escorrendo de seu nariz e, ao limpar com a mão, percebeu que estava sangrando. Ele olhou para a mão suja, paralisado. Jonathan viu e arregalou os olhos.

 

“Você está sangrando. O que está acontecendo com você, Carlos?” Jonathan insistiu, agora mais alarmado do que nunca.

 

Carlos limpou rapidamente o sangue na camisa, tentando manter a compostura. “Não é nada. Só o estresse.” Jonathan olhou para ele, cético, mas não insistiu. Não ali. Não naquele momento.

 

Os dois continuaram avançando, mas o silêncio entre eles era mais pesado do que nunca. Jonathan andava atrás, mantendo a arma firme, os olhos indo do caminho à frente para as costas de Carlos. Algo estava errado. Algo estava muito errado.

 

Carlos, por sua vez, sentia uma pressão constante em sua cabeça, como se estivesse prestes a explodir. Ele ouviu o rosnado da criatura novamente, distante, mas agora tinha a sensação de que estava muito perto. E, pela primeira vez, ele não sabia se a estava caçando... ou se estava sendo chamado.

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