
Noites Sangrentas Registro Extra II
O Fardo da Capa
Arthur vagava pela mata envolta em névoa, o coração acelerado. O nome ecoava em sua mente como um chamado impossível: Carol.
E então a viu. Uma silhueta ereta ao lado de uma árvore morta, envolta por uma capa negra que parecia se mover sozinha. O rosto oculto, mas a presença inconfundível.
— Você voltou — sussurrou ele, estendendo a mão trêmula.
Ela recuou, desaparecendo por um instante, apenas para surgir logo atrás. A voz doce e amarga ao mesmo tempo:
— Eu nunca fui embora, Arthur.
Ele cambaleou até ela, lágrimas nos olhos.
— Disse que estaríamos juntos… para sempre.
Carol o encarou com tristeza.
— E estaremos. Mas de outra forma.
Antes que Arthur pudesse reagir, ela ergueu a capa e a colocou sobre seus ombros. O tecido gelado colou-se à pele como se tivesse vida.
Uma dor brutal atravessou-lhe o corpo.
Cada nervo queimava.
Cada osso se partia e se recomponha.
Arthur tentou gritar. Nada saiu. Tentou fugir. Estava preso.
A capa pulsava sobre ele. Respirava. Sugava.
O fardo o consumia.
Quando a dor cessou, Arthur não era mais o mesmo. A respiração arfante deu lugar a um silêncio pesado. Entre as árvores, algo se erguia: uma figura agachada, coberta de pelos, garras fincadas no solo, olhos brilhando como carvões em brasa.
A voz de Carol ecoou, distante, como um lamento:
— Alguém sempre precisa carregar a maldição.
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