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Noites Sangrentas

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 5

A Noite Observa

A noite desceu sobre a floresta com uma velocidade assustadora. A mata parecia mais viva sob o brilho da lua cheia. O ar estava carregado, como se a própria floresta respirasse junto com os passos de Carlos e Jonathan. O silêncio era opressor, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas e o som esporádico de animais noturnos.

— Isso não está certo — murmurou Jonathan, apertando a arma com ambas as mãos.

— Nada disso está certo — respondeu Carlos, sem olhar para trás.

Seus olhos seguiam as pegadas que cortavam o solo lamacento. Eram grandes, profundas. Algo incrivelmente pesado. Rastros ainda frescos.

Jonathan ergueu a lanterna, iluminando o caminho.
— Carlos, eu sei que você quer resolver isso, mas estamos indo cada vez mais fundo. E se a coisa não estiver fugindo? E se formos nós os caçados?

Carlos parou abruptamente. Virou-se com olhar frio.
— Você pode voltar se quiser. Eu não vou parar.

Jonathan balbuciou algo inaudível, mas calou-se. Sabia que não adiantava discutir.

A sensação de estarem sendo observados só aumentava. Carlos sentiu um arrepio na nuca. Não comentou. Precisava manter Jonathan calmo, apesar da ansiedade que o corroía. Algo está errado… mas o quê?

— Olhe aquilo — disse Jonathan, apontando para uma área mais aberta entre as árvores.

Arthur andava sem rumo. Os olhos varriam a escuridão. Nada. Silêncio demais.

Então, ele ouviu.

— Arthur…

A voz soou à esquerda. Um sussurro frágil. Convidativo. Ele girou, olhos arregalados.

— Carol? — chamou, a voz rouca.

Nada. Apenas o vento. Folhas secas. O som distante da cidade adormecida.

— Eu estou aqui… — o sussurro agora à direita.

Arthur virou-se bruscamente. O coração disparado.

E a viu. Uma silhueta na névoa, de pé junto a uma árvore morta. A capa preta escondia o rosto, mas ele sabia. Era ela.

Cambaleando, avançou. A cada passo, o mundo se desfazia. A cidade, o cemitério… nada restava. Apenas Carol e ele.

— Você voltou… — murmurou, estendendo os dedos trêmulos.

Quando quase tocou o tecido, ela recuou. Desapareceu na névoa.

— Não! — Arthur gritou, a dor quase física. — Por favor, não me deixe!

— Eu nunca vou te deixar — sussurrou ela, atrás dele.

Arthur girou, frenético. Escuridão. Vazio.

— O que você quer de mim?! — caiu de joelhos. — Por que me trouxe aqui?!

No galho de uma árvore, algo pendia. Um animal morto. Veado, talvez. O corpo dilacerado. Sangue escorrendo, formando uma poça escura que refletia a luz da lanterna.

Jonathan engasgou.
— Isso foi recente. Muito recente.

Carlos aproximou-se. O cheiro veio antes da visão. Metálico. Pungente. Náusea. Não recuou.

— Carlos? Está tudo bem? — perguntou Jonathan, sem se aproximar.

— Estamos perto — murmurou Carlos, quase em transe. — Muito perto.

Seguiram até uma clareira iluminada pela lua. O cenário era surreal. Galhos retorcidos projetavam sombras longas no chão. O vento trazia sussurros.

No centro, algo se moveu.

Jonathan ergueu a lanterna. A arma também.
— Meu Deus…

A criatura estava ali. Enorme. Pelos negros. Olhos em brasa. Garras que refletiam a lua. Observava-os com curiosidade inumana.

Carlos ergueu a arma, mas a mão tremia. Algo o paralisava. Eu conheço isso… mas não é possível.

— Agora! — gritou Jonathan, disparando.

O tiro ecoou. A criatura moveu-se com agilidade impossível. Desviou. Sumiu nas sombras.

Carlos correu atrás, ignorando os gritos de Jonathan.
— Carlos, espere! Não podemos ir sozinhos!

A perseguição durou minutos. A criatura parecia brincar. Rastros fáceis, depois desaparecia. Jonathan ficava para trás, arfando.

Carlos parou de repente. Uma dor no peito. Como se algo o apertasse de dentro. Apoiou-se numa árvore, sufocado.

— Carlos! O que houve?!

— Só… uma dor de cabeça. — ainda ofegante. — Vamos continuar.

Jonathan o olhou, preocupado. Não insistiu.

Voltaram à clareira. Algo havia mudado. No centro, marcas no chão. Circulares.

Carlos ajoelhou-se. Passou os dedos.
— Isso é um ritual.

— Ritual? Como assim? — Jonathan iluminou as marcas.

A terra ainda estava quente. Um calafrio percorreu Carlos.
— Não é só um animal. Tem algo mais aqui. Algo… humano.

Jonathan franziu a testa, mas o silêncio foi quebrado por um uivo distante. Profundo. Primal.

Imediatamente, ambos se alertaram.

— Ela voltou — sussurrou Jonathan, arma erguida. — Está perto.

Carlos respirou fundo. A sensação mexia com ele de forma inexplicável. O coração acelerado. A luta para se controlar.

— Vamos terminar isso — disse, com voz mais firme do que realmente sentia.

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