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A Mulher da Capa Preta

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 3

Ecos do Inexplicável

A manhã parecia mais fria do que o normal quando Carlos acordou. Estava sentado no sofá da sala, ainda com as botas e a camisa amarrotada da noite anterior. O relógio na parede marcava 6h30, mas ele não lembrava exatamente como havia chegado em casa.

 

Ele passou a mão pelo rosto, tentando afastar a sensação de peso em sua cabeça. Flashbacks do que havia encontrado na mata voltavam em fragmentos: o cheiro de sangue, as pegadas, e a cápsula metálica que ele agora mantinha no bolso do casaco.

 

Carlos olhou para suas mãos. Estavam limpas, mas ele sentia como se algo invisível as estivesse sujando. Ele balançou a cabeça, afastando o pensamento, e levantou-se com um suspiro pesado.

Na delegacia, Jonathan já o aguardava, parecendo mais energizado do que de costume. Ele segurava um café na mão, mas seus olhos estavam fixos em algo na prancheta.

 

“Você chegou tarde”, comentou Jonathan assim que Carlos entrou.

 

“É?”, respondeu Carlos, tentando soar casual. Puxou uma cadeira e se sentou, ignorando a sensação incômoda em sua cabeça.

 

Jonathan levantou os olhos, observando-o por um momento antes de continuar. “Recebemos outro relatório. Mais pegadas encontradas perto da estrada que leva à ‘Casa do Sapo’. Parece que a coisa está se movendo.”

 

Carlos assentiu. Ele deveria estar analisando as informações, mas sua mente estava distante. Apertou a mão contra a têmpora, tentando disfarçar a pontada de dor que parecia crescer.

 

“Tudo bem com você?”, perguntou Jonathan, com o tom cauteloso de quem sabia que Carlos odiava perguntas pessoais.

 

“Só uma dor de cabeça”, respondeu Carlos, direto. “Vamos para o carro.”

 

O trajeto até o local era curto, mas parecia mais longo com o silêncio que se instalou entre eles. Jonathan observava Carlos de relance enquanto ele dirigia, notando que ele apertava o volante com mais força do que o normal.

 

“Essa coisa está mexendo com todo mundo, né?”, disse Jonathan, tentando aliviar o clima.

 

Carlos lançou-lhe um olhar rápido, mas não respondeu. Ele sentia um peso crescente, como se o ar ao redor estivesse carregado de algo invisível.

 

A ‘Casa do Sapo’ parecia ainda mais sinistra à luz do dia. As paredes descascadas e as janelas quebradas davam ao lugar uma aparência de abandono total, mas havia algo na atmosfera que fazia a pele arrepiar.

 

Jonathan foi o primeiro a sair do carro, ajustando a arma no coldre enquanto olhava ao redor. “A última vez que estivemos aqui, você disse que isso era maior do que parecia. Ainda acha isso?”

 

Carlos não respondeu imediatamente. Caminhou até a entrada da casa, iluminando o interior com a lanterna, mesmo que o sol já iluminasse o lugar.

“Vamos ver o que encontramos”, disse ele, finalmente.

 

O interior da casa era um caos: móveis quebrados, marcas de garras nas paredes, e uma sensação de vazio que parecia viva. Jonathan apontou para o chão, onde mais pegadas estavam visíveis.

 

“Essas são... novas”, disse ele, agachando-se para examinar.

 

Carlos aproximou-se, mas parou subitamente. Sentiu algo — um déjà vu tão forte que o fez estremecer. Ele já havia estado ali antes. Ele sabia disso, mas não conseguia lembrar quando ou por quê.

 

“Carlos?”, chamou Jonathan, levantando-se.

 

“Estou bem”, respondeu ele, rapidamente. Mas sua voz estava tensa, e Jonathan percebeu.

 

Enquanto Jonathan continuava a explorar o local, Carlos ficou parado por um momento, olhando para as marcas nas paredes. Ele tocou uma delas, e, por um breve instante, flashes invadiram sua mente: uma floresta, a luz da lua, e um grito que parecia ser dele.

 

Recueu, respirando fundo. “Concentre-se”, murmurou para si mesmo.

 

Mais ao fundo da casa, Jonathan encontrou algo que chamou sua atenção: uma garrafa quebrada no canto, com um líquido escuro ainda impregnado no chão ao redor. Ele a pegou com cuidado, olhando para Carlos.

 

“Parece algo... químico”, disse Jonathan. “Não deveria estar aqui, certo?”

 

Carlos inclinou-se para cheirar o líquido. Um arrepio percorreu seu corpo, mas ele não demonstrou. “Guarde isso. Pode ser importante.”

 

Jonathan assentiu, mas não deixou de notar que Carlos parecia desconfortável.

 

Quando saíram da casa, o sol já estava mais alto, mas a sensação de que estavam sendo observados não havia desaparecido. Jonathan recostou-se no carro, olhando para Carlos, que estava parado, encarando a entrada da casa como se esperasse algo sair dali.

 

“Carlos?”, chamou Jonathan novamente.

 

“Vamos embora”, respondeu ele, finalmente, entrando no carro sem olhar para trás.

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