Noites Sangrentas Capítulo 13
A Sombra da Verdade
A lua cheia estava quase no ápice, e a mata parecia morta, exceto pelas sombras que se moviam como espectros entre as árvores. O silêncio era tão denso que os passos de Carlos e Jonathan soavam abafados, como se até o som tivesse medo.
Jonathan segurava a lanterna e a arma ao mesmo tempo. Apertava as duas como se fossem sua única âncora. Observava as costas de Carlos — passos rápidos, rígidos demais, quase como se ele estivesse caçando.
— Carlos — chamou, baixo, tentando romper o silêncio sufocante. — A gente precisa parar. Pensar no que estamos fazendo.
— Não temos tempo. Ela está perto.
Jonathan cerrou os dentes. — Sempre isso! “Ela está perto.” Como você sabe? Como pode sentir? Está falando como… como um deles!
Carlos parou de repente. O corpo ficou tenso, ombros erguidos, pronto para atacar. Virou-se devagar, a lanterna revelando metade de seu rosto. A outra, mergulhada em sombra.
— Você está cansado, Jonathan — disse, a voz baixa, quase um rosnado contido. — Está começando a imaginar coisas.
Jonathan não recuou. Apontou a luz direto em seu rosto. — Não estou imaginando nada. Desde o início, você ouve antes de mim. Sente o cheiro de sangue antes de todos. Agora age como se soubesse onde essa coisa está.
Carlos estreitou os olhos, mandíbula rígida. — Está dizendo que eu sou o quê? A criatura? Um monstro?
— Eu não sei o que você é. Mas sei que há alguma coisa errada com você.
Carlos avançou um passo. Por um instante, o rosto dele assumiu algo predatório, selvagem. Jonathan contraiu o corpo, os dedos firmando o gatilho. Se precisar, eu atiro.
Carlos respirou fundo. Voltou a falar num tom mais controlado:
— Estamos no meio do nada. Se começarmos a desconfiar um do outro agora… ela vence.
Jonathan hesitou. Baixou a lanterna, mas o nó no estômago não cedeu. — Tudo bem. Mas se tentar qualquer coisa estranha… eu não vou hesitar.
Seguiram em frente. O cheiro metálico ficou mais forte, sufocante. Jonathan puxou a manga da camisa contra o rosto. — Você está sentindo, não está?
Carlos não respondeu. Os olhos fixaram-se na cabana adiante, escondida entre árvores retorcidas. Uma fumaça fina escapava do telhado caído.
— Alguém está aqui. Talvez seja ela — disse Jonathan, engatilhando a arma.
Carlos empurrou a porta. O interior estava sujo, paredes cobertas de símbolos e marcas de garras. Ossos espalhados pelo chão.
— Isso… isso é uma toca — murmurou Jonathan, pálido.
Carlos se ajoelhou diante de um cobertor. Ao puxá-lo, revelou o corpo de um homem. O peito aberto em garras, o rosto congelado num grito eterno.
— Ela fez isso — Jonathan engasgou.
Carlos, porém, não se mostrou surpreso. O olhar dele era quase de… compreensão. Jonathan sentiu o gelo subir pela espinha.
— Carlos?
Carlos se ergueu, os olhos sombrios. — Ela está perto. Eu posso sentir.
Jonathan arregalou os olhos. — Para com isso! Como você pode saber?!
— Porque eu conheço ela.
Jonathan paralisou. O sangue sumiu do rosto. A arma tremeu. Atiro? A ideia foi clara, inevitável. Mas não conseguiu. Medo o segurava… e aquele fio de lealdade que ainda não se rompera.
— O que você disse? — sussurrou, sem ar.
Antes da resposta, galhos estalaram lá fora. Um rosnado grave fez a cabana vibrar.
— Ela está aqui — Jonathan ergueu a arma, as mãos tremendo.
Uma sombra enorme passou pela entrada, bloqueando a luz da lua.
— A gente precisa sair daqui! — Jonathan puxou o braço de Carlos.
— Ela não vai deixar fugir.
Jonathan soltou-o e mirou a porta. — Se você não quer lutar, eu vou.
O rosnado se aproximou. A criatura entrou. Pelos negros, garras longas, olhos em brasa. Jonathan atirou. O som ensurdeceu a cabana, mas a fera avançou e o arremessou contra a parede.
A lanterna caiu, apagando-se.
Carlos permaneceu no centro, imóvel. A criatura parou também. Encarou-o. Reconhecendo.
A cabeça de Carlos latejou, um calor queimando-lhe os músculos. Ele cambaleou. O rosnado ecoou — mas desta vez parecia nascer de dentro dele.
Jonathan, ainda no chão, viu. Viu as unhas de Carlos se alongarem, afiadas.
— Carlos…?
Carlos ajoelhou-se, tremendo. As mãos na cabeça, a respiração descontrolada. As garras brilhavam à luz da lua que atravessava a fenda da porta.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!