Flores de Gelo: O império caído Capitulo 5 - Parte II
Maxwell marchava em direção ao centro da cidade, montado em seu cavalo, seguido de perto por dois homens. O brilho pálido da lua iluminava o caminho, enquanto o silêncio noturno os envolvia. Ele carregava consigo a ordem da rainha, que agora pesava em seus ombros como uma carga inadiável.
Ao chegar ao centro, exausto pela jornada, Maxwell deteve-se. Sua figura imponente, ainda sobre o cavalo, destacava-se no meio da praça vazia. Ele ergueu a mão, sinalizando
para que seus homens se preparassem. Quando a trombeta soou, o silêncio foi quebrado. Os moradores, alertados pelo som grave e autoritário, começaram a se aglomerar, conscientes de que aquele chamado era um aviso da realeza.
- Atenção, homens! - começou Maxwell, sua voz firme e alta ecoando pela multidão. Ele mantinha-se ereto na sela, usando sua altura a seu favor para capturar a atenção de todos.
Um murmúrio de conversas e cochichos percorreu a plateia, mas, aos poucos, a voz autoritária de Maxwell sobrepôs-se à balbúrdia, impondo silêncio.
- A rainha teme que os soldados do reino não sejam suficientes para solucionar o desaparecimento da princesa. Como já sabem, Anya Delence de Azuris está desaparecida, e nossos guerreiros falharam em encontrá-la.
Os cochichos voltaram, desta vez mesclados entre surpresa e preocupação. Mesmo assim, Maxwell prosseguiu sem hesitar:
- A rainha ordenou que eu viesse aqui para anunciar que os homens que se voluntariarem a ajudar na busca serão generosamente recompensados!
As palavras de Maxwell transformaram os murmúrios em murmúrios de comemoração. Afinal, quem recusaria uma oportunidade de ganhar dinheiro?
Entre a multidão, Klaus ouviu o anúncio. Determinado, o camponês de olhos claros não perdeu tempo. Partiu imediatamente em direção ao castelo, a passos apressados, seu coração carregando mais do que pressa: carregava medo e culpa.
Klaus não imaginava que Anya estivesse realmente perdida. E, no fundo, temia que isso fosse, de alguma forma, sua responsabilidade.
Embora o dinheiro fosse tentador para muitos, não era o que movia Klaus. O que realmente importava para ele era o paradeiro da princesa. Ele ainda sentia algo por Anya, algo que tentava esconder, mas que agora o impulsionava com força renovada.
Guiado por lembranças antigas, Klaus sabia exatamente como chegar ao castelo. Afinal, ele já havia visto a princesa atravessar aqueles portões várias vezes. Assim que avistou o branco imponente das muralhas, apressou-se ainda mais, correndo até os portões de entrada.
- Deixe-me passar, por favor! Vim pela convocação da rainha. - suplicou Klaus, encarando os guardas que barravam seu caminho.
Os homens hesitaram por um momento, até que um deles o agarrou firmemente pelos braços e o conduziu para dentro. Klaus foi levado diretamente à sala da rainha. Quando o guarda o largou à frente da soberana, ele voltou ao seu posto, deixando o plebeu e Cassandra a sós.
- Minha rainha, eu imploro, deixe-me ajudar na busca pela princesa! - pediu Klaus, ajoelhando-se em um gesto de respeito.
Cassandra, que até então mantinha o olhar distante, fixou seus olhos no rapaz. Os castanhos da soberana encontraram o azul cristalino do plebeu. A rainha se ergueu com a graça de uma verdadeira majestade. Lentamente, ela caminhou até ele, mantendo o ambiente carregado de tensão.
Sem dizer uma palavra, Cassandra prendeu um pequeno broche na túnica de Klaus.
- Você jura, com sua vida, que fará de tudo para encontrar minha filha? - perguntou a rainha, com sua mão repousando sobre o broche, próximo ao peito de Klaus.
- Sim, minha senhora! - respondeu ele, sem hesitar.
Cassandra aproximou-se ainda mais, sua voz tornando-se um sussurro:
- Então vá... e encontre-a. - As palavras deslizaram por seus lábios como uma ordem inquebrável.
Após ser dispensado pela rainha, Klaus foi conduzido por outro guarda até os portões do castelo, de onde partiu determinado. Agora, com sua nova missão clara, ele retornaria para casa, onde avisaria sua mãe e reuniria tudo o que precisasse para a jornada que o aguardava.
Enquanto isso, em um lugar completamente diferente, Já no dia seguinte, Anya começava a recobrar a consciência. A jovem abriu os olhos lentamente, sentindo-se atordoada. Tudo ao seu redor era estranho, um completo contraste com os luxos do castelo que estava habituada.
Ela estava deitada em uma cama simples, dentro de uma cabana rústica. O teto era feito de palha, sustentado por paredes de madeira envelhecida. A luz suave que penetrava pelas frestas iluminava o ambiente, revelando sua simplicidade.
Com um impulso, Anya sentou-se na cama, afastando algumas mechas de cabelo que caíam sobre o rosto. Ao observar o lugar, sua mente ainda confusa tentava processar onde estava. Foi então que uma voz familiar preencheu o silêncio:
- Essa casa já é bem velha. Moro nela há anos. - A voz vinha de Kikyo, a ruiva que agora chamava a atenção de Anya.
- Onde... onde estou? - perguntou Anya, sua voz fraca e arrastada, como se cada palavra exigisse um esforço.
- Na minha vila. - respondeu Kikyo de maneira simples, mas direta.
Anya franziu o cenho, tentando entender. Seus olhos desceram para si mesma e ela percebeu que não estava mais com as roupas que usava antes. Um vestido roxo cobria seu corpo. Ele era feito de um tecido macio e confortável, com mangas longas e bufantes que revestiam seus ombros. A cintura era ajustada, mas o tecido fluía livremente a partir dali. Embora comportado, o vestido tinha uma elegância discreta, e sua cor roxa escura conferia um ar de mistério.
Seu cabelo, agora preso em um rabo de cavalo, parecia mais leve do que o habitual, e Anya passou os dedos pelo penteado enquanto tentava entender o que acontecia.
- Por que me trouxe aqui? - perguntou, finalmente colocando os pés no chão de madeira.
Kikyo aproximou-se, sentando-se ao lado de Anya na cama. A expressão da mulher era séria, quase contemplativa.
- Quando a vi, soube que você era uma de nós. - respondeu Kikyo, enigmática.
- Uma de vocês? O que quer dizer com isso? - A confusão estampava-se no rosto de Anya.
Kikyo respirou fundo antes de começar a falar:
- Há muito tempo, existiu uma sacerdotisa. Seu nome foi apagado dos registros históricos, restando apenas uma pista: a letra H. Ela era pura e cheia de amor, dedicando sua vida a proteger os segredos desta floresta. Mas tudo mudou quando um homem apareceu. Seu nome era Lothus. Ele conquistou o coração da sacerdotisa, fazendo-a apaixonar-se perdidamente.
Anya sentiu o estômago revirar ao ouvir o nome de seu pai, mas permaneceu em silêncio, permitindo que Kikyo continuasse.
- Lothus parecia retribuir o amor da sacerdotisa, mas as ações dele provaram o contrário. Certo dia, sem aviso, ele a abandonou. Ela ficou desolada, e sua bondade começou a desaparecer. Quando descobriu que Lothus havia se unido a uma princesa, o ódio tomou conta de seu coração.
Kikyo levantou-se e começou a caminhar lentamente pela cabana, como se relembrar essa história trouxesse peso às suas palavras.
- Dominada pela raiva, a sacerdotisa amaldiçoou o reino de Lothus. Durante a coroação da rainha Cassandra, ela lançou uma maldição: a rainha jamais poderia amar outro homem além de Lothus. Não satisfeita, a sacerdotisa arquitetou um plano para fazer Lothus desaparecer. Fes com que ele partisse em uma missão, missão essa que ele jamais retornou. Ela o matou, ceifando sua vida em um penhasco próximo às costas do reino.
Anya engoliu em seco. Cada palavra parecia um golpe, mas ela manteve os olhos fixos em Kikyo.
- E havia mais. A sacerdotisa planejava algo terrível: assim que o bebê de Cassandra nascesse, ela tomaria sua vida para destruir completamente a linhagem de Lothus. Mas, ao mesmo tempo, ela própria carregava uma parte de Lothus. Estava grávida. Quando o bebê nasceu, guerreiros do reino tomaram a criança, afastando-a para longe. Após isso, a sacerdotisa desapareceu. Alguns dizem que ela morreu; outros, que ainda vaga como uma sombra pelo reino amaldiçoado.
Kikyo virou-se para Anya, encarando-a com intensidade.
- Pelos registros deixados, o nome do reino era...
- Azuris. - completaram ambas em uníssono, a palavra carregada de um peso ancestral que parecia preencher todo o ambiente.
O silêncio que se seguiu era denso, repleto de revelações e incertezas. Anya sentia-se dividida entre medo e curiosidade, enquanto as palavras de Kikyo ecoavam em sua mente.
Indíce
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