Flores de Gelo: O império caído Capitulo 10 - Parte IV
1 ano atrás
Heather
O dia começava tranquilo, como qualquer outro na vila. O aroma das flores silvestres flutuava no ar, enquanto Heather e Lyra caminhavam entre as casas de madeira. Lyra carregava um pequeno cesto com ervas frescas que colheram na floresta, enquanto Heather, sempre sorridente, equilibrava outro cesto maior na cabeça, com frutas que haviam apanhado juntas.
— Você viu como a senhora Marla quase caiu ontem, tentando pegar o gato dela? —
Lyra comentou, rindo.
Heather riu alto, o som ecoando pelos campos. — Acho que o gato faz de propósito. Ele quer ser o centro das atenções!
Ambas riram com a piada, enquanto caminhavam pra vila. aoI chegar à clareira onde treinavam. Era um espaço isolado, cercado por árvores altas e coberto de grama macia. O sol filtrava-se pelos galhos, iluminando o chão como pequenos pontos de ouro.
Lyra fechou os olhos, concentrando-se. As folhas próximas começaram a se mexer suavemente, mesmo sem vento, e um ramo cresceu ao seu comando, enroscando-se na perna de Heather.
— Ah, isso é golpe baixo! — Heather exclamou, rindo, enquanto queimava o ramo com uma pequena chama que acendeu na ponta de seus dedos.
— Você tem que parar de depender tanto do fogo. — Lyra provocou.
— E você tem que aprender a ser menos lenta! — Heather respondeu, partindo para cima da amiga com uma bola de fogo controlada nas mãos.
As duas riram e treinaram juntas por horas, mesmo sabendo que seus elementos não eram compatíveis. Heather ajudava Lyra a aprimorar sua magia da natureza, enquanto a pequena bruxa retribuía ensinando a Heather paciência e precisão.
Quando o sol começou a se pôr, ambas deitaram na grama para descansar, observando o céu tingir-se de laranja. Lyra apontou para as nuvens.
— Olha, aquela parece um dragão!
Heather estreitou os olhos. — Isso parece mais um cavalo com asas.
— Você não tem imaginação, Heather, — Lyra riu, rolando na grama.
Quando a noite caiu, as duas se juntaram à fogueira central da vila. Os moradores cantavam canções antigas, e Lyra, sempre animada, puxou Heather para dançar. Apesar da relutância inicial, Heather acabou se rendendo.
Depois da festa, elas se recolheram na pequena casa que dividiam. Heather apagou a lamparina ao lado da cama e deitou-se ao lado de Lyra.
— Você acha que algum dia vamos sair daqui? — Lyra perguntou, com a voz baixa, encarando o teto.
Heather virou-se para ela. — Por que sairíamos? Temos tudo o que precisamos aqui.
— Mas o mundo lá fora... deve ser tão grande. Tão cheio de coisas novas.
Heather suspirou, fechando os olhos. — Um dia. Talvez.
Lyra sorriu e se aconchegou ao lado da amiga, adormecendo rapidamente.
Na manhã seguinte, o destino bateu à porta.
O som de cascos ecoava pela vila, acompanhado de vozes duras. Os moradores saíram de suas casas, alarmados, enquanto soldados marchavam até o centro do vilarejo.
Heather e Lyra estavam na clareira, treinando como de costume, quando ouviram o alvoroço. Elas correram de volta, mas o coração de Heather afundou ao ver o grupo de cavaleiros.
O líder desmontou do cavalo, tirando o elmo para revelar um rosto duro, marcado pela arrogância. Ele ergueu a voz. — Por ordem do rei do reino de fogo, viemos buscar uma oferenda. Uma jovem será levada para o castelo.
O desespero espalhou-se como fogo entre os moradores. Mães agarravam suas filhas, escondendo-as em suas casas, mas os soldados vasculhavam tudo com brutalidade.
Heather tentou esconder Lyra atrás de si. — Vocês não podem simplesmente aparecer e levar alguém como se fossem donos de tudo! — ela gritou, os olhos faiscando de raiva.
O cavaleiro a encarou com um misto de irritação e desdém. — Essas são ordens reais. Quem se opuser sofrerá as consequências.
Heather, porém, não recuou. — Não vão levar ninguém daqui. Não sem lutar.
— Heather, não! — Lyra sussurrou, segurando o braço dela.
Mas Heather já havia tomado sua decisão. Em um movimento rápido, ela lançou uma labareda de fogo contra os pés do líder, forçando-o a recuar. Os moradores se afastaram,
gritando, enquanto os soldados sacavam suas armas.
O combate foi intenso. Heather era rápida, desviando dos ataques e usando sua magia para se defender, mas o número de inimigos era esmagador. Mesmo assim, ela não parava.
— Vocês não vão levar a Lyra! — gritava, enquanto lutava.
Finalmente, o líder conseguiu segurá-la, pressionando uma lâmina contra seu pescoço.
—Vocês podem ter magia. — ele rosnou,
— mas ainda são apenas camponesas.
Heather ofegava, derrotada, enquanto via dois soldados arrastarem Lyra para longe.
— Por favor, não façam isso! — ela gritou, lutando contra o aperto do líder.
Lyra olhou para trás, lágrimas escorrendo por seu rosto. — Heather...
E então, ela foi levada.
Heather caiu de joelhos, observando enquanto a amiga desaparecia no horizonte.
A vila estava em silêncio. Ninguém ousava se aproximar. Heather sentiu o peso da culpa e da impotência esmagarem seu coração.
Naquela noite, enquanto as sombras se alongavam, ela encarou as brasas de uma fogueira apagada, sua mente fervendo. — Eu devia ter sido mais forte. Eu devia ter lutado mais.
E foi ali que ela jurou para si mesma: nunca mais deixaria alguém que amava ser levado dela.
Os dias após a partida de Lyra arrastaram-se em um ciclo doloroso de silêncio e ausência. Heather voltava à clareira onde treinavam, mas agora o som do vento entre as árvores era a única companhia. Ela tentava treinar sozinha, conjurando chamas que queimavam com intensidade quase furiosa, mas nada parecia suficiente.
As noites eram ainda piores. A cama ao lado da sua estava vazia, e o eco da última conversa com Lyra repetia-se em sua mente como uma melodia cruel.
— Você acha que algum dia vamos sair daqui? — Lyra perguntara, com um brilho de esperança nos olhos.
Heather já não conseguia responder.
No início, ela chorava. Tentava sufocar os soluços no travesseiro, mas a dor parecia transbordar. Com o passar das semanas, as lágrimas secaram, dando lugar a um vazio pesado e insuportável.
A vila também mudou. As pessoas evitavam falar do que aconteceu, como se ignorar o sacrifício pudesse aliviar a culpa. Heather sentia os olhares furtivos e ouvia os sussurros. Alguns a culpavam pela tragédia.
— Se não tivesse resistido, eles poderiam ter escolhido outra pessoa — diziam alguns.
Ela fingia que não ouvia, mas as palavras cravavam-se como espinhos em sua alma.
Com o tempo, Heather começou a se afastar. Parou de conversar com os vizinhos, evitava as reuniões na fogueira e deixava os risos e as canções para trás. O vermelho vibrante de seus vestidos foi substituído por roupas escuras e simples.
Ela ainda treinava, mas agora com um objetivo diferente: não se permitir ser fraca novamente. Suas chamas, antes brilhantes e cheias de vida, agora eram precisas, afiadas, como se refletissem sua determinação gelada.
Os meses se passaram, e o inverno chegou, trazendo consigo o silêncio da neve. Era em um desses dias frios que algo incomum aconteceu. A vila estava quieta quando uma figura familiar chegou.
Heather estava no campo, empilhando lenha para a fogueira, quando ouviu os sussurros dos moradores. Olhou por cima do ombro e viu a jovem de cabelos longos e ondulados se aproximando, trajando roupas simples.
Os olhos de Heather se estreitaram ao reconhecê-la. Aquela postura altiva, o andar firme, a presença marcante que contrastava com o ar humilde de suas roupas. Não havia dúvida.
— Anya — sussurrou para si mesma, a voz quase inaudível.
Indíce
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