Flores de Gelo: O império caído Capitulo 8 - Parte IX
Klaus e Finn avançavam lentamente pela floresta densa. A busca por Anya já durava dias, e cada passo parecia mais pesado que o anterior. O ar ao redor estava impregnado de um silêncio desconfortável, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas sob os pés deles.
— Isso está demorando demais — murmurou Klaus, com o cenho franzido. Ele empunhava sua faca, como se a qualquer momento algo pudesse saltar das sombras.
Finn, por outro lado, caminhava à frente, assobiando uma melodia animada. Ele olhou por cima do ombro e abriu um sorriso provocador.
— Você reclama como um velho, sabia? — disse ele, chutando uma pedra no caminho.
— E você age como uma criança. — Klaus lançou um olhar severo, mas não conseguiu disfarçar a pontinha de diversão em sua voz.
Finn deu de ombros, exagerando no gesto.
— Talvez seja por isso que fazemos uma boa dupla. Eu trago a diversão, você traz... bem, a seriedade.
Klaus revirou os olhos, mas continuou andando. Apesar da exasperação que Finn às vezes provocava, Klaus começava a apreciar a energia leve e descomplicada do garoto.
Pouco depois, chegaram a um rio de águas cristalinas. A correnteza era forte, e grandes pedras espalhavam-se pelo curso da água. Finn, sem hesitar, pulou na primeira pedra, equilibrando-se com agilidade.
— Vamos lá, Klaus! Não é tão difícil.
Klaus parou na margem, avaliando o caminho com cuidado.
— É fácil para você dizer isso. Suas pernas são feitas de molas?
— Não, mas talvez eu seja um pouco mais destemido que você. — Finn deu uma risadinha enquanto saltava para a próxima pedra.
Klaus ficou pensativo antes de atravessar o rio, mas logo seus pensamentos foram afastados por Finn.
— Se continuar pensando vai secar o rio. — Brincou Finn, e Klaus não evitou a soltar uma risadinha.
— Se continuar falando eu vou te jogar no rio. — Rebateu Klaus, com uma pontada de ironia.
— Vem logo!
Klaus bufou, mas começou a atravessar o rio, calculando cada passo com precisão. Ao alcançar Finn no outro lado, o garoto estava esperando com um sorriso vitorioso.
— Não foi tão ruim, certo?
— Se você não parar de sorrir, vai acabar no rio — rebateu Klaus, mas sua voz estava mais leve.
Eles continuaram a caminhada, com Finn constantemente tentando animar Klaus, seja contando histórias improváveis de aventuras passadas, seja apontando formas engraçadas nas árvores ao redor.
Quando finalmente alcançaram uma clareira, algo mudou. A atmosfera parecia carregada, como se a própria natureza segurasse a respiração. No centro da clareira, sob a luz suave do entardecer, estava Anya.
Ela parecia uma visão saída de um sonho, com os cabelos ondulados balançando ao vento e o vestido roxo envolvendo sua figura de maneira delicada. Seus olhos azuis brilhavam com uma mistura de alívio e nervosismo ao reconhecer Klaus.
Klaus congelou por um momento, incapaz de acreditar no que via. Então, deu um passo hesitante à frente, seguido por outro, até estar a poucos metros de Anya.
— Anya... — Sua voz estava rouca, como se toda a jornada tivesse drenado suas palavras.
Os olhos de Anya se encheram de lágrimas, e ela levou as mãos trêmulas ao rosto.
— Você... você veio me procurar?
Finn, sempre mais rápido, acenou com a cabeça e deu um sorriso caloroso.
— Claro que viemos. Alguém precisava te resgatar.
Anya olhou para o garoto confusa, se questionando quem era ele, mas logo o garoto respondeu.
— Sou Finn, amigo de Klaus.
— Prazer..
— Anya. — Os dois responderam em uníssono. — eu sei, Klaus não parava de falar de
você.
Klaus, no entanto, permaneceu sério. Ele estudava cada detalhe de Anya, como se quisesse gravar aquele momento para sempre.
— Por que você foi embora? — perguntou ele, sua voz carregada de emoção.
Anya não conseguiu responder de imediato. Suas lágrimas escorriam silenciosamente, e ela balançou a cabeça, como se não houvesse palavras suficientes para explicar.
— Eu... sinto muito — disse ela, finalmente, a voz quebrada. — Eu deveria ter contado a verdade. Sobre quem eu sou. Sobre o que sou.
Ela hesitou, mas continuou:
— Eu sou uma princesa, Klaus. E escondi isso de você.
O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade. Klaus deu mais um passo à frente, fechando a distância entre eles. Então, para a surpresa de Anya, ele a puxou para um abraço firme, segurando-a como se temesse perdê-la novamente.
— Você poderia ser uma rainha, uma camponesa ou qualquer coisa entre isso, Anya. Não importa para mim.
As palavras dele foram suficientes para que Anya desabasse em lágrimas. Ela se agarrou a ele, deixando escapar todo o peso que carregava.
— Eu descobri mais, Klaus, e não quero esconder isso de você — sussurrou ela, a voz trêmula. — Eu sou... uma bruxa.
Finn, que assistia tudo de longe, arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada, absorvendo as revelações em silêncio.
Klaus não se afastou, apenas segurou o rosto de Anya com gentileza, obrigando-a a olhar em seus olhos.
— Se isso é quem você é, então é parte de quem eu vim encontrar.
Anya sorriu, ainda entre lágrimas, e assentiu.
— Então, deixe-me mostrar o meu mundo. Venham comigo.
Ela os guiou para fora da clareira, rumo à vila escondida onde moravam suas amigas. O caminho era longo, mas pela primeira vez em muito tempo, Klaus sentia que estava exatamente onde deveria estar.
Anya guiava Klaus e Finn por um caminho estreito, ladeado por árvores tão altas que pareciam tocar o céu. A atmosfera ao redor era carregada de uma magia sutil; as folhas brilhavam com um leve tom prateado, e pequenos pontos de luz dançavam no ar, como vaga-lumes encantados.
Finn, que nunca conseguia ficar em silêncio por muito tempo, olhava ao redor com olhos arregalados.
— Isso aqui é incrível! Como é que vocês escondem um lugar assim?
— O encanto da floresta mantém a vila oculta — respondeu Anya, lançando um olhar suave a Finn. — Apenas aqueles que sabem o caminho ou têm boas intenções conseguem encontrá-la.
Klaus caminhava logo atrás, sua atenção dividida entre Anya e o ambiente ao redor. Ele podia sentir a magia no ar, uma presença quase palpável que parecia envolver o grupo.
Finalmente, chegaram a uma clareira maior. No centro dela, havia uma pequena vila com casas simples e acolhedoras, construídas em harmonia com a natureza. Havia flores crescendo nas janelas, árvores integradas às paredes das construções, e o som suave de água correndo por um riacho próximo.
— Bem-vindos à nossa casa — disse Anya, com um sorriso tímido.
À medida que entravam na vila, as amigas de Anya surgiram para recebê-los. Victórya foi a primeira a aparecer, vestindo seu macacão verde-escuro e com o cabelo volumoso brilhando sob a luz suave do lugar.
— Quem são esses? — perguntou ela, cruzando os braços e lançando um olhar curioso para Klaus e Finn.
— Este é Klaus, meu... amigo. E este é Finn — explicou Anya, hesitando um pouco ao descrever Klaus.
Victórya estudou Klaus com atenção, mas seu rosto se suavizou quando percebeu a seriedade dele.
— Um amigo, hein? Bem, se ele está com você, está conosco também. — Ela sorriu, estendendo a mão para Klaus.
— Obrigado — respondeu Klaus, apertando a mão dela com firmeza.
Pouco depois, Crystal surgiu, os cabelos brancos como neve e os olhos azul-claríssimos dando a ela uma aura quase etérea.
— Anya, você trouxe visitantes? — perguntou ela, sua voz calma e cheia de curiosidade.
— São amigos de confiança, Crystal. Eles nos ajudaram — respondeu Anya.
Crystal assentiu, mas manteve sua postura reservada.
Kikyo apareceu em seguida, a mais velha do grupo. Seus cabelos ruivos lisos brilhavam, e sua expressão serena parecia trazer uma calma natural ao ambiente.
— Bem-vindos. Espero que encontrem paz aqui, mesmo que apenas por um tempo.
Heather veio por último, seus cabelos castanhos presos em uma trança adornada com flores. Quando ela avistou Klaus, seus olhos se arregalaram em surpresa e um sorriso iluminou seu rosto.
— Klaus? É você?
Klaus virou-se para ela, confuso por um momento, mas logo reconheceu a amiga.
— Heather? O que você está fazendo aqui?
Ela correu até ele, segurando as mãos dele com entusiasmo.
— Eu é que deveria perguntar isso! Mas é tão bom ver você. Faz tanto tempo desde a última vez que nos vimos.
Finn observava a cena com curiosidade, enquanto Heather e Klaus trocavam cumprimentos calorosos.
— Você conhece ela, Klaus? — perguntou Finn, um pouco surpreso.
Klaus assentiu, esboçando um raro sorriso.
— Heather é uma amiga, paguei um espeto de peixe pra ela na última vez.
Heather riu, inclinando a cabeça.
— Oque faz aqui?
— Oque você! Faz aqui.
Heather hesitou, mas logo Anya disse que ele já sabia do segredo, então todas poderiam se sentir mais a vontades.
Anya observava a interação com um sorriso nos lábios, contente por ver uma conexão inesperada entre os dois.
Mais tarde, enquanto todos estavam reunidos ao redor de uma pequena fogueira, Klaus decidiu tocar no assunto que o atormentava desde que encontrara Anya.
— Sua mãe, Cassandra... Ela está desesperada. Colocou todos os guardas do reino para procurar você.
Anya ficou em silêncio por um momento, olhando para as chamas dançantes.
— Ela está preocupada. Eu entendo. Mas não posso voltar, Klaus.
Klaus inclinou-se para frente, sua voz firme, mas cheia de preocupação.
— Você sabe o quanto ela se importa com você. Por que não volta e explica tudo a ela?
Anya balançou a cabeça lentamente, os olhos ainda fixos no fogo.
— Meu lar não é mais o castelo, Klaus. É aqui. Com elas.
Havia um peso na voz de Anya, uma determinação que Klaus não pôde ignorar.
— E o que quer que eu diga a ela? — perguntou ele, frustrado. — Que simplesmente desisti de trazer você de volta?
Anya finalmente olhou para ele, seus olhos azuis cheios de tristeza.
— Quero que diga a ela que... que eu morri.
A declaração caiu como uma pedra no meio da conversa. Todos na fogueira ficaram em silêncio, chocados. Klaus ergueu-se de onde estava sentado, olhando para Anya como se não acreditasse no que ouvira.
— Você não pode estar falando sério.
— Estou — respondeu Anya, sua voz firme. — É a única maneira de libertá-la dessa busca. Se ela acreditar que estou morta, ela poderá seguir em frente.
Klaus deu um passo para trás, balançando a cabeça.
— Isso é loucura.
— Talvez seja — admitiu Anya, levantando-se para encará-lo. — Mas é o que eu preciso fazer.
Os dois ficaram em silêncio, encarando-se, até que finalmente Klaus suspirou e desviou
o olhar.
— E se eu não conseguir mentir para ela?
Anya colocou uma mão suave sobre o braço de Klaus.
— Você é forte, Klaus. Sei que pode fazer isso.
Ele olhou para ela novamente, lutando contra os próprios sentimentos. No fundo, sabia que não poderia forçá-la a voltar, mas aceitar aquela decisão era quase impossível.
Finn, observando a cena, finalmente interveio, sua voz mais séria do que o normal.
— Se essa é a escolha de Anya, então acho que cabe a nós respeitá-la.
Klaus não respondeu de imediato. Finalmente, ele assentiu, embora a dor fosse evidente em seus olhos.
— Eu vou levar a mensagem, Anya. Mas isso não significa que eu concorde com você.
Anya sorriu tristemente, mas havia gratidão em seus olhos.
— Obrigada, Klaus. — Disse Anya, e logo se aproximou dos ouvidos de Klaus. — E volte para mim. — Sussurrou.
A decisão estava tomada, e o destino de todos agora parecia ainda mais incerto.
Indíce
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