Flores de Gelo: O império caído Capitulo 14
Provando-se capaz
Provando-se capaz
O silêncio do campo vazio parecia gritar. Quando a luz do feitiço de Harya se dissipou, Heather, Victórya e Crystal reapareceram no mesmo lugar onde tudo havia começado. A sensação era confusa, como se um sonho terrível tivesse terminado, mas o ar ao redor ainda pesava. O chão estava marcado pelas cicatrizes da batalha: terra revolvida, árvores retorcidas e um cheiro metálico de magia que parecia impregnar tudo.
Klaus, ainda de joelhos ao lado de Finn, segurava o garoto como se sua própria vida dependesse disso. Finn estava inconsciente, sua respiração fraca e irregular. Heather foi a primeira a quebrar o silêncio, colocando as mãos na cintura enquanto tentava regular a própria respiração ofegante.
— Eu... eu fui jogada em um lugar horrível... — disse, a voz trêmula, quase um sussurro.
— Era um deserto negro, com uma criatura que parecia feita de puro ódio. Consegui vencê-la... mas... não foi fácil.
Victórya passou a mão pelo cabelo, ainda coberto de poeira e pequenos cortes.
— Eu também... o que quer que aquilo tenha sido, era um jogo psicológico. Tive que lutar contra algo que parecia saber cada fraqueza minha. Foi... terrível.
Crystal, ainda segurando o cajado, olhou para elas com os olhos fixos, quase vidrados.
— A minha luta... foi diferente. Estava em um lugar congelado, mas o frio não vinha de mim. Era da criatura que enfrentei. Foi a batalha mais difícil que já tive.
Heather estreitou os olhos, analisando a expressão delas.
— Isso não foi coincidência — declarou. — Era um feitiço. Um jogo de Harya, uma distração. Ela nos separou e testou cada uma de nós. Mas por quê?
Victórya franziu o cenho e, então, percebeu o óbvio:
— Anya. Ela levou a Anya.
A declaração caiu como uma pedra no peito de todos. Klaus levantou o rosto, os olhos arregalados.
— Como assim? — perguntou, a voz rouca e desesperada. — O que vocês estão dizendo? Ela... ela desapareceu? Não está aqui?
Crystal olhou ao redor, confirmando o pior: o campo estava vazio, exceto por eles.
— Não há mais sinal de Harya ou de Anya — Crystal murmurou, o tom carregado de preocupação. — Ela conseguiu o que queria. Era esse o plano o tempo todo.
O choque caiu sobre o grupo como uma onda fria. Klaus apertou os punhos, o rosto tomado pela frustração.
— Não pode ser. Não... Eu prometi protegê-la. — Sua voz tremeu, o desespero começando a tomar conta.
Victórya tocou o ombro dele, tentando transmitir algum tipo de força.
— Nós vamos encontrá-la, Klaus. Nós sempre encontramos. Ela é forte.
Heather olhou ao redor, impaciente, como se esperasse ver Anya surgir de algum canto, mas algo chamou sua atenção. Ela arregalou os olhos, a respiração parando por um instante.
— Esperem... — sussurrou. — Onde está Kikyo?
O ar pareceu congelar. Todos olharam ao redor, buscando a figura serena da anciã. Crystal foi a primeira a notá-la, seus olhos arregalados em um misto de horror e descrença.
— Ali... — apontou, a voz quase inaudível.
A poucos metros de distância, sob a sombra de uma árvore torta, estava Kikyo. Seu corpo estava caído, imóvel, com uma estranha serenidade. O vento agitava os cabelos ruivos dela, mas não havia sinal de vida.
Heather foi a primeira a correr até ela, caindo de joelhos ao lado da mulher.
— Kikyo! — gritou, sacudindo-a suavemente. — Ei, acorde... você venceu, não venceu? Você sempre vence...
Victórya e Crystal se aproximaram, os rostos tensos. Crystal ajoelhou-se ao lado de Heather, tocando o pulso de Kikyo. O olhar em seu rosto disse tudo.
— Ela se foi... — murmurou Crystal, a voz quebrada.
Heather negou com a cabeça, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Não, ela não pode... ela é Kikyo! Ela é a mais sábia de nós, a mais forte! Ela sempre sabe o que fazer!
Victórya colocou uma mão trêmula no ombro de Heather, os próprios olhos cheios de lágrimas.
— Ela... se sacrificou. Tenho certeza disso. Se ela não está aqui... é porque lutou até o fim.
Klaus, que havia ficado paralisado, se aproximou lentamente, carregando Finn nos braços. O peso da perda era evidente em seus olhos.
— Ela morreu para que vocês pudessem voltar — disse ele, sua voz baixa, mas cheia de gravidade. — Ela sabia que não havia outra forma.
Crystal apertou os punhos, o rosto contraído em dor.
— Não podemos deixá-la aqui — disse, com a voz trêmula. — Ela merece ser honrada.
O grupo ficou em silêncio, cercado pelo vento que carregava as folhas caídas pelo campo. Heather inclinou-se para perto de Kikyo, sussurrando com a voz entrecortada:
— Você disse... que sempre estaria aqui para nos guiar. Que nunca nos deixaria sozinhas.
O silêncio respondeu.
Victórya suspirou profundamente, enxugando as lágrimas.
— Harya levou Anya. Kikyo... deu a vida para que a gente tivesse uma chance de lutar por ela. Não podemos desperdiçar isso.
Klaus assentiu, seus olhos fixos no horizonte, mas a determinação crescendo.
— Vamos trazer Anya de volta. Por ela. Por Kikyo.
O grupo permaneceu ao redor do corpo da anciã por mais alguns instantes, absorvendo o peso da perda, antes de finalmente se prepararem para o próximo passo. Sabiam que a luta estava longe de terminar, mas a ausência de Kikyo pesaria em cada um deles.
A escuridão era sufocante. Anya abriu os olhos lentamente, o corpo preso, imóvel. Ao olhar ao redor, percebeu que estava suspensa em uma enorme árvore feita de sombras, com galhos retorcidos que pareciam pulsar como se fossem vivos. As raízes da árvore se estendiam para todos os lados, mergulhando em um solo negro que parecia consumir qualquer vestígio de luz. Os galhos a seguravam como correntes, envolvendo seus braços, pernas e torso, enquanto uma aura gélida envolvia o ambiente.
— Finalmente acordada, princesa. — A voz de Harya ecoou pelo vazio, ressoando com um tom de triunfo.
Anya tentou se mover, mas os galhos apertaram ainda mais, como se respondessem à sua vontade. Ela ergueu os olhos, encontrando a figura de Harya em pé diante dela, envolta por sua aura sombria. Harya parecia maior do que nunca, seus olhos brilhando com um malicioso tom rubro.
— Onde... onde estou? — perguntou Anya, a voz fraca, mas carregada de desafio.
Harya deu um passo à frente, um sorriso frio curvando seus lábios.
— Você está no coração das sombras, querida. Meu domínio. Aqui, não há luz, nem esperança. Apenas escuridão.
Anya apertou os punhos, tentando invocar sua magia, mas nada aconteceu. Sentiu o coração apertar, uma sensação de impotência começando a surgir.
— O que você quer de mim? — perguntou, a raiva crescendo em sua voz.
Harya inclinou a cabeça, os olhos brilhando com satisfação.
— Quero mostrar quem você realmente é, Anya. A garota ingênua que acha que pode salvar o mundo... ou a verdadeira herdeira do poder que corre em suas veias. Você acha que pode lutar contra o destino? — Ela riu, um som que parecia um trovão abafado. — Tudo isso... essa resistência... é inútil.
Anya estreitou os olhos, o olhar desafiador.
— Você não sabe nada sobre mim. Não sou como você.
Harya arqueou as sobrancelhas, caminhando lentamente ao redor da árvore.
— Não é? — provocou. — Você pode negar o quanto quiser, mas a escuridão está dentro de você, crescendo, esperando para ser libertada. Por quanto tempo você acha que pode mantê-la trancada?
Anya engoliu em seco, tentando manter a compostura.
— Eu nunca serei como você, Harya. Nunca.
A sombra sorriu ainda mais, os olhos fixos nela.
— Ah, querida, como você é adorável quando tenta ser forte. — Harya ergueu uma das mãos, e a árvore respondeu, apertando os galhos ao redor de Anya, fazendo-a gemer de dor. — Vamos ver quanto tempo essa determinação dura.
Anya sentiu a pressão nos braços e pernas aumentar, cada movimento se tornando impossível. Mesmo assim, seu olhar permanecia fixo em Harya, queimando com a chama de sua determinação.
— Você pode me prender, me machucar, mas nunca vai me quebrar.
Harya soltou uma risada baixa, quase admirada.
— Vamos ver, princesa... Vamos ver. — Ela estendeu a mão para o rosto de Anya, suas unhas negras brilhando como lâminas. — A escuridão é paciente. Ela sempre vence. E você será minha prova.
A árvore de sombras pulsou, a escuridão ao redor crescendo, enquanto Anya lutava contra o desespero, recusando-se a ceder. A batalha ainda não tinha terminado.
Indíce
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