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Flores de Gelo: O império caído

Capítulos 39

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Flores de Gelo: O império caído Capitulo 6 - Parte II

Um mês após o parto de Cassandra

O vento uivava pelas montanhas negras enquanto a lua, em seu esplendor prateado, lançava sua luz fria sobre o antigo santuário oculto. Dentro, um quarto sombrio pulsava com energia antiga. Velas negras tremeluziam, alimentadas por um fogo sobrenatural, enquanto murmúrios enigmáticos ecoavam pelas paredes de pedra.

A mulher deitada na cama, respirava com dificuldade, seu corpo tomado pelo esforço do parto. Suas feições delicadas estavam banhadas em suor, mas seus olhos permaneciam determinados, duas brasas que pareciam conter segredos milenares.

Era a Noiva das Sombras, a mulher cujo nome real havia sido esquecido por todos, exceto pelos sussurros das trevas: Harya.

As parteiras ao seu redor trabalhavam em silêncio, seguindo rituais que lhes foram ensinados desde a infância. Elas temiam olhar diretamente para ela, mas não podiam negar a imponência de sua presença, mesmo em um momento de vulnerabilidade.

Com um último grito, o choro da criança rompeu o silêncio. As velas pareceram tremer, como se reconhecessem a chegada de algo que não deveria existir entre os mortais. A Noiva ergueu a cabeça, sua expressão uma mistura de exaustão e triunfo, ao ver o bebê em seus braços.

— Morganna. — Ela sussurrou, o nome escapando de seus lábios como um encantamento.

A sala ficou mais fria. As sombras ao redor se curvaram, como se reverenciassem o pequeno ser em seus braços. Harya – um nome que ninguém ousaria pronunciar, mas que parecia ecoar nos próprios tijolos do santuário – sorriu. Ela sabia o destino que aguardava sua filha.

A luz da lua foi bloqueada momentaneamente por nuvens densas, e no instante seguinte, tudo voltou ao normal. Mas para a Noiva das Sombras, e para Morganna, o mundo nunca mais seria o mesmo.

Os portões do santuário se abriram com um estrondo, fazendo as velas tremeluzirem em

desespero. O som de passos ritmados encheu o ar. Guardas Azurianos, em suas armaduras de aço reluzente, invadiram o recinto. Suas lanças eram afiadas, mas seus olhos demonstravam hesitação. Eles estavam diante da Noiva das Sombras, uma lenda viva, cujo poder era tão temido quanto incompreendido.

Harya, ainda fraca pelo parto, levantou-se da cama com um esforço quase sobrenatural. Seus olhos, antes fatigados, agora brilhavam com uma fúria que parecia consumir as sombras ao seu redor. Ela envolveu o bebê em seus braços, sussurrando palavras de proteção, e encarou os soldados com uma determinação mortal.

— Vocês ousam profanar meu santuário? — Sua voz soou como um trovão, reverberando pelas paredes.

Os guardas hesitaram por um instante, mas o líder, um homem robusto e de feições endurecidas, ergueu sua espada. — Por ordem da Rainha de Azuris, estamos aqui para pegar o que você tomou . A criança deve ser levada.

Harya riu, mas não havia humor em sua voz. — Cassandra. — Murmurou.

Com um gesto rápido, ergueu uma das mãos e murmurou palavras arcanas. As sombras ao seu redor ganharam vida, se lançando contra os guardas como serpentes negras.
Gritos ecoaram quando os primeiros soldados caíram, mas os demais avançaram com força.

Ela lutou com todas as suas forças, conjurando tempestades de escuridão e lanças de energia que rasgavam o ar. O santuário se transformou em um campo de batalha, com magia colidindo contra aço. Porém, Harya estava enfraquecida pelo parto. Seus movimentos começaram a vacilar, e os guardas, aproveitando-se de sua fraqueza, a cercaram.

Um golpe certeiro desarmou Harya, e outro a empurrou contra o chão. Seu grito ecoou como um lamento eterno, enquanto o líder dos guardas pegava o bebê de seus braços. Morganna chorava, mas o som foi abafado pelas ordens severas do comandante.

— Levemos a criança. A rainha Cassandra a espera.

Harya tentou se erguer, mas uma lança apontada para seu peito a manteve no chão. Com lágrimas nos olhos, ela gritou em desespero: — Morganna! Você é minha filha! Ninguém pode tirá-la de mim!

Os guardas partiram, suas fileiras se movendo como uma muralha implacável, deixando Harya sozinha no santuário destruído. As sombras que antes a obedeciam se dissiparam, deixando o ambiente frio e vazio.

Em um último golpe, Harya gritou, liberando uma densa onda de trevas que por sua vez, ceifou a vida de todos os guardas, exceto um, Maxwell, que carregava firmemente o bebê no colo.

Na manhã seguinte, no palácio de Azuris, a rainha Cassandra recebeu o bebê nos braços. Seus olhos castanho-escuros brilharam com uma emoção que ela não sabia que ainda possuía.

— Anya — ela sussurrou, batizando a criança com um novo nome, apagando o passado de Morganna. — Você será minha filha. E, um dia, será uma princesa digna deste reino.

Os criados aplaudiram discretamente enquanto Cassandra sorria, mas em algum lugar, nas montanhas negras, Harya tramava sua vingança.

Todos pensavam que Anya era seu bebê, exceto três pessoas. Maxwell, a criada Sofia, e a parteira, Haledi.

A sala estava quase vazia, com exceção de Cassandra e os três convocados. As tochas lançavam sombras trêmulas pelas paredes de pedra, refletindo o ar de tensão que pairava no ambiente. Haledi estava sentada de maneira desconfortável, esfregando nervosamente as mãos no avental. Maxwell mantinha os braços cruzados, o maxilar apertado, enquanto Sofia observava Cassandra com uma mistura de apreensão e curiosidade.

Cassandra, de pé diante deles, exalava autoridade. Seus olhos castanhos-escuros, geralmente calorosos, estavam frios como o aço. Sua postura era impecável, os dedos segurando a taça de vinho com firmeza.

— Espero que saibam por que estão aqui. — Sua voz ecoou pela sala, firme e cortante como uma lâmina.

Ninguém respondeu de imediato. Haledi baixou a cabeça, Maxwell arqueou uma sobrancelha e Sofia, ainda jovem, desviou o olhar.

— O segredo da princesa Anya deve permanecer exatamente como está: enterrado. Se alguém souber que ela... — Cassandra fez uma pausa, medindo suas palavras com cuidado — …é a filha da mulher que matou meu bebê, será o fim não apenas para vocês, mas para quem vocês contarem.

Maxwell, sempre ousado, inclinou-se para frente. — E se já houver quem saiba? Não somos os únicos que vimos o que aconteceu.

— Se há rumores, eles serão silenciados. — Cassandra colocou a taça na mesa com um movimento calmo, mas perigoso. — Mas vocês, que estão aqui, têm a responsabilidade de proteger este segredo a qualquer custo.

Haledi finalmente encontrou coragem para falar, sua voz trêmula: — Eu nunca diria nada, minha senhora. Nunca.

— Espero que não. — Cassandra inclinou-se para mais perto dela, sua voz baixa e ameaçadora. — Porque se esse segredo for revelado e a origem for um de vocês, não hesitarei em tirar suas vidas com minhas próprias mãos.

O silêncio que seguiu foi absoluto. Haledi parecia prestes a desmaiar. Maxwell encarou Cassandra com uma expressão que oscilava entre raiva e respeito, enquanto Sofia apenas assentiu, os olhos arregalados.

Cassandra endireitou-se, ajustando o vestido vinho com elegância. — Estamos entendidos?

Um por um, os três balançaram a cabeça em concordância, sem ousar contradizê-la.

— Ótimo. — Ela voltou a segurar a taça e virou-se, deixando a sala com passos firmes. As sombras dançavam atrás dela, como se a própria sala reconhecesse sua autoridade.


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