Flores de Gelo: O império caído Capitulo 5 - Parte IV
Anya finalmente decidiu voltar para dentro da cabana. Precisava entender melhor suas habilidades de bruxa, especialmente depois de ter atacado Peter de maneira tão sobre-humana.
Ao entrar, deparou-se com Heather sentada na cama ao lado de Kikyo. Os cabelos castanhos da amiga estavam presos em uma trança volumosa e adornados com margaridas espalhadas pelos vãos das mechas. O visual, delicado e natural, contrastava com as roupas que Heather usava. Dessa vez, o vestido habitual dera lugar a uma longa saia vermelha e uma camisa branca. Os pés, descalços, acompanhavam a simplicidade da cena, assim como os de todas ali presentes.
— Por que andamos descalças? — perguntou Anya, hesitante, enquanto adentrava o espaço timidamente.
— É melhor assim. Nossa magia se conecta com a natureza através da terra. — explicou Kikyo, com a serenidade que lhe era característica.
Anya respirou fundo antes de fazer a próxima pergunta. Eram palavras que nunca
imaginou sair de sua própria boca.
— Falando em magia... você pode me explicar mais sobre ela e o mundo mágico?
Aceitar sua nova realidade ainda era algo que soava surreal, mas os acontecimentos recentes não lhe davam escolha.
— Claro, sente-se aqui. — Kikyo bateu suavemente no espaço ao seu lado, no colchão. Assim que Anya se acomodou, a mais velha começou a explicar: — Existem cinco tipos de bruxas.
— Quais são? — Anya inclinou-se para frente, o interesse evidente em seu rosto.
— Bruxas candescentes, fosforescentes, aquorescentes, troporescentes e bruxas de cripta. — enumerou Kikyo.
— E o que cada uma faz? — questionou Anya, aproximando-se ainda mais.
— Bruxas candescentes têm domínio sobre o calor: controlam luz, fogo e vapor. As fosforescentes, por sua vez, conectam-se à vida e à natureza, sendo capazes de manipular o ar, os animais, os raios e, em alguns casos, até a necromancia. Já as aquorescentes têm como aliados as águas, o gelo, as nuvens e a lua.
Anya, impaciente, interrompeu: — E qual delas eu sou?
Percebendo sua interrupção, mordeu o lábio inferior, constrangida. Kikyo apenas riu suavemente e respondeu com gentileza:
— Calma, pequena. Estou quase lá. — Depois de um breve sorriso, continuou: — As bruxas troporescentes têm habilidades mentais extraordinárias: podem mudar de forma, tornar-se invisíveis ou manipular pensamentos. Por fim, as mais temidas, as bruxas de cripta. Assim como a Noiva das Sombras, elas controlam maldições e sombras, fazendo com que suas vítimas revivam seus piores pesadelos.
Os olhos de Anya estavam fixos nos de Kikyo, absorvendo cada palavra. Depois de um momento de silêncio, ela perguntou:
— Como faço para descobrir quem eu sou?
— Eu te ensinarei tudo o que sei. — garantiu Kikyo.
— Então, por favor, me ensine. Eu quero aprender a ser uma bruxa! — exclamou Anya, empolgada.
Heather, que até então apenas observava a conversa, decidiu intervir:
— Anya... você não pretende voltar para o castelo? — O tom cauteloso em sua voz carregava preocupação.
Anya suspirou, desviando o olhar. — Por que eu voltaria? Perdi tudo lá. Descobri que nem princesa eu sou. O único motivo para ficar era Klaus...
Heather arqueou as sobrancelhas. — E por que não quer mais? — insistiu.
— Peter contou tudo antes que eu pudesse. — murmurou Anya, arrastando os dedos pelo próprio cotovelo. Sua expressão desanimada era um reflexo do turbilhão interno.
— O que esse cretino fez? — Heather perguntou, com o tom já carregado de raiva. Ao perceber o olhar melancólico da amiga, continuou, cerrando os punhos: — Esse esnobe mimado já passou dos limites. — Declarando isso, levantou-se decidida e saiu da cabana.
— Heather! O que vai fazer? — gritou Anya, correndo atrás dela.
— Colocar esse mimado em seu devido lugar. — respondeu Heather sem hesitar.
De repente, uma cortina de fogo envolveu Heather, que desapareceu diante dos olhos atônitos de Anya.
No castelo de Azuris, Heather reapareceu. Com um leve rodopio, o fogo que a envolvia transformou suas roupas, fazendo-a assumir seu traje real. Ao tentar entrar, foi imediatamente abordada pelos guardas.
— Quem é você? — perguntou um deles, desconfiado.
Heather ajeitou-se com imponência. — Sou Heather, princesa de Carmesins.
Os guardas hesitaram, mas insistiram: — E o que veio fazer aqui?
Heather revirou os olhos. — Estou aqui para visitar a rainha e saber como ela está. —
respondeu com certo desdém, mas ao perceber que as perguntas continuariam,
interrompeu: — Chega! Perguntas demais. — Com um gesto rápido, desmaiou os dois guardas.
Dentro do castelo, Heather dirigiu-se até a sala do trono, mas não encontrou Peter. Cerrando os punhos, murmurou: — O miserável deve ter voltado para seu reino.
Ao aproximar-se do trono, viu a rainha Cassandra segurando uma carta. Sem ser notada, Heather escondeu-se atrás do trono e observou a soberana. Cassandra enxugava discretamente as lágrimas enquanto lia as palavras escritas ali. O nome na assinatura chamou a atenção de Heather: Lothus.
Quando a rainha deixou a sala, Heather não resistiu e pegou a carta. Ao lê-la, sentiu o coração apertar.
Meu amor eterno,
Enquanto escrevo estas palavras, meu coração palpita com uma mistura de amor e ansiedade. Estou longe de você, em uma missão que pode me levar para longe de seus braços queridos.
Cassandra, você é a luz que ilumina minha alma. Sua presença é o oxigênio que eu respiro. Sem você, tudo parece vazio e sem sentido.
O medo de não voltar a ver seu sorriso, seus olhos brilhantes e sua pele macia me consome. Mas é o amor que me dá forças para continuar. Sei que, enquanto você estiver esperando por mim, terei a coragem para superar qualquer desafio.
Lembre-se de que você é minha razão de ser. Você é o sol que brilha em meu céu. Eu
prometo que voltarei para você, com histórias para contar e o coração cheio de amor.
Aguardarei ansiosamente o dia em que poderei abraçá-la novamente. Até lá, carregarei você em meu coração.
Seu para sempre, Lothus.
Depois de terminar a leitura, Heather, emocionada, apertou a carta contra o peito, mas não deixou que isso esfriasse sua raiva. Determinada, partiu para Heráclion, pronta para confrontar Peter.
Ao chegar lá, deu logo de cara com Peter, e, encontrou-o... AGREDINDO ROSE? Ele chicoteava a pequena com galhos de árvores, e a única coisa que Rose fazia era chorar. Em Heather? O ódio a consumiu. Num instante, surgiu atrás dele e o enforcou.
— Quem você pensa que é para bater em uma criança, seu cretino?! — rugiu Heather, apertando ainda mais. — Sai daqui, pequena. — ordenou para Rose, que obedeceu imediatamente.
Heather jogou Peter ao chão e, sentando-se sobre ele, desferiu socos até ver sangue. Não parou até se sentir satisfeita.
— Isso é pela Anya! — gritou, socando-o novamente. — Isso é pela Rose! — outro golpe.
— E esse... Esse é por mim. — Com um soco final, Peter desmaiou.
Respirando fundo, Heather ergueu-se, e voltou para aldeia. Ela foi para a cachoeira, para
limpar suas maNchas de sangue, e acalmar sua alma.
Indíce
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!