Flores de Gelo: O império caído Capitulo 12 - Parte III
Atmosfera ao redor da capela estava pesada, quase sufocante. As sinetas, antes tocadas em celebrações de alegria, agora pareciam ecoar com tons de desespero. Klaus e os outros correram pelas ruas de Azuris, seus corações acelerados e mentes inquietas. O movimento intenso na capela só podia significar uma coisa: o casamento estava acontecendo.
Klaus apertou o punho, sua mente invadida pela imagem de Anya em prantos, forçada a se unir a alguém que ela desprezava. Finn, ao seu lado, tentou acompanhar o ritmo, ofegando.
— Temos que chegar antes que seja tarde demais! — disse Finn, seus olhos arregalados de preocupação.
Heather liderava o grupo, com determinação queimando em seus olhos escuros. Ao seu lado, Crystal e Victórya preparavam suas energias, enquanto Kikyo mantinha a calma, sua mente já antecipando o que viria.
Quando chegaram à entrada da capela, as portas imponentes estavam abertas, revelando o grande salão decorado com excessos de branco e dourado. A multidão enchia os bancos, vestida com suas melhores roupas. O murmúrio das vozes cessou assim que eles cruzaram o limiar, mas o que realmente os fez parar foi a cena no altar.
Anya estava lá.
Ela usava um vestido branco exuberante, com uma longa cauda que parecia brilhar à luz dos candelabros. Seus cabelos estavam presos de forma elegante, mas seus olhos estavam repletos de lágrimas, o rosto pálido e tenso. Ao seu lado, Peter vestia um terno branco perfeitamente alinhado, sua expressão um misto de satisfação e triunfo. O sorriso malicioso em seus lábios denunciava que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Klaus sentiu o sangue ferver. O desejo de arrancar Peter do altar o consumia, mas ele sabia que precisavam agir com cuidado. Heather, no entanto, não parecia tão inclinada a esperar.
— Ele realmente teve a audácia... — Heather murmurou, sua voz gotejando raiva.
O sacerdote, um homem idoso e sério, estava no centro do altar, prestes a finalizar os votos. Ele ergueu a mão, chamando a atenção de todos.
— Se alguém tiver algo contra esta união, fale agora ou cale-se para sempre.
Foi nesse momento que Klaus, Finn, Heather, Crystal, Victórya e Kikyo avançaram para dentro da capela. Unidos, ergueram as vozes com força e convicção.
— EU PROTESTO!
O grito uníssono ecoou pelo salão, parando a cerimônia como um raio. Todos os olhares se voltaram para o grupo na entrada, e o silêncio foi rapidamente substituído por murmúrios frenéticos da multidão.
Peter girou a cabeça em direção ao protesto, seu sorriso desaparecendo, substituído por uma expressão de irritação. Anya, ao ouvir aquelas vozes familiares, ergueu os olhos lacrimejantes, uma centelha de esperança piscando por um breve instante.
— Quem ousa interromper este casamento?! — Peter rugiu, dando um passo à frente, o rosto contorcido de raiva.
O sacerdote ergueu a mão para acalmar a situação.
— Por que protestam? Qual a justificativa para impedir esta união?
Antes que qualquer um pudesse responder, Cassandra, que estava sentada no banco mais próximo ao altar, se levantou. Seus olhos eram duas brasas de fúria contida.
— Guardas! Prendam esses intrusos! — ordenou ela, apontando para o grupo.
Os soldados, que já estavam em alerta desde a entrada barulhenta do grupo, começaram a avançar. O clangor de suas armaduras ecoava pela capela, misturando-se com os murmúrios ansiosos da multidão.
Heather trocou um olhar com as outras bruxas. Não havia mais espaço para hesitação. Ela ergueu o queixo com um ar desafiador, e em um movimento fluido, abriu as mãos. Uma chama intensa surgiu entre seus dedos, iluminando o ambiente e fazendo com que todos recuassem em choque.
— Está na hora de vocês conhecerem quem realmente somos. — disse Heather, com um sorriso desafiador.
Crystal avançou ao lado dela, seus olhos brilhando em azul glacial. Um redemoinho de água começou a surgir ao seu redor, ameaçando explodir a qualquer momento. Victórya fez o chão tremer levemente, rachaduras surgindo sob os pés dos soldados. Kikyo, serena como sempre, estendeu os braços, e uma ventania tomou conta do local, apagando algumas velas e causando um caos imediato.
A multidão gritou em pânico, enquanto os guardas hesitavam, suas armas tremendo em mãos trêmulas. Peter deu um passo atrás, mas sua expressão logo se transformou em um sorriso cínico.
— Então... bruxas. — Ele murmurou, quase divertido. — Isso vai ser interessante.
Klaus, ignorando a comoção ao seu redor, gritou em direção ao altar.
— Anya! Aguente firme, estamos aqui por você!
Anya, com as lágrimas agora correndo livremente, deu um passo para trás, mas os olhares furiosos de Cassandra e Peter a mantiveram presa no lugar.
O caos havia tomado conta da capela. Enquanto os murmúrios ansiosos da multidão enchiam o ar e as bruxas começavam a exibir seus poderes, Anya, desesperada, viu sua chance de escapar. A confusão era sua única oportunidade. Seu coração batia acelerado, e com um movimento hesitante, ela tentou dar alguns passos para trás, buscando uma rota de fuga pelo altar.
O vestido volumoso dificultava seus movimentos, mas Anya reuniu toda a coragem que possuía e se virou para correr. Porém, antes que pudesse dar mais do que dois passos, uma mão firme e fria agarrou seu pulso, imobilizando-a no mesmo instante.
— Onde pensa que vai, minha querida? — Cassandra sussurrou, sua voz fria como o inverno, perfurando o barulho ao redor.
Anya paralisou, sentindo o peso daquela voz como uma corrente pesada ao redor de seus pés. Ela virou a cabeça devagar, encontrando o olhar de Cassandra. A mãe estava séria, sem um traço de emoção visível em seu rosto, mas havia algo em seus olhos que fazia o sangue de Anya gelar.
— Você acha que pode simplesmente fugir? — Cassandra continuou, sua voz baixa, mas tão carregada de autoridade que cada palavra parecia uma lâmina. — Acha que seus amigos salvarão o dia e tudo ficará bem?
Anya tentou puxar o braço, mas o aperto de Cassandra apenas ficou mais forte. Antes que pudesse protestar, Cassandra se inclinou levemente, aproximando os lábios de seu ouvido.
— Maxwell e Haledi são seus amigos, não são? — sussurrou ela, suas palavras cheias de um veneno silencioso.
O coração de Anya parou por um instante.
— Você acha que está ajudando eles, mas deixe-me contar um segredo. — Cassandra fez uma pausa, sua voz quase doce, mas carregada de ameaça. — Dois dos meus guardas estão estacionados à porta do seu quarto. Eles estão prontos para matá-los... caso você faça algo que me desagrade.
— Não... — A palavra escapou dos lábios de Anya como um sussurro frágil, quase inaudível.
— Ah, sim, querida. — Cassandra deu um sorriso frio, apertando o pulso de Anya ainda mais. — Então, seja uma boa menina, sorria, e faça o que esperam de você. Ou terá mais sangue nas mãos do que pode imaginar.
O corpo de Anya tremeu. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto olhava para o fundo da capela, onde Klaus, Finn e as bruxas tentavam avançar. Eles estavam ali por ela, para resgatá-la. Mas como ela poderia deixar que Maxwell e Haledi pagassem o preço por sua liberdade?
Ela voltou os olhos para Klaus, que a encarava com uma determinação inabalável. Ele parecia pronto para enfrentar o mundo por ela. Mas Anya sabia que, para Cassandra, o mundo era apenas mais uma peça em seu tabuleiro.
Peter, que observava tudo ao lado do altar, percebeu a hesitação de Anya e deu um passo à frente, rindo baixinho, como se saboreasse a cena.
— Parece que nossa noiva entendeu a situação. — Ele disse, com aquele sorriso malicioso que fazia Anya estremecer.
Ela baixou a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Cassandra soltou o pulso dela devagar, satisfeita com a submissão da filha, e ajeitou uma mecha de seu cabelo com um gesto delicado.
— Agora, querida — Cassandra sussurrou, em um tom que beirava a doçura venenosa
—, sorria. Afinal, você está prestes a se casar.
E então, o silêncio opressor foi quebrado quando as bruxas, ao fundo da capela, começaram a concentrar sua energia. As chamas nas mãos de Heather aumentaram, o redemoinho ao redor de Crystal se intensificou, e Klaus, avançando com raiva, estava pronto para lutar contra tudo e todos para salvar Anya.
Mas a batalha ainda estava por começar.
O caos da capela foi engolido por um silêncio estranho e repentino. As chamas das velas tremeram por um instante e, então, apagaram-se de uma só vez. O mesmo aconteceu com as magias ao fundo, deixando até mesmo Heather e Crystal desorientadas. A luz natural que vinha dos vitrais foi subitamente bloqueada, como se a própria escuridão tivesse tomado forma e estivesse engolindo tudo ao redor.
Sussurros nervosos surgiram entre a multidão, mas logo foram abafados quando o chão começou a vibrar levemente, uma pulsação crescente que parecia se aproximar do altar.
Anya olhou ao redor, o coração disparado, enquanto as sombras nas paredes cresciam e se contorciam como se tivessem vontade própria. A escuridão parecia ganhar peso, um manto sufocante que cobria a capela. Então, uma voz grave, poderosa e irada ecoou pelo espaço, reverberando como trovões entre as colunas.
— SOLTEM MINHA FILHA!
O som fez o próprio chão da capela tremer, e os vitrais vibraram, como se estivessem prestes a se despedaçar. Os presentes ficaram paralisados, atônitos, incapazes de processar o que estavam ouvindo. Cassandra girou a cabeça abruptamente em direção ao som, e pela primeira vez, um brilho de incerteza cruzou seu rosto.
— Como assim, sua filha? — Cassandra rebateu, sua voz firme, mas traída por um leve tremor.
Das sombras que se arrastavam pelo chão, uma figura começou a emergir. Alta, imponente, envolta em um manto negro que parecia vivo, com tentáculos de pura escuridão dançando ao seu redor. Seus olhos brilhavam como duas luas sombrias, irradiando poder. Era Harya, a Noiva das Sombras, e sua presença fazia o ar parecer mais denso, sufocante.
— Eu falei — respondeu a figura, com um tom de desprezo. — Minha filha. Anya nunca foi sua.
A capela inteira ficou em um frenesi de murmúrios, as pessoas sussurrando “Como assim?” e “O que está acontecendo?” enquanto a tensão crescia. Anya, ainda no altar, olhou para a figura com olhos arregalados, incapaz de processar o que estava ouvindo.
— Isso é um absurdo! — Cassandra rebateu, erguendo o queixo. — Ela é minha filha! Eu a criei, eu...
— Criou? — Harya interrompeu com uma risada fria que ecoou pela capela. — Você a usou, Cassandra. Usou como uma peça em seu jogo medíocre. Mas ela é minha. Sempre foi minha.
Peter, que ainda estava ao lado de Anya, estreitou os olhos, tentando manter a postura.
— O que você quer dizer com isso? Ela é filha de Cassandra e Lothus, a herdeira legítima do reino! Você não pode simplesmente...
— Não.. — Harya riu maléficamente. — A verdadeira filha, ou devo dizer, o verdadeiro filho de Cassandra. — Riu novamente, fazendo uma pausa dramática. — Esse eu matei com minhas próprias mãos.
Os murmúrios no salão agora eram inevitáveis, todos incrédulos com oque estava acontecendo.
— Você... Matou meu bebê, meu Kael! — Gritou Cassandra com a voz trêmula.
— Não só ele como Lothus, ou você achou que ele morreu por acidente? — Harya riu, e o som da sua gargalhada reverberou pelo salão inteiro.
— Sua vagabun—
Harya levantou a mão, e os tentáculos sombrios reagiram instantaneamente, atravessando o espaço com uma velocidade aterrorizante. Antes que Cassandra pudesse reagir, um tentáculo enrolou-se ao redor de seu pescoço, levantando-a do chão. Outro fez o mesmo com Peter, silenciando-o no mesmo instante.
Os dois tentaram lutar, mas o poder de Harya era esmagador. Cassandra se debatia, mas seu rosto começava a perder a cor enquanto era erguida mais alto. Peter, por sua vez, tentava alcançar algo com as mãos, mas seu sorriso malicioso desaparecera completamente.
— Cansei de suas mentiras e manipulações, Cassandra. — A voz de Harya era gelada, cortante, enquanto ela apertava os tentáculos.
Ela então se virou para Anya, que ainda estava congelada no altar, e seu rosto suavizou levemente.
— Anya, minha pequena... — começou, mas antes que pudesse continuar, um novo murmúrio ecoou da multidão.
Heather, Crystal, Victórya e Kikyo, que estavam mais afastadas, tentaram avançar, mas outros tentáculos apareceram, erguendo-as gentilmente, sem causar dor. Klaus e Finn também foram apanhados, embora Klaus tenha tentado lutar até o último segundo.
— O que está fazendo? — gritou Klaus, sua voz cheia de determinação. — Solte-a!
Harya apenas o olhou de relance, sem dar importância às palavras do rapaz.
— Vocês vêm comigo. — declarou, e os tentáculos começaram a erguer todos do altar, ignorando os gritos do público.
As sombras ao redor começaram a se agitar, engolindo mais e mais da capela, até que todo o espaço parecia um vácuo sombrio. E, então, como se levados pelo próprio vento da noite, Harya e seus prisioneiros desapareceram no ar, deixando para trás um silêncio mortal.
Enquanto isso, no quarto de Anya
Maxwell e Haledi estavam sentados no chão, amarrados, mas claramente alertas. O silêncio da capela havia chegado até eles como um prenúncio de algo terrível.
— Isso não é normal. — Maxwell sussurrou, franzindo a testa. — Essas vibrações...
— Magia negra. — Haledi respondeu, sua voz baixa, mas carregada de certeza. Ela ergueu os olhos, como se estivesse sentindo algo além do que os sentidos podiam captar. — Reconheço essa presença. É antiga... e poderosa.
— E perigosa? — Maxwell perguntou, tentando não soar tão nervoso quanto se sentia.
Haledi olhou para ele por um momento antes de responder, sua expressão grave.
— Muito.
Indíce
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