Flores de Gelo: O império caído Capitulo 9
Um novo começo
Um novo começo
A noite avançava lentamente na vila encantada, e as estrelas brilhavam mais intensamente acima deles, como se quisessem iluminar o caminho em meio às incertezas. A fogueira crepitava suavemente, lançando sombras dançantes nas expressões dos presentes.
Klaus permanecia em silêncio, perdido em pensamentos. As palavras de Anya ainda ecoavam em sua mente, e o peso da responsabilidade que ela acabara de lhe confiar parecia esmagador. Ele olhou para o fogo, como se buscasse respostas nas chamas, mas encontrou apenas dúvidas.
Finn, por outro lado, já se sentia em casa. Ele brincava com uma vareta, desenhando formas na terra, enquanto ocasionalmente lançava olhares curiosos para Victórya, que o observava com uma mistura de desconfiança e interesse.
— Então, você é amigo de Klaus? — perguntou ela, inclinando-se um pouco para frente, analisando o garoto.
Finn ergueu os olhos e sorriu de um jeito que parecia estar sempre pronto para a aventura.
— Mais ou menos. Eu diria que sou a parte divertida da dupla.
Victórya arqueou uma sobrancelha, intrigada.
— E ele concordaria com isso?
— Provavelmente não, mas é por isso que funciona. — Ele deu de ombros, com um sorriso despreocupado.
Crystal, que estava sentada um pouco afastada, observava Klaus atentamente. A expressão séria dele não passou despercebida. Ela se aproximou devagar, sentando-se ao lado dele sem dizer uma palavra.
— Você está lutando contra algo — comentou ela, sua voz baixa, mas firme.
Klaus olhou para ela, surpreso com a percepção.
— Estou tentando entender se estou fazendo a coisa certa.
Crystal inclinou a cabeça, analisando-o com seus olhos azul-claríssimos.
— Não há uma resposta fácil para isso. Mas, às vezes, o certo não é aquilo que nos conforta, e sim o que nos desafia.
As palavras dela pairaram no ar, carregadas de sabedoria. Klaus assentiu lentamente, absorvendo o significado.
Enquanto isso, Anya estava com Kikyo, afastada do grupo. A anciã segurava as mãos da
jovem princesa, os olhos verdes fixos nos dela.
— Você está certa de sua decisão, Anya? — perguntou Kikyo, a voz suave, mas cheia de gravidade.
Anya respirou fundo antes de responder.
— Não posso voltar, Kikyo. Não agora. Preciso proteger a todos.
A mais velha apertou as mãos dela com mais força.
— Você é mais forte do que pensa, mas precisa ter certeza de que isso não é apenas um fardo que está assumindo por culpa.
Anya desviou o olhar, mas não respondeu. A dúvida em seus olhos era clara, e Kikyo percebeu.
— Lembre-se, Anya, você tem aliados agora. Não precisa carregar o mundo sozinha.
Anya assentiu, mas a inquietação continuava a habitar seu coração.
Quando a fogueira começou a diminuir, o grupo se recolheu para descansar. Klaus, no entanto, não conseguiu dormir. Ele se afastou da vila, caminhando até o riacho próximo. O som da água corrente trouxe um pouco de alívio à sua mente turbulenta.
Ele não ouviu os passos leves de Anya até que ela estava ao seu lado.
— Não consegue dormir? — perguntou ela, a voz suave.
Klaus balançou a cabeça, sem tirar os olhos do riacho.
— Não consigo parar de pensar.
Anya se aproximou, abraçando os próprios braços contra o frio da noite.
— Eu também não.
Houve um silêncio confortável entre os dois antes de Klaus finalmente se virar para ela.
— Você confia em mim para levar essa mensagem, mas e depois? O que acontece conosco?
Anya o encarou, os olhos azuis brilhando sob a luz da lua.
— Depois... nós encontramos nosso próprio caminho. Juntos, eu espero.
Klaus não respondeu de imediato. Em vez disso, ele ergueu a mão e tocou levemente o rosto dela.
— Eu prometo que vou voltar, Anya. Mas você precisa prometer que vai ficar segura.
Ela assentiu, as lágrimas ameaçando cair novamente.
— Eu prometo.
Com aquele momento de compreensão silenciosa, eles finalmente se afastaram para se preparar para o dia seguinte. Havia uma longa jornada pela frente, tanto para Klaus quanto para Anya, e o destino parecia mais incerto do que nunca.
Anya deu um passo para trás, seus dedos tocando o fio solto de seu cabelo preso, enquanto a brisa da noite brincava com as mechas rebeldes. Ela sabia que precisava descansar, mas algo dentro dela a impedia de seguir adiante. Era como se o próprio ar carregasse um peso invisível, puxando-a para um lugar entre o agora e o desconhecido.
Klaus a observava, os olhos fixos na silhueta delicada dela, moldada pela luz prateada da lua. O peito dele apertava como se cada batida fosse um lembrete do que estava em jogo. Era um sentimento inquietante, como se o tempo estivesse fugindo, levando consigo algo precioso demais para perder.
— Anya! — ele chamou, sua voz baixa, mas vibrante, carregando uma urgência impossível de ignorar.
Ela parou no mesmo instante. O som do nome dela, dito por ele daquele jeito, penetrou fundo, como se algo no tom rouco e denso dele chamasse diretamente sua alma. Virou- se devagar, os olhos azuis encontrando os dele, um misto de curiosidade e apreensão estampado no rosto.
— O que foi, Klaus?
Por um momento, ele pareceu lutar contra as próprias palavras, a hesitação cruzando seus traços. Mas então, impulsionado por uma força maior que ele mesmo, deu alguns passos em sua direção. Os olhos dele, brilhando à luz da lua, estavam repletos de emoções que não podiam mais ser contidas: determinação, medo e algo mais profundo, algo que fazia a atmosfera ao redor deles pulsar.
— Antes de eu ir embora... — ele começou, a voz embargada, carregada de sinceridade.
— Antes de te deixar aqui... preciso fazer uma coisa.
O tempo parecia ter parado, congelando os sons da noite. Anya ficou ali, imóvel, o coração martelando no peito como se estivesse prestes a romper as barreiras da razão.
— O que você precisa fazer? — sussurrou, a voz quebradiça, quase inaudível.
Klaus levantou a mão devagar, os dedos tremendo levemente, mas o olhar fixo no dela não vacilava. Com delicadeza, ele tocou a lateral do rosto de Anya, seu polegar traçando suavemente a curva de sua bochecha. O toque foi ao mesmo tempo quente e sereno, como se cada movimento fosse pensado para dizer o que as palavras não conseguiam.
— Eu preciso disso — ele respondeu, sua voz se desfazendo em um tom grave, antes de inclinar a cabeça e capturar os lábios dela com os seus.
O mundo desapareceu. Não havia mais brisa, lua, ou mesmo chão sob seus pés. O beijo começou hesitante, mas logo explodiu em uma intensidade que arrebatava ambos. Era como uma tempestade que se anunciava na calmaria e, em seguida, envolvia tudo em sua fúria doce. Os lábios de Klaus eram firmes, e ainda assim tão gentis, como se ele estivesse tentando gravar cada segundo daquele momento na eternidade.
Anya se entregou sem reservas, suas mãos se fechando com força na camisa dele, como
se ele fosse sua âncora em meio à vastidão de tudo que ela não podia controlar. O calor do corpo dele era uma promessa de segurança, e ela sentia que, ali, naquele instante, nada poderia machucá-la.
Quando finalmente se afastaram, ambos ofegavam, os rostos a poucos centímetros de distância. Os olhos de Anya estavam úmidos, brilhando com algo entre a confusão e a certeza. Klaus, por sua vez, parecia carregado de uma coragem renovada, embora sua respiração pesada denunciasse o turbilhão dentro dele.
— Por que você fez isso? — Anya perguntou, a voz frágil, quase um sussurro perdido.
Ele sorriu de lado, o famoso sorriso que sempre carregava uma pitada de desafio, mas agora estava tingido de uma emoção genuína e profunda.
— Porque... se eu for embora sem fazer isso, vou me arrepender pelo resto da vida.
Uma lágrima escapou dos olhos dela, deslizando pela bochecha sem pressa, como se também hesitasse em deixá-la. Mas desta vez, não era tristeza.
— Klaus...
Ele ergueu um dedo, pousando-o levemente sobre os lábios dela, silenciando o que ela tentava dizer.
— Não precisa responder agora. Só... só prometa que, quando tudo isso terminar, a gente vai ter uma chance. Uma chance de tentar de verdade.
Anya assentiu, incapaz de formular palavras. Havia algo na intensidade do olhar dele que queimava e confortava ao mesmo tempo, um paradoxo que fazia seu coração bater ainda mais rápido.
Dando um passo para trás, ainda sem desviar os olhos dos dele, ela tentou controlar a avalanche de sentimentos que a invadiam. Com um último olhar carregado de significados, ela se virou e entrou na casa, a porta se fechando com um som suave.
Klaus ficou ali, parado, a luz da lua iluminando seu rosto, o gosto do beijo ainda fresco em seus lábios. Seu coração estava acelerado, mas pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que estava exatamente onde deveria estar.
Indíce
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!