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Flores de Gelo: O império caído

Capítulos 39

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Flores de Gelo: O império caído Capitulo 12 - Parte II

O ar estava impregnado com uma fragrância doce e forte, como se o próprio mundo estivesse florescendo a cada respiração. Mas havia algo de inquietante naquela tranquilidade. O silêncio era profundo, com exceção do som dos passos na terra e do farfalhar das folhas. Klaus, com a mão na espada, olhava ao redor com uma cautela instintiva, enquanto Finn, mais despreocupado, tentava se habituar à beleza exótica daquele lugar.

Mas não demorou muito para que a paz fosse quebrada.

Um rugido grave e profundo cortou o silêncio da floresta, fazendo os dois congelarem. Um som tão poderoso que parecia vibrar nas suas ossas. Klaus arregalou os olhos, a memória de todas as criaturas que haviam encontrado naquele mundo mágico vindo à tona. Mas essa... essa era diferente.

— O que é isso? — perguntou Finn, a voz tremendo de curiosidade e apreensão.

Klaus apertou a lâmina da espada, seus sentidos aguçados. Ele sentiu a vibração do chão antes de vê-lo: o monstro. Não era mais um ser marinho, mas uma gigantesca besta terrestre, com escamas negras que refletiam uma luz sobrenatural. Seus olhos eram de um amarelo tão brilhante que pareciam brilhar no escuro, e a sua mandíbula se abria com um estalo ensurdecedor, revelando fileiras de dentes afiados como lâminas. A criatura se movia com uma agilidade desconcertante, seus pés pesados fazendo o solo tremer a cada passo que dava.

Os olhos da fera se fixaram neles, mas ao invés de atacar imediatamente, ela os

observou com uma curiosidade assustadora, como se estivesse avaliando-os, decidindo se deveria atacá-los ou deixá-los passar. O monstro rosnou de forma baixa, como um desafio silencioso, mas não avançou.

Klaus permaneceu em silêncio, sentindo o medo pulsar dentro de si, mas também uma estranha sensação de que a criatura estava mais interessada em observá-los do que em destruir. Ele respirou fundo, analisando a situação.

— Fique calmo, Finn — disse ele, a voz firme, mas com um tom tenso. — Não é hora de lutar. Se ela nos atacar, podemos agir. Mas por enquanto, vamos tentar... passar sem chamar atenção.

Finn engoliu em seco, sentindo o peso da situação. A criatura, com seus olhos luminosos e seu corpo imenso, era um pesadelo materializado. Mas, ao contrário do que temiam, o monstro não fez nenhum movimento hostil. Apenas os observava, ainda com aquele olhar penetrante, até que lentamente, quase como se tivesse se cansado da presença deles, ela se afastou para as sombras da floresta. Os passos pesados se tornaram mais distantes, e finalmente, o monstro desapareceu na escuridão.

Klaus e Finn continuaram, o coração ainda acelerado pela adrenalina. Eles sabiam que essa criatura, por mais que tivesse os deixado passar, poderia aparecer novamente, mas o que mais os preocupava agora era o que encontrariam à frente. Eles estavam no mundo mágico, mas nada parecia tão mágico como antes.

Quando finalmente chegaram à vila, o cenário estava quieto, mas a sensação de que algo estava errado era inconfundível. O vento parecia soprar mais forte agora, como se estivesse tentando esconder algo das vistas deles. O que antes era uma vila movimentada, com risos e conversas, agora estava estranhamente silenciosa. Apenas Heather e as meninas estavam por lá.

— Onde está Anya? — perguntou Finn, sua voz apertada com a ansiedade que já tomava conta dele.

Heather, que estava conversando com as outras meninas, levantou os olhos e, ao ver Klaus e Finn, seu semblante se fechou imediatamente. Ela se aproximou deles com passos lentos, seu rosto marcado pela preocupação.

— Klaus... — ela começou, a voz tremendo um pouco. — Peter... ele a levou de volta para Azuris.

Klaus sentiu o sangue escorrer de seu rosto ao ouvir aquelas palavras. O mundo parecia parar por um momento. Azuris. O reino do qual Anya tinha fugido. Um lugar de poder e dor. Ele sabia que, quando ela foi embora da última vez, a esperança de um retorno já parecia impossível, mas agora, com Peter a levando de volta, o peso da impotência caiu sobre ele como uma rocha.

— Não... não é possível — disse Klaus, a raiva começando a borbulhar dentro dele. Ele apertou os punhos até as unhas ficarem brancas. — Como ele conseguiu? Ela estava aqui, entre nós!

Heather olhou para o chão, como se não pudesse mais encarar Klaus diretamente. Ela balançou a cabeça, o olhar vazio, e então respondeu:

— Peter seguiu você, Klaus. Ele a encontrou enquanto você estava fora. Ela não teve chance de se defender. E quando tentamos impedi-lo... ele foi mais rápido. A levou à força para Azuris, antes que pudéssemos fazer algo. Eles vão se casar.

O choque percorreu todo o corpo de Klaus, mas a raiva logo foi substituída por uma determinação feroz. Ele olhou para Finn, que estava ao seu lado, com os olhos brilhando

de raiva também.

— Não podemos deixar isso acontecer. — Klaus falou com uma firmeza assustadora. —
Vamos resgatá-la. Vamos até Azuris e a traremos de volta, seja qual for o custo.

Heather assentiu com firmeza, apesar da dor evidente em seu olhar. Ela sabia o quanto Anya significava para todos eles, e sabia que, se havia uma chance de salvá-la, não podiam desperdiçar. As meninas ao redor, embora caladas, se preparavam para ajudar da forma que fosse possível. O caminho à frente seria perigoso, mas Klaus e Finn já estavam decididos.

A jornada para Azuris havia começado. E desta vez, eles não iriam parar até trazer Anya de volta.

Heather, Crystal, Victórya e Kikyo estavam reunidas no centro da vila. O ar ao redor parecia mais pesado, carregado de energia, enquanto Kikyo, com sua postura serena, observava Klaus e Finn. Sua expressão era firme, mas havia algo de profundamente intenso em seu olhar. Ela sabia que o tempo estava contra eles, e esperar para partir até Azuris não era uma opção.

— Não podemos perder tempo. — Kikyo disse, sua voz calma, mas autoritária, cortando o silêncio como uma lâmina. — Peter já tem uma vantagem, e se ele chegou a Azuris, Anya está em grande perigo. Precisamos ir agora.

Klaus olhou para ela com determinação, mas havia confusão em seus olhos.

— Agora? Mas como? — Ele perguntou, dando um passo à frente.

Kikyo ergueu uma sobrancelha, como se a resposta fosse óbvia.

— Teletransporte. — respondeu ela. — Não é algo simples, mas com a força combinada de todas nós, podemos levar todos diretamente a Azuris. Não será fácil, e nem isento de riscos, mas é o único caminho.

Heather, que estava ao lado de Crystal e Victórya, deu um leve sorriso, embora tenso.

— Você sabe que pode contar conosco, Kikyo. — Heather disse, posicionando-se ao lado das outras. — Se tem algo que sabemos fazer juntas, é magia.

Crystal deu um passo à frente, ajustando sua túnica azul, seus olhos claros fixos em Kikyo.

— Concordo. Mas... isso vai exigir muita energia. Precisamos estar completamente sincronizadas. — Crystal comentou com um tom sério.

Victórya, por sua vez, balançou os cabelos cacheados com confiança.

— Sincronizadas? Ora, é o que fazemos de melhor, não é? Além disso, não podemos deixar Klaus e Finn correrem para Azuris sozinhos. Anya precisa de nós tanto quanto deles.

Kikyo respirou fundo e estendeu as mãos, indicando que todas deveriam se posicionar ao redor dela. As quatro formaram um círculo no centro da vila, com Klaus e Finn observando com atenção. Kikyo começou a falar, sua voz baixa e cheia de autoridade:

— Para que isso funcione, precisamos de unidade. Nossas energias devem fluir como uma só. Heather, concentre-se no fogo; Crystal, na água; Victórya, na terra. Eu canalizarei o ar e conectarei tudo. Juntas, criaremos o portal.

Heather fechou os olhos, seus dedos esquentando enquanto uma chama delicada começava a dançar em suas palmas. Crystal ergueu as mãos, invocando pequenas correntes de água que flutuavam ao redor de seu corpo. Victórya abaixou as mãos, e o chão sob seus pés começou a vibrar levemente, com raízes saindo da terra ao seu comando. Kikyo, no centro, ergueu os braços e começou a entoar palavras antigas, sua voz reverberando pelo ar como um canto ancestral.

O vento começou a soprar ao redor delas, crescendo em intensidade. As energias de cada uma começaram a convergir no centro do círculo, criando uma esfera de luz que brilhava com uma intensidade crescente. As cores se misturavam — vermelho, azul, verde e branco —, girando como um furacão.

— Mantenham-se firmes! — Kikyo gritou, sua voz se sobrepondo ao som da energia que zunia ao redor. — Concentrem-se na imagem de Azuris, no lugar onde Anya está.

Heather abriu os olhos, focados e determinados, enquanto as chamas em suas mãos cresciam. Victórya murmurava algo baixinho, como um cântico, enquanto as raízes cresciam e envolviam os pés das outras, ancorando a energia. Crystal manteve-se imóvel, com a água girando ao seu redor em uma dança quase hipnótica. Kikyo, no centro, parecia ser o núcleo de tudo, guiando a magia como uma maestra conduzindo uma sinfonia.

O ar ao redor se tornou denso, e uma rachadura no espaço surgiu no centro do círculo, como se o tecido da realidade estivesse sendo rasgado. A rachadura se expandiu, formando um portal oval, dentro do qual era possível ver as torres altas de Azuris, envoltas por uma névoa dourada.

— Agora! — Kikyo ordenou, estendendo as mãos em direção ao portal.

O portal pulsou, sua luz brilhando intensamente, e Klaus e Finn sentiram o chão sob seus pés desaparecer. A magia os envolveu como um redemoinho, puxando-os com força para dentro do portal. O mundo ao seu redor girou por alguns segundos, e então, de repente, eles estavam de pé em um terreno completamente diferentes.

Quando abriram os olhos, estavam nos arredores de Azuris. O ar era fresco, mas carregava um peso de opressão, como se o reino estivesse impregnado com a presença de Peter. As torres azuis da cidade brilhavam ao longe, mas havia algo de sombrio naquele brilho.

Kikyo, Heather, Crystal e Victórya estavam ao lado deles, exaustas, mas de pé. Heather ofegava, apoiando-se em Victórya, enquanto Crystal limpava o suor da testa.

— Conseguimos... — disse Kikyo, sua voz calma, mas o cansaço evidente. — Mas não temos tempo a perder. Anya está aqui. E Peter não está brincando.

Klaus olhou para a cidade, seu coração acelerado. A determinação em seus olhos era inabalável.

— Vamos trazê-la de volta. Não importa o que custe.

Heather sorriu para ele, apesar da tensão.

— Então é melhor você estar preparado, Klaus. Porque isso... vai ser uma luta difícil.


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