Flores de Gelo: O império caído Capitulo 10
Um pedaço do passado
Um pedaço do passado
Antenção, esse capítulo possuí temas sensíveis como: tentativa de assédio e morte.
5 anos atrás
Victórya
— Mãe, você melhorou? — Perguntou Victórya, sentando na beira da cama de onde sua mãe estava deitada.
A mulher não respondeu, apenas acenou com a cabeça em negativa de, com o pouco de força que lhe restava.
— Você precisa de remédios. — Comentou Victórya levantando-se.
Então, a garota foi até seu armário, a procura de remédios, mas quando abriu, o pavor se espalhou pelo seu corpo.
— Acabou.. — Resmungou, enquanto revirava algumas coisas.
Victórya pensou, mas viu que não teria outra escolha. Pegou sua bolsa, e aprontou suas coisas.
Antes de sair, Desferiu um beijo na testa de sua mãe, e com um aviso prévio, disse que iria a um bar.
Com as últimas forças que lhe restava, a negra mulher de cabelos trançados, deitada naquela cama disse:
— Não vá, querida... — Resmungou Dorothea.
— Desculpa mãe, é pela senhora. — Disse Victórya abandonando a casa.
Então, Victórya pegou algumas coisas para vender, e então seguiu para o bar.
A noite estava abafada, e o bar fervilhava de vozes altas, gargalhadas embriagadas e o cheiro pesado de álcool misturado à fumaça de tabaco. Aos 14 anos, Victórya já sabia que aquele ambiente era perigoso, mas a necessidade a obrigava a estar ali. Com uma cesta de ervas e amuletos simples, ela circulava entre as mesas, oferecendo seu trabalho na esperança de ajudar sua mãe.
Cada passo parecia mais pesado. Os olhares curiosos e invasivos dos frequentadores a faziam querer desaparecer, mas ela mantinha o queixo erguido, uma máscara de coragem que escondia o nó constante em sua garganta.
De repente, uma voz grossa cortou o burburinho.
— Ei, garota! Vem aqui. — O chamado veio de um homem corpulento, com o rosto avermelhado pelo álcool. Ao lado dele, um companheiro ria alto, como se já soubesse o que viria a seguir.
Victórya congelou. Seu instinto gritava para que ela seguisse em frente, mas algo mais
sombrio dizia que ignorar o chamado poderia ser pior. Engolindo em seco, ela se virou na direção deles.
— Boa noite. Posso ajudar com algo? — tentou soar firme, mas o tremor em sua voz traiu seu medo.
O homem, que logo se apresentou como Connor, a olhou de cima a baixo, seus olhos faiscando algo que fez o coração dela acelerar de puro pavor.
— Ajudar? Ah, você tem algo que me interessa, sim — ele zombou, o sorriso distorcendo seu rosto já grotesco.
Ela deu um passo para trás, apertando a cesta contra o corpo.
— Não tem nada aqui pra você. Eu só quero ir embora.
Mas Connor foi mais rápido. Ele agarrou seu braço com força, puxando-a para mais perto.
— Me solta! — gritou, tentando se soltar, mas a mão dele era como um grilhão.
— Soltar? — Ele riu, aproximando o rosto suado do dela. — Acho que você ainda não entendeu.
Antes que pudesse reagir, ele a arrastou para um canto escuro do bar, ignorando os poucos olhares que se voltavam para eles. As pessoas viam, mas ninguém fazia nada. Victórya sentiu o desespero tomar conta de seu corpo.
Ele a empurrou para dentro de um banheiro mal iluminado, onde o cheiro de mofo e álcool quase a fez vomitar. O barulho do lado de fora parecia distante, como se o mundo inteiro tivesse se reduzido àquele espaço sufocante.
— Por favor, me deixe ir... — sua voz saiu como um sussurro, cheia de pânico.
Connor a ignorou, segurando seus pulsos com uma força bruta que deixou sua pele latejando. O sorriso cruel em seu rosto era a única resposta. Ele começou a abrir o cinto, e Victórya sentiu o tempo parar. O medo a imobilizou por um instante, como se todo o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões.
Ele retirou por completo o cinto, deixando com que sua calça caísse por si só, revelando o membro genital dele.
— Você, vai me satisfazer... — Disse ele com a voz embriagada.
Mas então, algo dentro dela gritou. Um instinto feroz, de sobrevivência, que queimou através do terror paralisante. Seus dedos tatearam desesperadamente até encontrar algo frio: a adaga presa ao cinto dele.
Com um grito que veio do fundo de sua alma, Victórya puxou a lâmina e a cravou no membro de Connor. O grito dele foi um som gutural, cheio de dor e surpresa. Ele a soltou imediatamente, cambaleando para trás.
Ela não esperou para ver o que aconteceria a seguir. Correu para fora do banheiro, os olhos turvos de lágrimas e o coração batendo tão rápido que parecia que iria explodir. O bar parecia um borrão à medida que ela passava por ele, seus pés mal tocando o chão.
Quando finalmente chegou a um lugar seguro, longe do bar e das risadas distantes, suas pernas cederam. Ela caiu de joelhos na terra fria, o cabo da adaga ainda firme em sua mão. Todo ensanguentado.
O choro veio como uma avalanche. Lágrimas quentes escorriam por seu rosto enquanto ela soluçava, o peso do que havia acabado de acontecer finalmente caindo sobre ela. Ela se sentia frágil, quebrada, mas também viva.
Enquanto as estrelas brilhavam indiferentes acima dela, Victórya jurou a si mesma que nunca mais permitiria que alguém a ferisse daquele jeito. Ela segurou a adaga contra o peito, como um lembrete silencioso de sua força, mesmo diante do desespero.
Naquela noite, algo dentro dela mudou para sempre.
Chagando em casa, Victórya sentou-se derrotada, mas seu mundo acabou quando viu Dorothea paralisada.
Ela correu até sua mãe, colocando a mão em seu pescoço, para ver se notava algum sinal de pulsação. Mas nada, nada além de nada.
Depois de ter enterrado o corpo inerte de sua mãe, ela sentiu-se acabada, como se o mundo tivesse decidido castiga-la hoje.
O quarto estava mergulhado em sombras. Apenas uma vela tremeluzia no canto, lançando uma luz fraca e trêmula sobre as paredes desgastadas. Victórya estava ajoelhada ao lado da cama, o rosto escondido entre as mãos, os ombros sacudindo com cada soluço que escapava de sua garganta.
A cama parecia tão vazia agora, tão cruelmente silenciosa. O lençol estava impecavelmente esticado, mas o perfume de sua mãe ainda estava lá — um cheiro suave de ervas e algo que sempre a fazia se sentir em casa. Mas agora... agora era apenas um lembrete do vazio.
Ela tentou respirar fundo, mas o peso da dor parecia esmagar seu peito, como se o ar simplesmente não quisesse entrar. As lágrimas escorriam pelo rosto, molhando suas mãos e pingando sobre o chão de madeira.
— Por que... por que você teve que me deixar? — sussurrou, a voz rouca e quebrada.
A imagem de sua mãe estava gravada em sua mente: o sorriso gentil, os olhos cansados, mas sempre cheios de amor, mesmo nos dias mais difíceis. Ela se lembrou de como sua mãe cantava baixinho enquanto trabalhava, como acariciava seus cabelos quando ela tinha pesadelos, como sempre dizia que, não importa o que acontecesse, Victórya seria forte.
Mas agora, sua mãe não estava mais lá para dizer isso. E Victórya não se sentia forte.
Ela agarrou o lençol com as duas mãos, puxando-o como se ele pudesse trazê-la de volta.
— Eu preciso de você... — murmurou, a voz falhando. — Eu não sei como continuar sem você...
As palavras ficaram presas em sua garganta, substituídas por soluços que a deixavam sem forças. Era como se todo o mundo ao seu redor tivesse desmoronado, deixando
apenas escuridão e dor.
Ela se curvou mais sobre a beira da cama, o rosto afundando no lençol. Tudo o que queria era ouvir a voz da mãe mais uma vez, sentir o calor de suas mãos, ouvir uma palavra de consolo. Mas tudo o que tinha agora era o vazio.
Victórya chorou até que seu corpo não conseguisse mais sustentar as lágrimas. O silêncio do quarto parecia gritar, e o frio da noite invadiu o espaço, abraçando-a de forma cruel.
Quando finalmente ergueu o rosto, os olhos estavam inchados e vermelhos, e a vela no canto já havia se apagado. Ela respirou fundo, o som ainda trêmulo, e passou a mão pelos cabelos molhados de suor e lágrimas.
— Eu vou ser forte... por você, mãe. — Sua voz era um sussurro, quase inaudível, mas havia algo novo ali: uma faísca de determinação, pequena, mas presente.
Victórya sabia que não podia deixar a dor vencê-la. Sua mãe sempre acreditara nela, e agora, por mais difícil que fosse, ela teria que acreditar em si mesma.
Indíce
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!