Skip to main content

Flores de Gelo: O império caído

Capítulos 39

© Todos os direitos reservados.

Flores de Gelo: O império caído Capitulo 5 - Parte III

— Como sabe da existência de Azuris? — perguntou Kikyo, deixando Anya surpresa com a pergunta incisiva.

Temendo reviver os traumas que envolviam guardar segredos, a princesa tomou uma decisão. Era hora de ser honesta.

— Eu sou Anya Delence, Princesa de Azuris — declarou ela com firmeza, encarando a interlocutora.

— Como? — exclamou Kikyo, perplexa.

— Sou filha de Lothus — completou Anya, mantendo o tom decidido.

Kikyo estreitou os olhos, como se tentasse conectar as peças de um quebra-cabeça complicado.

— Mas... a filha de Cassandra morreu. Então você só pode ser... — murmurou, correndo até uma estante repleta de livros empoeirados. Apanhou um volume intitulado Vademecum, que reunia histórias antigas das bruxas - histórias que Anya sequer imaginava que existiam.

Abrindo o livro numa página específica, Kikyo encontrou o que procurava. Os olhos dela brilharam com certeza ao ler o título em voz alta:

— O caso da noiva das sombras.

Depois de uma leitura breve, ela virou-se para Anya com convicção.

— Você só pode ser Morganna, a filha perdida da noiva das sombras.

A revelação foi como um tiro. Aquelas palavras atingiram Anya profundamente. Ela sempre sentira que havia algo diferente entre ela e Cassandra, tanto na aparência quanto na personalidade. No entanto, jamais duvidara de ser filha dela.

— Então... Cassandra não é minha mãe? — indagou Anya, com a voz tremendo.

— Não. A noiva das sombras é sua verdadeira mãe — respondeu Kikyo, deixando a tensão no ar palpável.

O clima pesado foi interrompido por uma voz familiar que irrompeu pela cabana.

— Madame Kikyo, eu trouxe as ervas que pediu... — começou uma jovem, cortando a frase ao perceber Anya.

— Heather!? — exclamou Anya, incapaz de esconder a surpresa.

— Anya? Você por aqui? — perguntou a recém-chegada, igualmente surpresa.

Heather aproximou-se de Kikyo e, inclinando-se, sussurrou algo no ouvido da bruxa. Mas o sussurro não passou despercebido por Anya.

— Ela é uma bruxa? — perguntou Heather.

— Sim! Mas como vocês se conhecem? — indagou Kikyo, intrigada.

— Heather! — Anya ergueu a voz, confrontando a amiga. — Você é uma bruxa e nunca me contou!?

— Eu não podia! Humanos não podem saber do segredo das bruxas! — defendeu-se Heather, cruzando os braços.

— Eu não sou humana — rebateu Anya, firmando a voz com determinação.

— Eu não sabia... — admitiu Heather, com o tom hesitante.

Anya estreitou os olhos, fitando a amiga.

— Então, esse tempo todo, você também nunca foi uma princesa? — questionou ela.

— Pelo visto, você também não — retrucou Heather, com ironia.

Anya hesitou, percebendo que Heather tinha razão. Seus pensamentos começaram a se embaralhar.

"Então, eu nunca fui uma princesa.

Tudo parecia uma mentira agora.

— Tudo... todo o meu passado, todas as histórias eram uma farsa! Todos aqueles anos trancada naquele castelo, e eu nem era uma princesa! Fui roubada pelos guardas, afastada da minha verdadeira mãe! — desabafou Anya, andando em círculos pelo

quarto. Sua voz era cheia de angústia.

— Calma, Anya — pediu Heather, tentando apaziguar a amiga.

— Eu preciso de ar! — disse Anya, saindo apressada da cabana.

Anya se lembrava das tardes ensolaradas no jardim do castelo, quando Cassandra a ensinava a bordar.

— Será que aqueles momentos foram falsos? Será que o sorriso da mulher que ela chamava de mãe escondia a verdade o tempo todo? — Disse Anya relutante.

Por mais que Cassandra fosse rígida, ela tinha seus momentos de afeto, mas será que foram irreais?

Lá fora, a ex-princesa — agora confrontada com sua verdadeira identidade de bruxa — estava à beira de um colapso. A respiração era curta e irregular, e o desespero parecia mover seu corpo.

Enquanto isso, Klaus despertava de um cochilo inesperado. Percebendo que ainda não havia conversado com sua mãe sobre a jornada, ele levantou-se, esfregando os olhos sonolentos. Ao sair, encontrou Haledi estendendo roupas no varal.

Suas pálpebras se mantinham incomodadas ao entrar em contato com a luz do sol, mas mesmo assim ele foi até sua mãe, com uma mão sobre o olho.

— Mama, sobre a contratação no reino... — começou Klaus, aproximando-se.

— Tô sabendo, meu filho. Por quê? — perguntou Haledi, sem tirar os olhos do trabalho.

— Vou atrás de Anya. E vou fazer o que a senhora falou — respondeu ele, emocionado.

Haledi parou, segurando um pano nas mãos. O brilho em seus olhos quase transbordava em lágrimas.

— Meu fio... ainda bem que tu me escutou! Tenho certeza que tu e ela vão se entender!
— disse ela, emocionada.

— Sim, mama. Vou começar a busca hoje, e não vou deixar o Peter ficar com o que é meu — afirmou Klaus, tentando esconder a vergonha em seu rosto.

— Isso aí, menino!

Não muito longe, Rose ouvia tudo em segredo. Escondida atrás de uma parede, ela escutava as palavras de seu irmão.

— Quando me casar com ela, o castelo inteiro será meu. E ela? Bem, será apenas uma empregada que usa uma coroa. — Peter riu, e o som ecoou como um veneno nos ouvidos de Rose.

Assim que Rose entendeu os planos de Peter, sabendo que ele faria mal para Anya, correu apressada para seu quarto.

As luxuosas paredes do castelo levaram-na até o aposento decorado em tons de rosa, repleto de detalhes infantis que lembravam um campo mágico. Sentando-se na cama, ela começou a chorar baixinho até que sua mãe, Luna, entrou.

A rainha aproximou-se com graça e sentou-se na cama. Seu vestido lilás esparramou-se pela colcha enquanto ela segurava os ombros da filha.

— O que houve, pequena? — perguntou Luna, com a voz terna.

— Mamãe... Peter é mau! Ele vai machucar Anya! — respondeu Rose, em tom suplicante.

Luna afagou os braços da menina com cuidado.

— Então me ajude a mudar a cabeça de seu pai — sugeriu Luna.

— Mas, mamãe, o que podemos fazer? — perguntou Rose, com olhos arregalados.

— Vamos sujar o nome de Cassandra. Assim, Árthur não vai querer nada com ela —
declarou Luna, levantando-se.

— Mas isso não é errado? — sussurrou Rose, confusa.

Luna sorriu e piscou para a filha.

— Será nosso segredinho.

— Certo! Como vamos fazer isso, mamãe? — perguntou Rose, enquanto balançava seu vestido e entrelaçava as mãos.

— Que tal... fizermos uma visitinha a Azuris? — sugeriu Luna, com um olhar astuto.


  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!

Deixe um comentário

Você está comentando como visitante.
  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!