Flores de Gelo: O império caído Capitulo 11 - Parte II
A sala mergulhou em um silêncio absoluto. A tensão pairava no ar como uma tempestade à beira de romper. Cassandra avançou lentamente, os olhos fixos na
impostora diante dela, cujas feições eram cuidadosamente moldadas para imitar Anya. Seu olhar frio e analítico parecia atravessar a alma da jovem.
— Você... — A voz de Cassandra soou firme, carregada de uma ameaça contida. — Falhou. — Sua última palavra veio quase como um sussurro cortante, enquanto ela estreitava os olhos.
A falsa Anya hesitou, o olhar frenético varrendo o salão em busca de uma saída. Suas mãos tremiam, e era evidente que estava à beira de um colapso. Finalmente, como se não houvesse mais escapatória, ela ergueu a cabeça e enfrentou todos os olhares.
— Meu nome... meu nome é Sabrina. — Sua voz, antes doce e ensaiada, agora era rouca e trêmula. — Eu só... eu só estava seguindo ordens.
— Cale-se! — Cassandra avançou mais um passo, sua postura emanando autoridade implacável. — Feche essa boca antes que eu perca a paciência.
— Não vou me calar! — Sabrina gritou, os olhos arregalados em puro desespero. —
Você vai me matar de qualquer jeito!
— Claro que não, tolinha. — Cassandra retrucou com um tom gelado, o sarcasmo gotejando de cada palavra. — Achou mesmo isso?
Sabrina deu um passo atrás, o brilho de lágrimas agora evidente em seus olhos. Então, como se tomada por puro instinto de sobrevivência, girou sobre os calcanhares e disparou em direção às portas do salão. Os guardas se colocaram em seu caminho, mas ela era ágil e determinada, escapando como um raio, deixando os convidados em um burburinho de choque.
— Peguem-na! — A ordem de Cassandra ecoou, seu dedo indicador apontando para os guardas. — Não a deixem escapar!
Os homens saíram em perseguição, mas Sabrina já estava longe. Cassandra cerrou os punhos, o brilho de raiva consumindo seus olhos. Lentamente, ela se virou, agora direcionando toda a sua atenção para Haledi e Sofia, que se encolhiam ao fundo, tentando passar despercebidas.
— Vocês duas! — exclamou Cassandra, sua voz cortante como lâmina. — Achavam que poderiam me enganar? Que eu não perceberia?
Sofia deu um passo à frente, tentando manter a compostura.
— Minha senhora, só queríamos... proteger o segredo da princesa. Pensamos que seria o melhor para a segurança do reino.
— Segurança? — Cassandra zombou, sua voz carregada de veneno. — Vocês revelaram o segredo. Agora, o que os reinos pensarão? Que o filho da Luna não pode se casar com Anya? Têm ideia do que isso significa para a estabilidade do reino? Do risco que correram?
Haledi tentou falar, mas Cassandra ergueu a mão, silenciando-a com um gesto cortante.
— Vocês serão punidas. Não posso tolerar traição, muito menos uma tão absurda.
Antes que pudesse dizer mais, Luna se aproximou, serena, mas imponente.
— Cassandra, controle-se. Elas não devem ser punidas. — A voz da rainha era suave, mas carregada de uma autoridade inquestionável. — Foi para isso que eu e Rose viemos. Para descobrir quem é você por trás de tudo isso.
Cassandra hesitou, mas antes que pudesse responder, Maxwell entrou no salão, sua presença imponente silenciando qualquer murmúrio restante.
— Minha senhora, sugiro que repense suas ações. — A voz de Maxwell era calma, mas firme. — Haledi e Sofia podem ter errado, mas isso não é o que devemos priorizar agora.
Cassandra apertou os lábios, resistindo à intervenção.
— Maxwell, não interfira. Elas traíram minha confiança, e eu não posso simplesmente deixá-las impunes.
— Ninguém disse isso. — Maxwell cruzou os braços, fixando-a com um olhar sério. — Mas agir precipitadamente agora só piorará as coisas. Precisamos delas vivas para consertar o estrago.
Após um momento de tensão, Cassandra respirou fundo e cedeu.
— Muito bem. — Sua voz ainda carregava rancor. — Mas fiquem avisadas: estarão sob vigilância constante. — Aproximou-se de Haledi e Sofia, sussurrando com desprezo: — Traidoras.
As duas se curvaram, aliviadas, embora cientes de que estavam por um fio. Maxwell,
discreto, piscou para elas, transmitindo um pouco de conforto.
No meio da dispersão, Luna permaneceu observando, o olhar pensativo. Quando Cassandra se aproximou, Luna ergueu sua taça e a girou com ironia.
— Que espetáculo, Cassandra. A mãe que não se importa com a filha foragida e ainda tenta substituí-la com uma farsa. — Sua voz estava carregada de sarcasmo.
— Eu me importo, sim! — Cassandra respondeu, inquieta.
— Se importa? — Luna arqueou as sobrancelhas. — Isso não parece preocupação, parece desespero. Árthur vai adorar ouvir sobre isso.
— Eu disse que me preocupo! — insistiu Cassandra, exaltada.
Antes que Luna pudesse retrucar, Rose gritou:
— Não se preocupa, não!
— SUA FEDELHA INGRATA! EU ME PREOCUPO!! — berrou Cassandra, perdendo o controle.
O salão mergulhou em tensão até que uma quarta voz cortou o ar como um trovão.
— Se realmente se preocupasse, não teria deixado ela morrer! — A declaração veio de Klaus, que acabava de entrar ao lado de Finn, sua postura firme e acusadora.
O salão ficou em absoluto silêncio, como se o próprio ar tivesse congelado. Cassandra virou-se, os olhos arregalados como se tivesse visto um fantasma.
— O-o... o que disse? — Sua voz tremia.
Klaus deu um passo à frente, encarando-a sem desviar.
— É isso mesmo, rainha Cassandra. Sua tão amada filha... morreu.
A última palavra transformou o ambiente.
Cassandra congelou, incapaz de processar as palavras de Klaus. O silêncio se arrastou por longos segundos, pesado como chumbo, antes que sua expressão de choque fosse lentamente substituída por algo mais sombrio. Seus olhos, antes arregalados, agora queimavam com uma fúria que parecia incinerar tudo ao seu redor.
Ela soltou uma risada amarga, uma mistura de ironia e descontrole, enquanto suas mãos tremiam.
— Morta? — A palavra saiu quase como um grito, ecoando pelo salão. — Minha filha está morta?!
Sua voz se elevava a cada palavra, carregada de uma indignação que beirava a insanidade. Cassandra começou a andar de um lado para o outro, os passos pesados ressoando no chão de mármore, como se sua própria raiva estivesse prestes a explodir.
— Como isso aconteceu?! Como ninguém me avisou?! — Seu olhar se voltou para Klaus, como se ele fosse o culpado. — E VOCÊ! — Ela apontou um dedo trêmulo para o jovem.
— Como ousa vir até aqui, me dizer isso na frente de todos?!
Luna observava em silêncio, os lábios pressionados em uma linha fina, enquanto Klaus permanecia firme, sem recuar diante da tempestade que era Cassandra.
— Sabe o que isso significa?! — Cassandra gritou, agora dirigindo-se a todos no salão. —
Significa que não tenho mais uma filha para casar com Peter! Não há mais herdeiros! Toda a aliança que construímos... todo o futuro do reino... está em RUÍNAS!
Ela virou-se para Luna, os olhos faiscando de raiva.
— Isso é culpa sua, não é? Sua família egoísta, sempre atrapalhando os planos dos outros! Aposto que sabia disso e escondeu de propósito!
— Controle-se, Cassandra. — A voz de Luna cortou o ambiente, fria como o inverno. —
Sua filha está morta, e tudo o que você consegue pensar é em alianças políticas?
— E o que mais eu deveria pensar?! — Cassandra rebateu, aproximando-se de Luna, seu rosto uma máscara de fúria. — Você não entende o que é carregar um reino inteiro nas costas! Você não sabe o que é sacrificar tudo por um futuro melhor!
Luna manteve a compostura, mas seu olhar endureceu.
— Talvez seja por isso que sua filha fugiu de você.
A provocação foi como jogar lenha em uma fogueira. Cassandra avançou alguns passos, mas antes que pudesse fazer algo imprudente, Maxwell se colocou entre as duas, erguendo as mãos em um gesto de calma.
— Chega! — Sua voz foi firme, cortando o ar como uma lâmina. — Isso não vai levar a lugar algum. Precisamos pensar com clareza.
Cassandra respirava com dificuldade, como se estivesse lutando contra um vulcão prestes a entrar em erupção. Seus olhos passearam pelo salão, onde os convidados observavam em silêncio, alguns chocados, outros claramente aproveitando o espetáculo.
De repente, Cassandra deu meia-volta e começou a andar em direção à saída.
— Eu não vou permitir que tudo desmorone por causa disso. — Sua voz estava baixa, mas cheia de determinação sombria. — Se Anya está morta, encontrarei outra forma de garantir a aliança. Nem que eu tenha que criar uma herdeira do zero.
Com isso, ela desapareceu pelas portas do salão, deixando um rastro de tensão sufocante no ar. Luna soltou um suspiro, enquanto Klaus trocava um olhar preocupado com Finn.
— Ela perdeu o controle. — murmurou Klaus, mais para si mesmo do que para qualquer outro.
Luna, ainda observando a porta por onde Cassandra saíra, respondeu com um tom amargo:
— Não. Ela sempre foi assim. Agora, apenas está mostrando quem realmente é.
Enquanto o salão ainda reverberava com a tensão deixada pela partida de Cassandra, Luna tomou a mão de Rose com firmeza. Seus olhos, mais sérios do que de costume, percorreram os convidados ainda atordoados, que murmuravam discretamente. Luna não precisava dizer nada; sua presença sozinha já era o suficiente para silenciar qualquer um.
— Vamos, Rose. — Sua voz era baixa, mas carregada de autoridade. — Já vimos o suficiente por hoje. — Agachou, para ficar do tamanho de Rose — e você foi brilhante.
Rose, que havia permanecido quieta durante a maior parte do tumulto, apertou os lábios enquanto acompanhava a mãe. Enquanto isso jurava que a ideia do cozinheiro havia contribuido para isso. Antes de saírem, no entanto, a garota olhou por cima do ombro, lançando um último olhar para Klaus e Finn. Seus olhos verdes, normalmente cheios de vida, estavam carregados de um misto de tristeza e curiosidade.
— Klaus... — começou ela, hesitando. — Espero que você encontre o que procura.
— Venha cá pequena. — Sinalizou Klaus.
Luna soltou das mãos de rose, e deixou com que ela fosse até Klaus. Os olhos cristalinos abaixaram até encontrar os verdes de Rose.
— Posso te contar um segredo, já que você é amiga de Anya? — Sussurrou.
— Pode! Não conto pra ninguém.
— A Anya tá viva, e ela te mandou um abraço. — sussurrou Klaus no ouvido da pequena, enquanto a abraçava.
Logo, os olhos da menor brilharam de esperança.
Então, Rose voltou para o lado de sua mãe e se despediu dos meninos.
Luna apertou o passo, e Rose foi obrigada a acompanhá-la. Pouco tempo depois, as duas desapareceram pela grande porta do salão, seguidas por uma pequena comitiva. A viagem de volta para Heráclion seria longa, mas Luna estava determinada a retornar ao seu reino antes que algo mais inesperado acontecesse.
Horas mais tarde, Klaus e Finn estavam sentados à beira de um lago sereno, cercado por altas árvores cujas folhas dançavam ao ritmo do vento. Era o mesmo lugar onde, há tanto tempo, Klaus havia dado o colar a Anya — um presente que carregava mais significados do que ele imaginara na época.
Finn, sentado com os pés descalços tocando a água, balançava os tornozelos despreocupadamente, enquanto observava os reflexos no espelho líquido. Ele parecia estar esperando que Klaus começasse a falar, mas sabia que o mais velho precisava de tempo.
Klaus, por sua vez, segurava uma pedra lisa nas mãos, girando-a entre os dedos. Seu olhar estava fixo no lago, mas sua mente estava a quilômetros de distância, perdida em um lugar chamado mundo mágico. Onde Anya estava.
— Era aqui, não era? — Finn finalmente quebrou o silêncio, sua voz gentil.
Klaus olhou para ele, surpreso pela pergunta, mas logo assentiu.
— Sim. Foi aqui que eu dei o colar a ela. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, como se falar muito alto pudesse quebrar a tranquilidade do lugar.
Finn inclinou a cabeça, observando Klaus com atenção.
— Você acha que ela sabe o quanto isso significa para você?
Klaus deixou escapar um suspiro pesado, jogando a pedra na água. O som do impacto quebrou o silêncio momentaneamente, enquanto ondas circulares se espalhavam pelo lago.
— Eu não sei. — Ele passou a mão pelos cabelos castanhos, que caíam sobre seus olhos.
— Talvez ela sabe... talvez não. Tudo o que sei é que, naquele momento, eu queria que ela soubesse que era importante para mim.
Finn permaneceu em silêncio por um momento, antes de se deitar na grama, olhando para o céu.
— Sabe, Klaus... às vezes, acho que o que realmente importa não é o que as pessoas sabem, mas o que você faz com o que sente.
Klaus arqueou uma sobrancelha, surpreso pela profundidade nas palavras do garoto.
— Desde quando você ficou tão sábio?
Finn deu de ombros, um sorriso travesso surgindo em seus lábios.
— Desde que comecei a passar tempo demais com você.
A resposta arrancou um pequeno riso de Klaus, algo raro desde o beijo e a despedida de Anya. Ele se recostou na grama ao lado de Finn, permitindo que o silêncio confortável envolvesse os dois novamente.
O lago continuava calmo, e, por um momento, Klaus se perguntou se ele também conseguiria encontrar essa calma um dia. Mesmo que Anya não estivesse ali, com ele, o colar que ele havia dado a ela ainda estava com ela — uma lembrança de um amor que, embora interrompido, não poderia ser apagado.
— Finn... — Klaus começou, ainda olhando para o céu. — Nós vamos rencontrá-la.
Finn não precisou perguntar a quem ele se referia. Ele simplesmente sorriu e respondeu com convicção:
— É claro que vamos.
— Nós estamos falando como se ela tivesse morrido de verdade. — Disse Finn, arrancando uma risada de Klaus. Então o ar se preencheu com a felicidade dos dois garotos.
Indíce
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