Flores de Gelo: O império caído Capitulo 11
Mascaras caidas
Mascaras caidas
Luna e Rose sentaram-se em frente a um enorme espelho de moldura dourada, enquanto as criadas ajustavam os vestidos para o jantar. Rose, balançando as pernas inquietamente, observava a mãe com curiosidade. De repente, um brilho travesso surgiu em seus olhos, e ela começou a sussurrar suas ideias para Luna.
— Mãe, e se eu disser que Cassandra tira meleca do nariz e come? — Rose segurou o riso com a mão, mas seus olhos brilhavam de diversão.
Luna, que retocava o batom com calma, pausou por um instante e olhou para a filha pelo reflexo no espelho.
— Rose... — disse com a voz firme, mas o canto de seus lábios quase se curvou em um sorriso. — Isso é absolutamente ridículo.
— Mas seria engraçado! — insistiu Rose, inclinando-se mais perto da mãe. — Ou talvez... eu possa falar que ela faz xixi na cama!
Uma criada que estava arrumando o cabelo de Rose não conseguiu evitar e deixou escapar um pequeno riso abafado. Luna a fuzilou com o olhar antes de se virar para a filha, tentando manter a compostura.
— Rose, querida, precisamos ser sutis e elegantes. Não podemos transformar o jantar em uma peça de teatro cômico.
— Tá bom... mas e se eu disser que ela só toma banho no sábado? — Rose cruzou os braços, fazendo uma careta exagerada de quem se sentia contrariada.
— Rose! — Luna não resistiu e acabou soltando uma risada breve, mas logo recompôs sua postura. — Por mais que isso possa ser... criativo, precisamos de algo que realmente funcione.
Rose fez bico, mas logo voltou a sorrir.
— E se eu disser que ela está namorando o cozinheiro? Aposto que isso vai fazer todo mundo no salão rir!
Dessa vez, Luna riu de verdade, baixando a cabeça e balançando-a lentamente. Era difícil dizer se sua risada vinha do absurdo das ideias de Rose ou da imaginação sem limites da menina.
— Você é terrível, Rose — disse Luna, tocando levemente o queixo da filha e olhando-a com ternura. — Mas eu preciso que você foque. Seu papel hoje não é fazer piadas, e sim plantar dúvidas.
Rose suspirou dramaticamente, mas seus olhos ainda estavam cheios de malícia.
— Tudo bem... Mas, se eu tivesse que jogar alguém no pântano, você sabe quem seria, né?
— Rose! — Luna exclamou, agora segurando o riso com dificuldade. — Pare com isso. Agora, vá se preparar, temos pouco tempo.
Enquanto Rose corria pelo corredor, rindo sozinha e planejando secretamente seus "ataques cômicos", Luna balançava a cabeça. Ela sabia que a filha era uma peça imprevisível, mas também a arma mais valiosa de seu plano.
Luna suspirou, ajustando seu vestido. "Pelo menos," pensou, "ninguém poderá acusá-la de falta de criatividade.
O salão de jantar estava iluminado por um lustre imponente, com velas que lançavam reflexos dourados sobre a longa mesa repleta de iguarias. Os convidados já começavam a chegar, murmurando entre si, enquanto os criados circulavam silenciosamente, garantindo que tudo estivesse em perfeita ordem.
Luna entrou com a cabeça erguida, irradiando sua elegância habitual. Ao seu lado, Rose parecia uma perfeita dama, com seu vestido de cetim azul-claro e cabelos loiros brilhando à luz das velas. Qualquer um que a olhasse veria apenas uma doce menina.
Mas Luna sabia que aquela expressão angelical escondia um pequeno demônio pronto para agir.
Do outro lado do salão, Cassandra e Anya já estavam sentadas. Anya, em um vestido branco simples com detalhes prateados, conversava discretamente com a mãe, mas seus olhos azuis analisavam o ambiente com atenção. Cassandra, sempre serena, mantinha um sorriso que escondia sua desconfiança. Logo, ela sussurrou no ouvido da princesa.
— Lembre-se, ninguém de fora do reino sabe que Anya sumiu, e você é a menina mais parecida com ela, então, finja ser ela.
A falsa Anya assentiu.
Luna caminhou até Cassandra, cumprimentando-a com um leve inclinar de cabeça.
— Luna, querida, é sempre um prazer tê-la aqui. Espero que esteja tudo ao seu gosto. —
Sua voz era doce, mas havia uma pontada de frieza em cada palavra.
— Está perfeito, como sempre, Cassandra. — Luna respondeu com elegância, mas seu olhar encontrou o de Cassandra por um breve instante, carregado de tensão.
Rose, por sua vez, aproximou-se de Anya com um sorriso largo.
— Anya, sabia que o vestido branco combina muito com você? Parece até que está pronta para um casamento!
Anya deu uma risadinha, tentando interpretar aquilo como um elogio, mas o comentário trouxe um rubor leve às suas bochechas. Luna, ao fundo, lançou um olhar aprovador para a filha.
Rose notou algo de diferente em Anya, talvez o modo de agir ou de falar. Ou até mesmo como Anya sempre gostou de abraça-la.
Conforme os convidados se acomodavam, Peter chegou ao salão, vestindo trajes formais que, apesar de bem alinhados, pareciam não combinar com sua postura desleixada. Ele olhou diretamente para Anya, um sorriso presunçoso no rosto, antes de se sentar ao lado dela. Rose notou o desconforto de Anya e sorriu internamente, pronta para começar seu show.
Quando todos já estavam servidos e o jantar havia começado, Rose ergueu a taça de suco com um sorriso inocente.
— Mamãe, você sabia que a senhora Cassandra é muito querida pelos cozinheiros? Ouvi dizer que ela visita a cozinha todos os dias... talvez um pouco mais do que o necessário.
Um silêncio curioso tomou conta da mesa. Cassandra arqueou levemente uma sobrancelha, mantendo a compostura.
— Agradeço a preocupação, Rose. Eu gosto de supervisionar a qualidade das refeições que serão servidas, apenas isso.
— Que dedicada! — exclamou Rose, com um brilho travesso nos olhos. — Mas não é o que dizem...
Luna pigarreou, disfarçando o riso enquanto tomava um gole de vinho, enquanto Anya olhava para a menina com uma mistura de confusão e curiosidade.
— Rose... — Luna disse, com uma falsa reprimenda na voz. — Acho que já chega.
— Desculpe, mamãe! — Rose respondeu, olhando para baixo com fingida inocência. Mas quando ninguém estava olhando, ela lançou um sorriso malicioso para Anya.
Enquanto o jantar prosseguia, Rose continuou a lançar pequenos comentários aparentemente inocentes, mas carregados de veneno sutil. Ela mencionou coisas como o suposto hábito de Cassandra de fazer perguntas “estranhas” aos criados ou de sair para passeios misteriosos sem explicação. Cada palavra fazia os murmúrios entre os convidados aumentarem.
Por fim, quando o jantar chegou ao fim, Cassandra se levantou, agradecendo a presença de todos e convidando-os a se dirigirem ao salão principal para danças e conversas.
Enquanto todos se levantavam, Anya sussurrou para Cassandra:
— Mãe, acho que a Rose está tentando nos provocar... mas por quê?
Cassandra respirou fundo, lançando um olhar na direção de Luna, que conversava calmamente com Arthur no canto do salão.
— Porque nada aqui é o que parece, minha filha — respondeu com firmeza. — E precisamos estar atentas.
Do outro lado do salão, Rose observava a cena com satisfação. Luna se aproximou dela, inclinando-se para sussurrar:
— Você foi brilhante, meu amor.
— Eu disse que sabia o que estava fazendo — respondeu Rose, cruzando os braços com um sorriso cheio de confiança.
Mas enquanto mãe e filha comemoravam silenciosamente sua pequena vitória, Cassandra e Anya estavam longe de serem derrotadas. As alianças estavam sendo formadas, os jogos de poder se intensificando... e o futuro do reino ficaria cada vez mais perigoso.
O jantar seguia seu ritmo habitual, com os convidados se servindo de iguarias e trocando comentários polidos sobre as últimas fofocas do reino. Rose, com a inocência característica de seus nove anos, sentava-se ao lado da mãe, Luna, que mantinha seu
semblante impecavelmente sereno. Mas os olhos curiosos de Rose estavam fixos em Anya, que conversava educadamente com Cassandra, mas parecia mais tensa do que de costume.
Após alguns minutos de observação, Rose inclinou-se para perto de Luna e sussurrou, como quem confessa algo importante:
— Mãe... tem algo estranho com a Anya.
Luna arqueou uma sobrancelha, sem desviar os olhos da taça de vinho que girava delicadamente entre seus dedos.
— O que quer dizer com isso, querida? — perguntou em um tom calmo, mas interessado.
Rose deu de ombros, como se fosse óbvio.
— Ela não é... ela mesma. Quando vimos aqui da primeira vez, ela era bem mais legal. Ah, mas agora essa aí... Quase não me deu bola. Tá tão... calma demais. Até o jeito de andar tá esquisito!
Luna estreitou os olhos, virando o rosto lentamente para Anya. Seus instintos eram aguçados, e a pequena observação de Rose, ainda que aparentemente inocente, acendeu uma fagulha de dúvida. Cassandra, do outro lado da mesa, percebeu a troca de olhares e inclinou-se levemente.
— Algum problema, Luna? — perguntou Cassandra, com a voz firme e o sorriso controlado.
Luna sorriu, um sorriso que não alcançou os olhos.
— Nenhum problema, querida. Apenas pensando no que minha pequena Rose acabou de dizer.
Cassandra olhou para Rose, que não perdeu tempo e completou, em tom quase teatral:
— Eu acho que essa Anya aí é uma farsa! — Ela fez uma pausa, dramática o suficiente para atrair a atenção de alguns criados próximos. — É como se a verdadeira tivesse fugido e deixado alguém no lugar.
Anya, que até então mantinha uma postura impecável, congelou por um instante, seus dedos apertando o garfo. Cassandra virou-se para a filha com olhos estreitos, avaliando- a.
— Rose... essas são palavras muito graves. E você sabe que fofocas maliciosas têm consequências, não sabe?
— Não é fofoca! — defendeu-se Rose, inflando as bochechas. — Eu só tô falando o que
vi. Vocês que podem verificar, né? Aposto que a verdadeira tá escondida por aí.
Luna pousou sua taça com delicadeza, mas havia algo perigoso em seu movimento. Seu olhar cruzou com o de Cassandra, e ambas pareciam chegar à mesma conclusão silenciosa.
— Anya — disse Luna, com sua voz doce e gentil. — Venha cá, minha querida.
A jovem princesa hesitou, mas levantou-se e aproximou-se, esforçando-se para manter a compostura.
— Sim, minha senhora? — perguntou, tentando soar tranquila.
— Rose, por acaso, tem o hábito de exagerar, mas ela também é uma observadora afiada. E devo confessar, minha querida, que você parece... diferente, ultimamente. Há algo que queira nos contar? — O tom de Luna era suave, mas suas palavras carregavam um peso inescapável.
Anya engoliu em seco, os olhos buscando Cassandra, mas a mãe estava inexpressiva, como se a tivesse abandonado à própria sorte.
— Eu... eu... não sei do que estão falando... — murmurou, desviando o olhar.
Nesse momento, Rose se levantou da cadeira e apontou para Anya, como se estivesse revelando o vilão de uma história.
— Viu? Ela tá nervosa! Quem não deve, não teme!
Os convidados começaram a cochichar, e o ar no salão ficou mais pesado. Luna levantou- se lentamente, sua postura impecável, mas com um brilho perigoso nos olhos.
— Se não há nada a temer, então certamente não se importará de nos mostrar algo que apenas a verdadeira Anya poderia carregar... algo que prove sua identidade.
Anya empalideceu, e sua respiração acelerou. Uma quinta voz se juntou a conversa, finalmente, quebrou o silêncio, sua voz cortante:
— Eu acho que já sabemos a verdade, não é? A verdadeira Anya... está foragida. — Disse Haledi, entrando na sala junto de Sofia.
O murmúrio no salão se transformou em um alvoroço, enquanto Anya dava um passo para trás, os olhos arregalados como os de um animal encurralado. Antes que alguém pudesse detê-la, ela virou-se e correu em direção à saída, mas os guardas já haviam bloqueado o caminho.
Luna suspirou, ajeitando sua coroa com uma calma quase cruel.
— Parece que temos muito a investigar. — Ela olhou para Cassandra, que assentiu. — E muito a descobrir.
Enquanto a falsa Anya era escoltada para longe, Rose, triunfante, sussurrou para si mesma:
— Eu disse que tinha algo errado...
Indíce
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