Skip to main content

Flores de Gelo: O império caído

Capítulos 39

© Todos os direitos reservados.

Flores de Gelo: O império caído Capitulo 5 - Parte V

Depois de se lavar, Heather finalmente voltou para a vila. Cansada e sobrecarregada, a bruxa andava em passos lentos.

Chegando à vila, Heather foi imediatamente abordada por Anya, que a questionou com o rosto marcado pela preocupação:

- Heather, me diga que não matou ele! - suplicou Anya.

- Por que se importa tanto com ele, Anya? Ele te machucou! - argumentou Heather, a voz carregada de indignação.

- Mesmo assim, não acho que a morte seja o que ele merece.

- Então temos opiniões diferentes. - respondeu Heather friamente.

- Ele... está morto? - perguntou Anya, a voz hesitante.

Heather encarou a amiga, seus olhos refletindo um misto de frustração e cansaço. Em um tom decepcionado, respondeu:

- Infelizmente não.

O alívio imediato tomou conta de Anya, mas o peso das palavras de Heather permanecia no ar, trazendo um silêncio desconfortável entre as duas.

Heather respirou fundo, virando o rosto para evitar os olhos inquisitivos de Anya.

- Você deveria me agradecer, sabe? Por não ter feito. Ele não merece a tua compaixão.

Anya hesitou, notando a amargura na voz da amiga. Sua expressão suave endureceu, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos.

- Não se trata de compaixão, Heather. Se fosse assim tão simples... - Anya olhou para o chão, tentando encontrar as palavras certas. - É sobre justiça.

Heather soltou uma risada seca, carregada de ironia.

- Justiça? Justiça para quem? Para ele? Para você? Justiça nunca trouxe nada de bom para quem sofre, Anya. Só atrasa o inevitável.

Anya não sabia o que responder. Heather era como uma tempestade: caótica, imprevisível, mas sempre movida por algo maior.

- Eu não quero que você se torne alguém... alguém que não reconheço. - Murmurou Anya, suas palavras quase engolidas pelo som de passos na vila.

Heather parou. Por um instante, sua expressão pareceu vacilar, mas logo se recompôs, o olhar frio de sempre retornando.

- Não se preocupe. Eu não sou alguém que você precisa reconhecer. - Heather virou-se de costas, caminhando em direção à floresta que margeava a vila. - Cuide de sua bondade, Anya. Ela vai te matar um dia.

Anya ficou para trás, olhando a amiga desaparecer entre as sombras. Sua mente fervilhava de dúvidas, perguntas e um medo crescente: de quem Heather estava se tornando... e de quem ela mesma precisava ser para enfrentá-la.

Anya ainda estava imersa em pensamentos quando ouviu passos leves atrás de si. Ao se virar, encontrou Kikyo, com sua presença serena e olhar profundo. Ela usava um vestido simples, mas sua postura era digna e cheia de sabedoria.

- Você está preocupada com ela, não está? - perguntou Kikyo, com a voz suave, mas firme.

Anya assentiu, desviando o olhar.

- Heather não era assim... Não tão fria, não tão... distante. Ela sempre foi intensa, mas agora parece que algo a consumiu.

Kikyo caminhou até uma cadeira próxima e sentou-se com um suspiro cansado. Por um momento, ficou em silêncio, como se estivesse escolhendo com cuidado suas palavras.

- Heather carrega um peso que nem mesmo você pode entender completamente, Anya.

- Que peso? - Anya insistiu, a preocupação evidente em sua voz.

Kikyo pousou as mãos no colo, entrelaçando os dedos.

- Há alguns meses, Heather perdeu algo... alguém importante. Alguém que ela jurou proteger.

Anya franziu o cenho, confusa.

- Quem? Ela nunca me contou nada sobre isso.

Kikyo balançou a cabeça lentamente.

- Porque Heather não gosta de mostrar suas fraquezas. Mas eu sei. Era uma jovem chamada Lyra, uma aprendiz dela. Heather cuidava de Lyra como se fosse sua irmã mais nova, talvez até uma filha. Mas um dia, Lyra foi tirada dela de uma forma cruel.

Anya sentiu um arrepio.

- Tirada?

Kikyo fechou os olhos por um momento, como se revivesse a dor que não era sua, mas que compartilhava.

- Um homem... um nobre, arrogante e cruel, sacrificou Lyra para alcançar seus próprios objetivos. Heather tentou salvá-la, mas não chegou a tempo. Desde então, ela carrega essa culpa, essa raiva... e uma promessa de nunca mais falhar em proteger aqueles que ama.

Anya ficou em silêncio, as peças começando a se encaixar.

- Então é por isso que ela age assim? Por isso ela... quase matou Peter?

Kikyo assentiu.

- Para Heather, ele não era apenas um agressor. Ele era o símbolo de tudo que ela perdeu, de tudo que ela não conseguiu impedir. Mas você, Anya... você pode ser a luz que ela precisa. Não a deixe cair ainda mais fundo na escuridão.

Anya respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade.

- Eu não vou desistir dela, Kikyo. Não importa o quão difícil seja. Ela é minha amiga!

Kikyo sorriu levemente, seus olhos brilhando com um misto de esperança e tristeza.

- Então talvez ainda haja esperança para Heather... e para todas nós.

Antes que Anya pudesse responder, um estrondo ensurdecedor ecoou pela vila, seguido por um brilho intenso que iluminou o céu noturno. Uma onda de calor invadiu o ambiente, fazendo as janelas vibrarem e derrubando objetos próximos.

- O que foi isso?! - Anya exclamou, levantando-se de imediato.

Kikyo também se pôs de pé, seus olhos arregalados fixos na direção do barulho. Do lado de fora, uma coluna de fumaça negra subia ao céu, acompanhada por chamas que dançavam em tons de vermelho e laranja.

- Uma explosão... mas isso não é natural. - Kikyo murmurou, o tom de sua voz carregado de preocupação.

A porta do quarto se abriu com força, revelando um aldeão ofegante, coberto de fuligem.

- Está tudo pegando fogo! Veio do ar... uma bola de fogo caiu do céu!

Anya e Kikyo trocaram olhares, o coração da princesa batendo rápido.

- Heather... ela estava indo para a floresta! - gritou Anya, saindo apressada.

- Espere, Anya! - chamou Kikyo, mas era tarde demais.

Anya já estava correndo em direção ao local da explosão, o calor crescente e o cheiro de fumaça tornando o ar pesado. Quando se aproximou, viu a cena devastadora: árvores queimadas, solo rachado e, no centro, uma cratera profunda. Algo brilhava lá dentro, pulsando como se tivesse vida própria.

- O que é isso...? - Anya sussurrou, aproximando-se cautelosamente.

Antes que pudesse chegar mais perto, uma figura saiu das sombras. Era Heather, seu rosto coberto de fuligem, os olhos brilhando com uma intensidade estranha.

- Você não deveria estar aqui, Anya. - Heather disse, a voz baixa, quase como um aviso.

- Heather, o que está acontecendo? O que causou isso? - Anya perguntou, tentando controlar o medo e a ansiedade.

Heather olhou para a cratera, e então de volta para Anya.

- Não sei... mas seja o que for, não veio em paz.


  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!

Deixe um comentário

Você está comentando como visitante.
  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!