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Flores de Gelo: O império caído

Capítulos 39

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Flores de Gelo: O império caído Capitulo 6

Morganna<

Passado de Azuris

O nascimento

A noite estava sufocantemente quente, e o ar pesado parecia carregar consigo a tensão do momento. O silêncio do castelo era quebrado apenas pelos gritos de Cassandra, que ecoavam pelos corredores como um lamento desesperado.

Ela estava deitada em uma cama luxuosa, mas nada no ambiente parecia confortável. Seus cabelos negros estavam grudados na testa devido ao suor, e suas mãos agarravam os lençóis com força, como se isso pudesse aliviar a dor lancinante que a consumia.

— Respire, minha senhora, só mais um pouco! — suplicou a parteira, sua voz firme mas carregada de preocupação.

Cassandra arfava, os olhos fechados enquanto as lágrimas corriam por seu rosto. Cada contração parecia rasgar-lhe por dentro, mas havia algo mais. Um peso no coração. Uma dúvida que ela não ousava colocar em palavras.

— Está demorando... — murmurou ela, ofegante. — Algo está errado, não está?

A parteira trocou olhares rápidos com uma jovem criada ao seu lado, mas nenhuma das duas respondeu.

— Não, minha senhora, tudo está sob controle — disse a parteira, embora seu tom denunciasse incerteza.

Um trovão ribombou ao longe, como se o próprio céu estivesse anunciando um presságio. Cassandra sentiu outra onda de dor, mais forte do que todas as anteriores, e gritou com toda a força que lhe restava.

— Está vindo! — exclamou a parteira, posicionando-se.

Os minutos seguintes se arrastaram como uma eternidade. Finalmente, o choro de um

bebê ecoou pelo quarto, mas não trouxe o alívio esperado. Cassandra abriu os olhos lentamente, o corpo exausto e a mente confusa.

— É um menino, minha senhora — anunciou a parteira, entregando o recém-nascido à criada para ser limpo.

Cassandra tentou se levantar, mas seu corpo não respondia. Tudo parecia turvo, e sua visão escurecia aos poucos.

— Deixe-me ver... — sussurrou ela, com um fio de voz.

A criada hesitou por um instante, mas caminhou até a cama e colocou o bebê nos braços da mãe. Cassandra olhou para o pequeno rosto, sentindo uma mistura de amor e melancolia invadirem seu coração.

— Ele... ele parece tão... — Mas sua voz falhou, e seus olhos se fecharam lentamente.

O quarto mergulhou em um silêncio inquietante, enquanto a tempestade lá fora ganhava força.

A tempestade lá fora parecia se intensificar, como se o céu estivesse em luto. A parteira e a criada se entreolhavam nervosamente, observando Cassandra inconsciente, exausta após o parto. O bebê nos braços da criada chorava baixinho, mas havia algo estranho. O som parecia fraco, como um sopro hesitante.

— Ele está muito quieto... — murmurou a criada, tentando embalar o menino.

A parteira franziu o cenho, aproximando-se rapidamente. Pegou o bebê com cuidado e começou a examiná-lo. Suas mãos experientes perceberam algo errado imediatamente: o pequeno corpo parecia frágil demais, e sua respiração era irregular, quase inexistente.

— Não... não pode ser... — murmurou a parteira, o rosto empalidecendo.

Ela tentou estimular o bebê, segurando-o delicadamente, mas com firmeza. Passou os dedos pelo peito do menino, tentando reanimá-lo, enquanto a criada observava com as mãos cobrindo a boca, o desespero crescendo a cada segundo.

— Respire, pequeno... respire! — implorava a parteira, tentando salvar a vida que estava escapando.

O choro do bebê cessou de repente, e o silêncio tomou conta do quarto. A parteira parou, o coração apertado pela realidade que não queria aceitar.

— Não... por favor, não... — disse a criada, sentindo as lágrimas descerem por seu rosto.

A parteira olhou para ela, com os olhos marejados e cheios de dor.

— Ele se foi.

A criada começou a chorar baixinho, enquanto a parteira segurava o bebê com cuidado, como se ainda pudesse protegê-lo do destino cruel. Cassandra começou a se mexer na cama, gemendo baixo, ainda alheia ao que acontecia ao seu redor.

— O que aconteceu...? — murmurou, abrindo os olhos lentamente.

A parteira hesitou, seu corpo tremendo. Aproximou-se da cama e, com a voz embargada, falou:

— Minha senhora... ele não resistiu.

Cassandra ficou imóvel, as palavras parecendo ecoar em sua mente como um golpe cruel. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas nenhum som saiu de sua boca. Ela estendeu os braços, segurando o corpo pequeno e inerte do filho contra o peito.

— Meu menino... — sussurrou, enquanto as lágrimas corriam por seu rosto.

A tempestade lá fora parecia ecoar sua dor, os trovões se misturando aos soluços abafados de Cassandra.

Cassandra segurava o pequeno corpo do filho nos braços, as lágrimas escorrendo livremente enquanto a dor apertava seu peito. O mundo parecia ter parado ao seu redor, mergulhado em um silêncio inquietante, quebrado apenas pelo som da tempestade lá fora.

Mas então, algo inexplicável aconteceu. O ar no quarto ficou denso, pesado como uma névoa invisível. Cassandra sentiu a temperatura cair, e sua respiração se tornou difícil.

A parteira e a criada se afastaram instintivamente, os olhos arregalados.

— Minha senhora... algo está errado... — sussurrou a criada, tremendo de medo.

Cassandra olhou para o corpo do bebê, ainda imóvel em seus braços. De repente, a pele delicada do pequeno começou a se esticar e rachar, como se estivesse sendo marcada de dentro para fora.

— O que está acontecendo?! — gritou Cassandra, aterrorizada, segurando o bebê com mais força.

As rachaduras formaram linhas, e então, palavras começaram a surgir na pele frágil:

"ISSO É CULPA SUA

Cassandra arregalou os olhos, seu coração batendo descontroladamente. Ela tentou soltar o bebê, mas suas mãos pareciam coladas ao pequeno corpo. O sangue começou a escorrer das rachaduras, manchando o vestido da mãe, enquanto as palavras brilhavam em um vermelho intenso, quase como fogo vivo.

— Não! Isso não pode ser real! — gritou Cassandra, desesperada.

A parteira e a criada recuaram até a parede, ambas incapazes de desviar o olhar daquela cena macabra.

De repente, a luz das velas no quarto tremulou e se apagou, mergulhando o ambiente na escuridão. Um sussurro ecoou pelo cômodo, uma voz baixa e distorcida que parecia vir de todos os lados:

— Você nunca estará livre...

Cassandra gritou, mas antes que pudesse reagir, a pele do bebê voltou a se romper, como se estivesse se desfazendo em cinzas. O pequeno corpo desapareceu de suas mãos, deixando apenas o vestido ensanguentado e o vazio nos braços da mãe.

A tempestade lá fora cessou abruptamente, e o silêncio voltou, pesado e opressor.

Cassandra ficou imóvel, os olhos fixos no espaço onde o bebê estivera momentos antes. Sua mente parecia incapaz de processar o que havia acabado de acontecer.

— Minha senhora... — tentou dizer a criada, mas sua voz falhou.

Cassandra finalmente se levantou, trêmula, e olhou para as duas mulheres com uma expressão de puro terror.

— Não digam... nada a ninguém.


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