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As Golpistas- A falsa entrevista

As Golpistas

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As Golpistas A falsa entrevista

P.O.V JENNIE

 

Estava nervosa, não podia negar. Havia medo, adrenalina, determinação e coragem em minhas veias. Minha roupa elegante mascarava meus verdadeiros sentimentos, me deixando impassiva. Meu cabelo estava preso em um coque elegante e um óculos Ray-Ban Meta finalizava minha aparência.

A fachada do banco exalava ostentação. Com formato de antigos templos gregos (o que é uma ironia, já que o banco se chama American), pilares brancos enormes retratavam riqueza, as portas de vidro esfumado deixando seu interior um mistério.

Respiro fundo, subindo os pequenos degraus e entro na porta giratória. O ar gelado penetra em minha pele, fazendo-a se arrepiar. Um guarda observa minha entrada, me fitando de cima para abaixo enquanto vou em direção ao balcão de informações.

— Olá, boa tarde. Meu nome é Jennie e tenho uma entrevista com o gerente Marcus Leon.

A garota em minha frente apenas digita algo na tela e murmura o caminho até a sala do homem em questão.

Subo novamente pelas escadas, um ambiente branco polido. Há várias cabines, com atendentes e clientes, tudo elitizado. Os funcionários se vestem perfeitamente, chega a doer os olhos. Aposto que a maioria é soberba, gente chata.

Tento localizar as câmeras, enviando as imagens para Jisoo. Mas, Jennie, como está fazendo isso? Simples, você já jogou GTA? Pois tem uma cena onde eles usam um óculos para tirar fotos, e sabia que existe mesmo? Chique, né?

Finalmente chegamos até a sala do gerente. A porta de Mogno reluzia o nome Marcus Jones, em ouro. Quando entramos, o ar parecia ainda mais gélido, causando um frio em minha espinha. Uma sala simples, mas que emanava poder, afirmando o legado do banco.

Sua mesa de madeira continha um computador, porta-retratos, porta-canetas e mais uma placa com o nome novamente. Atrás uma bandeira dos Estados Unidos, um quadro dele apertando a mão de algum outro homem branco. Um pequeno sofá de um lugar havia na frente, para eu sentar.

Marcus era um homem americano típico. Loiro de olhos azuis, uma pele que nunca viu Sol, pequenas sardas no rosto. Vestia um terno giz, todo abotoado. Um pequeno lenço branco estava em seu bolso, ao lado esquerdo do peito. Entendiante demais.

— Olá, senhorita Kim. — Estendeu a mão para eu apertar. — Sente-se.

Acenando educadamente, sentei como uma princesa. Olho ao redor e localizo duas câmeras, uma atrás de mim e outra na minha frente. Olho para os lados, fingindo interesse no local, apenas para que Jisoo tivesse consciência de que precisamos ser rápidos para  não sermos pegas.

— Então, Jennie. Pelo que li em seu currículo, está no quinto ano de contabilidade, correto?

Mentira. Mexemos em algumas informações na universidade, para que tivesse tempo suficiente para estagiar. Ao menos, para fazer a entrevista do estágio e conseguir entrar nesse gabinete.

— Jennie, faça ele sair da sala. Preciso acessar esse computador.

A voz de Jisoo soa em meus ouvidos. Sorrio para o gerente e começamos o esquema de perguntas e respostas. Quando me oferecem uma bebida, peço um copo d'água, um bom líquido para cair sem querer.

— Vejo que está interessada em nosso plano de estágio. Pode me dizer o que pretende com a empresa?

Coloco o copo estrategicamente na mesa. Encolho meus braços e olho diretamente para ele. Espero ele focar em minhas respostas, jogo um sorriso e um charme, deixando ele relaxado. Quando estico a mão para pegar a água, bato de propósito, derramando em sua mesa.

— Merda! — Ele exclama.

— Meu Deus, me desculpe, senhor Jones. — Digo, com uma voz chorosa.

Penso em minha filha, em Léo, na perca de Elizabeth e começo a chorar. Marcus se desespera, tentando me acalmar e dizendo que não foi nada grave. Soluço dizendo que estraguei a entrevista e ele saí da sala, em busca de papel para secar a mesa.

Jisoo sopra em meu ouvido que Minnie está no hall, causando um distúrbio. A ideia é focar as câmeras e os seguranças para o escândalo dela, distraindo qualquer guardinha que possa estar olhando para minha imagem.

Pego o pequeno pen-drive, levanto e me debruço na mesa, fingindo arrumar a bagunça. Introduzo no USB disponível e volto a posição. Aguardo um ok de Jisoo, para poder aplicar o vírus no sistema.

— Jennie, tenho o controle das câmeras. Meu acesso é limitado, mas consegui congelar as imagens da sala de Marcus. Vá, libere o vírus, o gerente está no saguão tentando acalmar Minnie.

Me levanto rapidamente e abro a pasta do vírus. Ele começa a instalar e um fio de suor caí em minha coluna. Cada segundo é importante, para a instalação ser concluída. Batuco meus dedos, sentindo nervosismo.

— Jennie, Marcus está voltando. — Jisoo me comunica.

— Vai, vai, vai, vai. — Olho para o painel, 98%.

Preciso de tempo, preciso que Marcus se distraia. Olho para a fechadura e a tranco. No mesmo instante, Marcus tenta abrir. Passo minha mão na testa, recolhendo as gotas de suor.

— Jennie, abra a porta!

— Desculpe, Marcus, não entendi. — 99%, vai caralho, carregue logo.

Marcus girava a maçaneta tentando abrir, mas fingi não ouvir. Vejo 100% e retido o pen-drive. Vou em direção à porta e finjo puxar ela, para ajudar Marcus entrar. Grito para abrirmos juntos, enquanto libero a trava delicadamente. Marcus entra com tudo, me jogando para trás.

— Me desculpe, Jennie. Essa porcaria deve ter emperrado. — Ele estende a mão, tentando me ajudar a levantar.

— Sinto muito, Marcus. Me sinto um amuleto de azar. — Dou um sorriso sofrido, fingindo que tudo é causado pela má sorte.

— Não se preocupe, senhorita Kim, vamos esquecer esse acidente e remarcar?

Sorrio abertamente, o plano era realmente esse. Pego e o abraço, agradecendo e fingindo estar empolgada. Coitado, mal sabe que minha mulher é mil vezes mais gostosa que ele. Quando digo que Hollywood me perde, não estou mentido.

— Obrigada, Marcus, obrigada. — Fingo estar emocionada com a benevolência dele.

Sei muito bem essa simpatia toda para comigo. Ele acha que não percebi seus olhos fincando em meu decote. Idiota, se não fosse parte do plano, iria socar aquela cara dele até ele virar moreno.

— Que tal amanhã? — Sua voz soava esperançosa, como se ele precisasse de mim e não eu dele.

— Pode ser em 10 dias? — Sua feição desmanchou. — Mil perdões por isso, mas minha mãe está vindo da Coreia e não sabe falar inglês, preciso tomar conta dela.

— Claro, entendo, senhorita Kim. Em dez dias nos vemos. — Ele sorriu.

— Estarei esperando ansiosamente.

Com isso me retiro, sorrindo educadamente para todos a minha volta. Olho para fora, vendo Minnie estacionada há alguns metros de distância e viro a quadra, para que ela me pegue na avenida, longe das vistas das câmeras.

— Você perdeu meu show. — Ela me disse.

— Como foi? — Pergunto animada.

— Falei que o banco estava me roubando, comecei a gritar. — Ela ri escandalosamente. — Você tinha que ver, foram todos os seguranças e o gerente vampiro.

Começamos a rir, mas logo a culpa me toma. Meus filhos estão sequestrados e eu me diverti. Sei que eles estão bem, Jackson e Josh ligam todas as noites, e fazem videochamada. Meu coração se quebra a cada conversa, com eles pedindo para buscá-los. Ao menos eram bem alimentados e seguros por Miyeon.

Chegamos no edifício das operações. Era um enorme prédio antigo, que a primeira vista parecia abandonado, mas se você entrasse, perceberia alguns fatos. Ele era todo pichado, com alguns vidros quebrados, móveis podres e um cheiro insuportável de mofo.

Algumas pessoas usavam o estacionamento, então nosso carro passou despercebido em movimentações estranhas. Observamos ao redor e vamos até o elevador. Lisa havia comprado esse prédio há algum tempo, como local principal da operação.

Quando chegamos no 13º andar, o cheiro da limpeza já se encontrava no ar. Seguindo adentro do local, vemos o espaço amplamente aberto. Era um desses andares com ambiente único, geralmente usado para escritórios.

Jisoo estava na frente de um computador moderno, seus óculos refletindo a tela. O som de seus dedos trabalhando ecoava no ar, pois o local estava basicamente vazio, exceto por um quadro branco, com detalhes do plano, algumas cadeiras e uma mesa com comida e café.

Rosé estava ao seu lado, murmurando alguma coisa em seu ouvido. Lisa estava em pé, juntamente de Yuqi, olhando o quadro e fazendo anotações em um caderno. As quatro nos encaravam quando entramos no local.

— Foi perfeito, meninas. — Jisoo fez um joinha, aprovando nosso plano.

Sorrio e vou em direção de Lisa. Ela está concentrada na lousa, passando os dedos pelos fios de conexões. Coloquei minhas mãos em seus ombros, massageando enquanto beijava sua nuca, arrepiando-a instantaneamente.

— Estamos cada vez mais perto, Jen. — Ela sussurrou, seu semblante cansado.

— Logo estaremos todos juntos. — Murmuro em seu ouvido, abraçando-a por trás, tentando passar conforto.

— É o que mais quero. — Ela fechou os olhos e se encostou em mim.

Passei minhas mãos em seus braços, beijando sua bochecha. Um grito nos acorda, Jisoo está comemorando e logo nos chamando para vermos a tela. Engancho minhas mãos nas de Lisa, levando-a comigo.

— Consegui o acesso à planta do banco. — Fizemos um high-five — Agora vamos estudar como quebrar o cofre.

— Veja se ele fica embaixo do túnel, tenho quase certeza que sim. — Lisa pediu.

Jisoo mexe na planta, analisando-a. Mostrando a tela, vimos que o cofre fica bem abaixo onde era os trilhos do metro. Comemoramos a sorte, o que nos deixa apenas com o obstáculo de quebrar.

Olho para Lisa e vejo um resquício de esperança em seu olhar. Ela vira para mim, e nos conectamos emocionalmente. Sabemos que está sendo desgastante e que mal dormimos, mas também sabemos haver esperança. Há um futuro. Há uma chance.

Esperem por nós, crianças. Nossa família irá se reunir de novo e nem o diabo irá nos separar de novo.


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