Skip to main content
As Golpistas- A demissão

As Golpistas

© Todos os direitos reservados.

As Golpistas A demissão

Enquanto delibero, escuto a porta ser aberta. Meu marido entra trôpego e vacilante. Ele caminha escorando-se na parede, visivelmente bêbado . Sinto cheiro de álcool a distância.

— Josh, onde você estava?-Pergunto.

Toda a alegria sentida anteriormente se esvai. Sinto vontade de chorar, mas sou mais forte que isso. Posso ter todos os defeitos do mundo, mas desleal nunca fui. Até agora.

— Não te interessa, Jennie.

Seu hálito acerta meu rosto, causando-me repúdio. Suas mãos grossas apertaram minha cintura, trazendo meu corpo ao encontro do seu. Ondas nauseantes tomam meu ser, e seguro o vômito que se faria presente.

— Estava esperando, querida?

Sua boca tentou alcançar a minha, mas empurrei-o para trás.

— Não me toque, seu nojento. Acha que não sinto o cheiro de puta em você?-Acabo gritando.

Um tapa foi desferido em minha bochecha. Sinto minhas pernas fraquejarem, meu rosto arder e lágrimas serem expulsas de mim. Olho para meu marido, vendo o monstro que ele verdadeiramente é.

— Saia. Saia dessa casa e nunca mais volte.- Levanto, segurando meu machucado.

— Jen, desculpe.. eu..

Ele tenta aproximar-se de mim, mas recuo rapidamente. Sinto minhas costas baterem na parede.

Sinto vergonha tomar o meu ser. Como pude me rebaixar a esse nível ?Como pude aceitar todas as traições, mentiras? Um choro fica preso em minha garganta, o deslustre de minha dignidade. Mas isso acaba hoje.

— Saia dessa casa, Josh. Pegue suas roupas e saia e nunca mais volte.

Ele se move devagar, tentando aproximar-se de mim. Mas levanto as mãos, pedindo para que ele parasse.

— Não irei falar novamente: SAIA DESTA CASA!

Ele vai em direção ao quarto e fecha a porta. Acabo desabando no chão, sentindo tudo ao mesmo tempo. Vergonha, tristeza, fracasso, alívio. Uma quantidade de emoções desenfreadas e guardadas por anos.

Josh sai de meu quarto carregando uma mala. Minha mala. A que comprei após economizar muito. Ele apenas passa por mim e vai para a porta. Mas antes de sair, ele olha para mim e diz:

— Nunca te amei. Só te achava gostosa. Então um grande VÁ SE FUDER!

O choro maior que eu segurava, agora deságua em meu peito. Perdi anos com alguém que me menosprezava. Alguém cuja intenção era apenas me mostrar como seu troféu.

Sei que não deveria estar chorando por ele. Sei disso. Mas como impedir tamanha sensação de tristeza em meu âmago? Como deixar de pensar no fracasso que sou?

Sem minha filha, divorciada duas vezes, trabalhando por uma merreca. E agora mais sozinha que nunca.

Um pequeno toque chama a minha atenção. Olho em meu celular e encontro uma mensagem de um número desconhecido. Enxugo rudemente minhas lágrimas e tento ler.

📱Oii, aqui é a Lisa.👋Tomei a liberdade de anotar seu telefone. Espero que tenha se divertido. E espero vê-la novamente ;)

Um sorriso toma conta do meu rosto. Sei que é tolo e precipitado, mas acabei gostando de verdade da Lisa.

Ela tem uma aura cativante, uma gentileza e uma beleza excepcional. Como essa mulher é ladra e não modelo?

Resolvi respondê-la.

📲Olá, Lisa. Obrigada pelo jantar. Já está tão apaixonada por mim, que já quer um novo jantar? 😝

Encosto minha cabeça na parede, respirando fundo. Eu preciso me acalmar e tomar um banho. Com muito custo fui em direção ao banheiro e liguei a ducha o mais quente possível.

Aproveito e tiro todo resquício de sujeira em meu corpo. Mas sei que a maior sujeira é a emocional. Derramo as últimas lágrimas que permito e saio para enfim dormir.

Troco o lençol e fronha, tirando os últimos odores de Josh e coloco apenas uma camisola fina para dormir. Por hábito, pego meu celular e vejo uma nova mensagem de Lisa:

📱🤣Paixão não sei, mas que sua companhia agradou a mim, tenho certeza.

📲E o que tem em mente?🤭

📱Sua boca na minha.

📱Desculpe, foi o meu corretor.

📱Quero te levar dar uma volta.

Uma volta? O que isso significa? Apenas visualizo e não respondo. Quero ignorar o fato de meu coração ter acelerado ao ler a mensagem de sua boca na minha. Porra, como eu quero isso.

Lembro do arrepio causado por seu beijo em minha bochecha. Em como ela me deixou a deriva de desejo carnal. Desejei que ela me tocasse como se toca em um violão.

Com seus dedos transformando minha voz em melodia. Sim, eu estou com tesão por Lisa. Por aqueles olhos quentes, aquela boca vermelha e carnuda. Em sua voz doce, porra, por seu todo.

Não sei como e que horas dormi, mas acordo estilhaçada. Meu corpo dói como um inferno, minha cabeça lateja. Com um suspiro, acabo indo escovar meus dentes e me preparo para iniciar a rotina de merda.

Quer saber? Hoje darei o luxo de ir de táxi. Abro meu cofre e vejo que Josh levou tudo, exceto o envelope. Raiva e ódio tomaram conta de mim, mas o alívio fica em meu peito ao ver que ainda havia dinheiro dentro.

Coloco uma calça social preta, uma camisa social vermelha, que combina com o vermelho de meu salto. Uma maquiagem realça meus olhos gatunos e chamo um carro.

Sinto o aromatizador de ambientes tomar conta de minhas narinas. O frio do ar-condicionado é bem-vindo. Sinto-me uma nova mulher. Olhei para minha mão e vi a aliança barata que aquele mequetrefe me deu. Arranco e jogo pela janela.

Uma risada toma conta de meus lábios, mas quando percebo o motorista olhando-me pelo retrovisor, suprimo qualquer vestígio. Mas a alegria interna ainda resplandece em meu peito.

Ao chegar na loja, estranho ao ver que a entrada ainda estava fechada. Uso a cópia de minha chave para entrar e deparo-me com o velho seboso empacotando as coisas.

— Senhor Arnold? O que está havendo?

Ele está guardando as joias todas em caixas aveludadas. Até as joias no expositor estão guardadas. Sinto um aperto no coração, pois imagino o que irá acontecer.

— Que bom que chegou, Jennie. Estou fechando a loja.

Afogo-me com a saliva e começo a tossir. Como assim fechar a loja?

— Como assim fechar a loja?-Questiono.

— Esse bairro não é mais seguro.

Ele vira as costas e vai até os fundos. Olho abismada para a loja, uma nova dor se instala em meu peito. Não posso chorar, não mais. Respiro fundo e vejo-o voltando com um envelope branco.

— Aqui está o seu salário do mês. Obrigada, Jennie. Fique bem.

Após dizer isso, ele faz sinal com a mão, para que eu saísse da loja. Acabo atravessando a rua e indo para uma cafeteria que havia em frente. Peço apenas um café e um bolo de canela.

Que porra que irei fazer agora? Sem filha, sem marido, sem emprego. Parabéns, Jennie. Sua vida é uma merda. Sinto o gosto amargo do café colaborar com meu interior.

O que eu preciso é espairecer. Preciso desligar a mente, ao menos um dia ficar tranquila. Um dia para que eu possa me sentir livre e sei exatamente quem poderá me ajudar com isso.

📲Lisa? Ocupada?

Enquanto aguardava, bebi um pouco do líquido amargo. Olhando pela janela, via o movimento intenso das ruas. Um vai e vem desenfreado, com cada pessoa em sua bolha, vivendo seu dia.

Quantas pessoas sofrem e não sabemos? Quão pequeno pode ser nosso problema, perante outros. E seu contrário também, quão grande? Acabo acordando do meu devaneio, com o toque do meu celular.

📱Nunca para você, boneca.😜

📲Fácil assim, bb?

📱Só com você ;)

📲O rolê ainda está de pé?

📱Com certeza. Quer que te busque em seu trabalho?

📲Fui demitida 🙁, Mas continuo por aqui ;)

📱Jennie, isso foi culpa minha?😢

📲Talvez, mas não esquenta. Eu odiava aquilo 😅

Mordo os lábios, reprimindo qualquer sentimento negativo. Sim, havia culpa de Lisa no fechamento daquela loja. Mas Arnold queria motivos para fechar há anos, então ele juntou A+B para dar C.

📱Irei compensar você. Onde você está?

Um sorriso espalhou pelo meu rosto e meu coração palpitou com a emoção de vê-la novamente. Sei que não deveria estar emocionada, a gente não se conhece há nem 24 horas, cacete.

Mas ela é charmosa, gentil, engraçada e tratou-me bem. Isso já a fez cair em minha graça. Mas o que eu mais percebi foi o afeto que havia para com sua mãe. Se você quer saber como alguém é de verdade, observe a maneira que ela trata a mãe.

Lisa era carinhosa o tempo todo. Sempre abraçando e beijando a Elizabeth. Ela servia, ajudava e olhava-a com carinho.

Meus pensamentos são quebrados quando um Impala preto, tocando AC/DC parou na frente da cafeteria. Nem precisei olhar para ver que era Lisa. Porém, as outras duas garotas desceram juntos. Chu e Rosie.

— E aí, boneca?

Lisa usava um óculos de sol em seu rosto. Uma camiseta preta, cheia de furos. Sua calça cargo era preta e seu tênis era branco. Seu cabelo e franja era escondido atrás de uma bandana camuflada.

Chu usava um macacão jeans, com uma camiseta listrada em preto e branco. Seus pés usavam um Vans quadriculado. Seu cabelo também estava oculto por uma bandana camuflada e seus olhos não eram vistos por seus óculos escuros.

Já Rosé usava uma calça e um moletom 20 vezes maiores que ela, usava os mesmos óculos de ontem e havia um pirulito em sua boca.

Um trio delinquente. E eu destacava-me por minhas roupas sociais. Não combinamos em nada, mas mesmo assim ela olhava para mim. Com seu corpo descansando no capô do carro, olhando e sorrindo para mim.

— Demorei muito?-Ela perguntou, olhando por cima da lente escura.

— Chegou na hora certa. -Respondo brincando.

— Quer umas roupas mais confortáveis?

Ela olhou para mim, de cima para baixo, analisando meu look. Acabo dando de ombros e observo ela ir aos fundos do carro, pegar algo no porta mala.

— É da Chu, mas acho que cairá bem em você. Apronte-se, hoje iremos nos divertir.

Sua risada aqueceu meu coração. Pegando a pequena mala, vou até o banheiro vestir as roupas. Confesso que estou animada, há muito que não saio em rolês. E nunca saí com foras da lei.

Mal espero ver o que acontecerá.

 


  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!

Deixe um comentário

Você está comentando como visitante.