
As Golpistas Local que ela pertence
Lisa assobiava enquanto dirigia a caminhonete. Apesar do cansaço corporal, devido uma noite caliente, estávamos empolgadas. Finalmente iria ter o meu bebê comigo. Nada tiraria aquela felicidade genuína.
Ao longo desses dois últimos meses, tratei de ajeitar a casa para ela. O quarto, com tema de Hello Kitty, já estava prontinho para recepcionar a nova dona. Também comprei novas roupas para ela, vários vestidos lindos.
Pintei seu quarto, montei os moveis com a ajuda de Lisa. Jisoo deu muitos presentes e Rosé comprou um volante para que ela já começasse a gostar de carro. Agora tinha uma cadeira para cada carro delas, inclusive nos de Lisa.
As preocupações com a segurança de Aime era tocante. Seu quarto foi feito com a maior precaução e tem até uma parte onde pintamos com uma tinta especial, onde ela poderia desenhar com giz de cera.
Lisa comprou um material completo de pintura, com diversas cores de canetinha, lápis, guache. E também uns 15 livros de colorir. Acontece que duvidei se era para Aime mesmo, pois a flagrei várias vezes colorindo os cadernos.
Como trabalho e estudo, agora Lisa cuidaria dela de manhã. A tarde e a noite, ela ficará com Jisoo e Rose, até Aime se acostumar com a nova baby sister. Nunca quis abusar assim das minhas primas, mas elas insistiram e cedi.
E, se tudo der certo, Léo também ficará com ela. Espero que Lisa consiga adotá-lo e fiquem amigos, parceiros, irmãos. Nunca pensei em dar irmãos para Aime, mas é bom ter a companhia de alguém com a idade próxima. E ele parece ser um doce de menino.
— Ansiosa? — Lisa me pergunta.
— Muito. Esperei muito tempo para isso.
Sentia vontade de pular no banco, tamanho agito. Aumentei o volume do rádio e comecei a cantar, para aliviar um pouco de minha energia. Lisa apenas riu, mostrando aquela bendita covinha.
— Fast cars, drop tops and tank tops. Diamonds on my tick-tock.That's just my lifestyle, oh-whoa.
Quando vi, chegamos na cidade. Conhecia cada cantinho, lembrava dos moradores, da época escolar. Isso não quer dizer que gostava de estar ali. Minha vida nunca pertenceu aqui. Nunca serei daqui, de fato.
Lisa seguia o GPS, indo em direção ao bairro do subúrbio. Agora faltava pouco para chegarmos na casa de meus pais. Meu coração acelerava em expectativa, sufocado em angústia.
Logo estacionamos em frente a casa. Mas antes de sairmos, Lisa puxou minha mão, para que pudesse olhar para ela. Vi em seus olhos um pouco de ansiedade. E seus dentes perolados, prendiam o lábio inferior.
— O que foi? — Perguntei, afinal ela passou a viagem em silêncio.
— Jen, eles sabem que você.... que eu?
Entendi a sua aflição. Ela estava indo conhecer os sogros e queria saber se pode chamar assim. Tão fofa, tão preocupada. Linda demais.
— Sim, babe. Ele sabem que fico com mulheres. Mas não sabem que somos namoradas.
Ela engoliu em seco e assentiu positivamente. Vejo Lisa sair do carro, dar a volta e abrir a porta para mim. Olha como é cavalheira. Pegando em minha mão, entrelaçamos nossos dedos e fomos em direção à porta.
Duas suaves batidas foram dadas e logo escuto o som de passos. Minha mãe abre a porta e sorri. As linhas de expressão fazem pequenas rugas ao redor dos seus olhos. A casa cheirava a Jasmin, mesmo do lado de fora dava para saber que havia chá da iguaria.
— Finalmente veio pegar sua filha. — Seu tom não era reprovador, era aliviado.
— Minha vida está nos trilhos, posso levar Aime para ela.
Min-ji apenas concorda com a cabeça e abre a porta, nos dando espaço para entrarmos. Seus olhos castanhos avaliavam Lisa, que estava tímida atrás de mim.
— E quem é essa bela jovem? — Mamãe perguntou para ela.
— Sou Lisa Manoban, senhora Kim. — Ela se curvou. — É uma honra conhecê-la.
— Pode me chamar de Min-ji. — Minha mãe esticou a mão, para que Lisa apertasse. — É amiga de minha filha?
Sinto Lisa ficar rígida. Coloco minha mão em sua cintura e sorrio para minha mãe.
— Não, mamãe. Ela é minha namorada.
Minha mãe a olhou de cima para baixo e sorriu. Senti um alívio tremendo, pois esperava um sermão sobre meu término recente e já estar engatada com outra pessoa. Não que ela esteja errada, porém, poderia passar a vibe que estou usando Lisa como estepe.
— É um prazer, Lisa. Entrem, acabei de passar um chá.
Entramos e o local estava silencioso. Procurei por Aime e não a encontro em lugar nenhum. Não é tão tarde nem também tão cedo. Estranhei o fato de que ela pudesse estar dormindo, Aime sempre foi regrada nos seus horários.
— Cadê Aime, mãe?
Vejo minha mãe de costas, mexendo com o bule. Ela serviu três xícaras e se virou para mim. Um prato com cookies caseiros foi depositado na mesa, um acompanhante para nosso chá. Bebo um gole e sinto o líquido abraçar minhas papilas gustativas.
— Ela estava muito agitada com a mudança, então demorou a dormir. — Suspiro, aliviada em saber que era apenas ansiedade.
— As coisas dela já está fora do quarto, senhora Kim? — Lisa perguntou. — Assim consigo já carregar para o interior da caminhonete.
— Sim, algumas caixas já estão fora do quarto. — Lisa acena positivamente. — Mas me conta, Lisa. Quantos anos você tem? Faz o que da vida? Sabe que criança não é brinquedo.
Prendo a respiração. Minha mãe nunca foi de interrogatório, contudo, hoje decidiu bancar Holmes.
— Bem, tenho 22 anos. — Lisa brinca com a borda da xícara. — Trabalho em uma oficina especializada, estou estudando engenharia mecânica e seguir na área de montagem de automóveis. E sim, sempre amei crianças e estou na fila para a adoção de um garotinho especial.
Minha mãe parece sem palavras, suas sobrancelhas levemente arqueadas. Toma essa, Min-ji. Escolhi uma mulher foda. Olho para minhas unhas, esperando ela falar alguma coisa.
— Interessante. — Minha mãe fala. — Parece que minha filha teve sorte.
— Quem tem sorte, sou eu. Me sinto privilegiada. — Lisa diz.
— E como se conheceram?
Bem, mamãe, temos um tópico sensível. Ela roubou a loja que trabalhava, me chamou para jantar em sua casa, no dia seguinte me levou ver filme e correr ilegalmente nas duas de Nova Iorque.
— Ela trabalha para minha melhor amiga, local onde eu trabalho. — Mas que mentira. — Jennie me encantou desde o primeiro momento que coloquei meus olhos nela.
— Saiu da joalheria, querida?
Solto um pigarro. Outro tópico sensível. Será que é pedir demais uma intervenção divina, onde me faz desmaiar e quando acordar, nada disso é questionado? É, acho que pedi demais porque me sinto bem acordada.
— Por acaso conheci Jisoo.
Minha mãe se engasga e vejo Lisa levantar para dar pequenos tapas em suas costas. Aos poucos Min-ji se acalmou e olhou assustada para mim.
— Jisoo? Nossa Jisoo?
— Sim, mãe. Eu a encontrei. — Vejo pequenas lágrimas em seu rosto.
— Que maravilha, filha. Traga-a para jantar aqui.
— Pode deixar, mamãe.
Antes que qualquer uma falasse mais alguma coisa, escutamos pequenos passos. Olho para a porta e meu coração dispara loucamente. Aime aparentava sono, mas seus olhos estavam bem abertos olhando para mim.
Com um pequeno grito, ela correu em minha direção. Me abaixo e a encaixo em um abraço regrado de amor, carinho e saudades. Seu cheiro de morango invade minhas narinas e aprofundo ainda mais meu aperto.
— Mamãe disse que viria, não disse, meu lírio?
— 'Vo' embora com a mamãe?
— Fiz juradinho de dedo. Não se quebra juradinho. — Sorri para ela.
Começamos a transpor as caixas no carro. Lisa levava as coisas mais pesadas, enquanto eu carregava as caixas de roupas. Foram algumas viagens, entretanto, nada me cansava. O fato de estar com minha Aime, me dava gás para continuar.
Terminamos tudo e Lisa brincava com Aime de pega-pega. Sua risadinha era um cântico para meus ouvidos. Logo elas correram atrás de mim, mas tropiquei e caí na grama. Lisa fez Aime me fazer cócegas.
Minha mãe observava tudo com um pequeno sorriso. Acho que ela sentia a felicidade que transbordava de mim. E sua aprovação para com Lisa, deixou meu interior em êxtase. Não que eu precisasse, mas sempre é bom.
— Agora, quem está pronta para conhecer a nova casa? — Lisa perguntou, colocando Aime em seu colo.
— EUUUU! — Aime gritou.
Nos despedimos de minha mãe e fomos em direção ao veículo. Aime estava comportada na cadeirinha e Lisa cantava músicas infantis com ela. Vi minha filha se encantar com ela e me faz tão bem.
— BOM DIA, O SOL JÁ NASCEU LÁ NA FAZENDINHA. Vai, Aime. — Lisa fazia um microfone imaginário.
— Tia, prefiro a do tubarão.
— 'Pera aí', vou procurar.
Tirei o celular das mãos dela, vai que causa algum acidente. Vasculho em seu Spotify e acho a bendita música. Odeio-a mais que tudo, porém faço um esforço para agradar minha filha. Logo aquela melodia começa a tocar nos alto-falantes.
— BABY SHARK DU-DU-DU ! BABY SHARK DU-DU-DU!
Por incrível que pareça, quem está cantando a pleno pulmões, não é minha filha. Sim, minha doce namorada está berrando a música, e Aime bate palmas e canta junto. Sinto que vou morrer nessa viagem.
Ah, qual é, você sabe que gosto de hipérboles. Acontece que estava morrendo, sim, mas de amor. Saber que Lisa e Aime se dão bem, é um grande passo para nosso relacionamento. Meu dia não poderia estar melhor.
Eu só não sabia que meus dias de alegria estavam por terminar.
Indíce
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