
As Golpistas O Túnel
P.O.V. LISA
— Tenham cuidado! — Olhei para as meninas atrás de mim.
Nós seis estávamos com roupa escura, lanternas na cabeça e atenção ao máximo. O túnel abandonado era medonho, com cheiro pútrido, teias de aranhas, ratos infinitos e claustrofóbico.
Era uma pequena expedição, o qual somente eu deveria fazer, porém, minhas amigas não quiseram me deixar sozinha. Com um mapa, um trilho e uma metragem calculada, estava indo em direção ao que achávamos ser abaixo do cofre.
A ideia é bem simples, enquanto Roger e as meninas com aparência de Yuqi, Minnie e minha, assaltam o banco, distraindo a polícia e as pessoas, eu entro por baixo. Ainda preciso resolver algumas questões, mas nada que não consiga solucionar.
Com muita concentração, conto os passos estipulados e logo acho onde seria meu 'destino'.
Aponto com a lanterna para cima e tento achar qualquer sinal de confirmação. Logo mais luzes se encontram com a minha e percebo mais a frente, o símbolo do banco.
— Acho que encontramos. — Digo, com baixo tom.
O grande A, em estilo grego, brilha em dourado. Acho que eles subestimaram o poder dos ladrões, ou superestimaram sua segurança. O importante é: chegamos ao nosso destino, agora estava na hora de começar as obras.
— Pelos cálculos, são 80 centímetros de concreto. Então vai ser necessário umas 6 bananas de TNT.
— Vamos marcar e sair daqui. — Jisoo disse.
Concordei, esse local me dava calafrios. Com minha câmera profissional, tirei foto do local. Trouxemos giz e começamos as marcações, onde estávamos. Também estipulamos uma altura do túnel, para trazermos uma escada que se adeque.
— Pronto, vamos voltar.
As menias assentiram e demos meia-volta. O retorno continha um silêncio sepulcral, cada uma com peso em seus ombros, sentindo o prazo esgotar e o fim do acordo. O fardo de três vidas despejado em mim.
Tento respirar fundo, mas o ar parado desse ambiente não permite. Nossos passos ecoam, aumentando ainda mais a sensação do local fechado, dificultando minha respiração. O ar parecia faltar, e uma crise se instalava em meu peito.
— Lisa, está tudo bem? — Jennie pergunta.
Sua mão pousou delicadamente em meus ombros. Suas feições, apesar de estarem cansadas, mostrava preocupação comigo. Odiava isso, que ela se preocupasse comigo, quando há coisas mais relevantes do que a mim.
— Estou, sim, não se preocupe. — Dei um sorriso fraco.
Sigo a liderança, escutando pequenos sussurros das meninas atrás de mim. Me sinto péssima em envolvê-las, mas não consigo dar conta de tudo sozinha. Mas tudo bem, no fim, me entregarei a polícia e direi que as coagi com sequestro.
Os 'dublês' infelizmente serão consequências, mas ao menos espero liberar as meninas. Quando perceberem o assalto do túnel, espero que elas estejam longe, para não sofrerem prisões.
Essa foi a única solução que encontrei para que elas não sofram danos. Esses causados pelas minhas escolhas passadas. Suspiro profundamente, tentando não chorar, não demonstrar fraquezas. Agora não é hora disso.
Logo vejo o fim do túnel, e com isso a saída 'fechada'. Abro e empurro a porta metálica, logo enchendo meus pulmões de ar(nada puro) e o alívio percorre minhas veias. Ergo meu rosto, em busca de um pouco do Sol e estremeço ao perceber que passarei inúmeras horas dentro daquele buraco.
— Graças a Deus, oxigênio. — Yuqi diz.
Ela estava diferente comigo. Sempre tivemos nossas diferenças, cercadas de deboches e alfinetadas, porém agora, estávamos unidas. Seu apoio tem sido valioso e sua ajuda em busca de nossas dublês está fenomenal.
— Vamos para o cafofo, bora começar a exploração.
Nos dividimos em dois carros, eu e Jennie em um e as outras quatro em outro. Desde que nossos filhos foram levados, Jennie e eu andamos praticamente inseparáveis. Meu medo que ela seja uma próxima vítima, não permite que me afaste muito.
O silêncio dentro do veículo é sufocante, mas não estamos animadas para ouvir música. Não há risadas, conversas triviais, qualquer resquício de alguma tranquilidade. E isso dói, como se houvesse um ferro em meu coração.
Mesmo assim, ainda há cumplicidade. Sua mão esquerda sempre segurando a minha direita. O peso no anel em meu anelar, afirmava ainda mais meu compromisso com ela e com nossa família. É minha responsabilidade.
— Não é sua culpa. — Jennie diz. — Pare de carregar esse fardo sozinha, Lisa.
Não há acusação em seu tom, apenas apreensão. Mas imagino que ela deva se sentir solitária, tendo em vista que mal abro minha boca. Minha mente não permite alívio, então ao menos alivio seus ouvidos, das palavras que quero jorrar.
Jennie cuida de mim mesmo sem que eu peça — atenta em cada detalhe, mesmo enquanto desmorona por dentro. Ela quem faz as comidas, mantém a casa pronta para nossos filhos e ainda ajuda nas oficinas. Não que eu não faça nada, porém meu foco está totalmente em estratégias.
Faz 4 dias desde o contato, e agora sinto o prazo logo ali, brincando comigo. Temos tantas coisas para fazer antes desses 9 dias. Jisoo passa noite em claro, fazendo as modificações e Rosie a ajuda como pode.
Todas estão sobrecarregadas e sinto muito por isso. Por mim, faria tudo sozinha, carregaria esse problema. Mas preciso delas, infelizmente. Tento amenizar o máximo das cargas, formando formas mais simples.
Chegamos no prédio abandonado e já observo se estamos sendo vigiadas. Vejo o carro de Rosie chegar, então as aguardo para entrarmos no elevador juntas. Logo subirmos e entramos no escritório, nossa verdadeira base de operação.
Sento na mesa de trabalho de Jisoo, logo conectando minha câmera e imprimindo as fotos. Coloco-as no mural, onde podemos escrever a estratégia que usarei e firmamos as contas. Passo tudo em um papel, marcando com X onde as bananas serão coladas.
— Vamos precisar de um timer, e vamos sincronizar as horas. — Comento.
— Tem um prédio em cada lado do banco, vamos nos dividir em duas para os disparos. — Minnie comenta. — Vou em um e Yuqi em outro.
— Certo, temos aqui 10 TNT. — Comento, analisando e pensando na potência. — Vai ser necessário umas 7, então vamos usar 5 para quebrarmos hoje e uma para o dia do assalto
— E as outras? — Jennie questiona.
— Vai ser duas na delegacia, uma para o Roger usar no cofre e sobra uma para garantia.
— E como vamos disfarçar no dia? — Yuqi pergunta.
— Vou fazer Roger explodir o cofre falso enquanto assaltamos o verdadeiro. — Digo.
— Cofre falso? — Minnie questiona.
Abro a planta do banco e mostro o motivo de minha felicidade. Como era de se esperar, o banco criou um cofre falso, onde tem pertences falsificados e notas rastreáveis. Tudo para enganar o bandido, e mantendo o ouro, joias e dinheiro em outro. Genial.
— Hoje a noite, à meia-noite, vamos começar a operação. — Olho para as meninas. — Vamos aos apetrechos.
Enfileiro 4 relógios, sendo um para mim, um para Minnie, um para Yuqi e um para Jisoo. Sincronizo as horas e ajusto os alarmes, com uma diferença de dois minutos antes para o casal.
— Minnie e Yuqi, o relógio de vocês irá despertar 20:44, hora que vocês irão começar a acender os fogos. — Olho para Jisoo. — Vamos programar as bananas para explodirem às 20:46, a hora que temos certeza que o barulho irá começar.
Após acertarmos os detalhes, vamos para a ação, não há tempo a perder. Eu e Jisoo cuidamos dos cronômetros, Yuqi, Minnie e Jennie vão nos prédios montarem os fogos. Como os prédios já foram investigados para uso, elas podem ir e voltar sem medo: Jisoo deu um jeito nas câmeras de segurança.
Outra coisa que me inquieta é o quanto Jisoo está envolvida nisso tudo. Ela praticamente não tem parado muito, focada em informática e mecânica. A sorte é que eu e Rosie conseguimos apoiar na parte dos veículos, porém somos inúteis no quesito cibernético.
Já adiantamos o processo dos infravermelhos, para guiarmos os automóveis via controle, agora só estamos sincronizando o volante(a parte mais complicada). Essa parte agora é única e exclusivo delas, minha parte será outras.
Jennie já foi para a casa, descansar. Continuo na rua, preciso comprar pá, carrinho de mão, e alguns carrinhos de controle remoto, com tamanho grande. Vou contratar uns mercenários também, para me ajudarem a tirar o entulho.
Tudo pronto, me encaminho para o túnel, para colar os adesivos de TNT. Confiro o timer, aciono-o e saio do túnel, deixando as ferramentas preparadas ali perto. Saio do local, em busca de ar e vejo um carro se aproximando. Reconheço o Mercedes de Jennie e franzo o cenho, afinal não era para ela estar aqui.
— Jennie, o que faz aqui? — Pergunto.
Ela trajava um conjunto de moletom preto, uma touca e um tênis na mesma cor. Quase sorrio diante a cena, uma criminosa camuflada em minha frente. Ela sorria para mim, transmitindo paz. Logo selou meus lábios, segurando em meu pescoço.
— Vim ficar com minha mulher, posso? — Seus olhos carinhosos eram um bálsamo para meu peito.
— Não é seguro, boneca. — Tento a afastar de mim, pois além de suada, ali poderia desmoronar.
— Não é seguro estar longe de você, bebê. — Seus olhos se conectaram aos meus. — Lisa, entenda de uma vez: você não está só. Nós estamos juntas, nós quatro e as agregadas da Yuqi e Minnie.
Solto um sorrisinho ao ouvir o nome das duas últimas. Essa hora elas estão prontas para soltar os fogos, causando um barulho enorme e disfarçando nossa explosão. Agradeço mentalmente por ter amigas dispostas a me ajudar assim.
— Desculpe, babe, prometo que terei isso em mente.
Olho para o relógio, vejo que já eram 20:43. Essa parte é crucial para as coisas darem certo. Uma camada de concreto ainda ficará, pois o cofre não pode desmoronar. Com o coração aperto, solto uma reza e agarro ainda mais o corpo de Jennie: a hora chegou.
Um leve tremor no chão indica que houve explosão, e o céu colorido mostra que os fogos abafaram o som. Olho para o túnel e percebo uma nuvem de poeira sair pela porta, indicando a quebra dos materiais.
Esperamos mais uns minutos, ainda vendo as luzes e ouvindo os fogos de artifícios. Minnie e Yuqi já saíram do local, pois deixaram os fogos queimarem mutualmente. Jisoo cuida pelas câmeras e mandou um ok, indicando que não houve movimentos suspeitos. Os vigilantes do banco saíram em busca de informações da rua.
Olho para Jennie e a beijo, comemorando a nossa sorte. Com pequenas lágrimas nos olhos, Jennie sorri e me abraça, suspirando e buscando conforto. Estávamos cada vez mais perto de pegamos nossos filhos de volta. Agora só falta limpar o túnel de todo entulho e vamos começar a ação para o roubo.
Mas antes de voltarmos para a entrada, meu celular toca. Um número desconhecido aparece na tela, me instigando curiosidade.
— Alô? — Atendo.
— Lisa?
Indíce
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