
As Golpistas Na terra dos sonhos
— E como você acha que faremos ela fazer isso?
— Com uma linda garotinha, que se chama Aime.
Chegamos na Disney depois de cinco dias na estrada. Aproveitamos cada momento, registrando com a câmera profissional de Lisa e com nossa memória. As crianças ficavam espremidas entre a pelúcia, mas acabaram nem se importando.
Logo o castelo ficou visível e as crianças ficaram empolgadas. Lisa desceu e pediu para aguardarmos, que ela voltaria para trazer nossos ingressos. Confesso que estava ansiosa, afinal é a porra da Disney. Quero ser uma princesa.
Agora preciso entrar em um consenso sobre qual. Obviamente não a Cinderela, não tenho cara de empreguete. Branca de neve é uma vagabunda, com 7 anões para ela. Bela adormecida, talvez. Gosto de dormir, seria burra em espetar meu dedo. Só esse lance de beijar alguém dormindo, isso me pega de um jeito negativo.
Ariel nem pensar. O que ela tem na cabeça em querer ser humana? Talvez a Rapunzel. É, ela foi tirada da sua vida e presa numa torre, igual a mim. Exceto que ninguém tirou minha vida e nem fiquei numa torre.
Pocahontas é otária para macho, Mulan fala com um grilo. É, não tem jeito, serei a Bela. Já me apaixonei por um monstro, sou inteligente, sou bonita. Só qualidades que uma boa princesa precisa ter.
— Quero ser o Olaf, tia Jennie. — Léo disse. — Gosto de abraços quentinhos.
— E você, filha? O que você vai ser?
— Vou ser a Frozen, mamãe. — Ela sempre amou esse filme.
— Seremos melhores amigos. — Léo se virou e observou Aime como pode.
Sorrio com a cena atrás de mim. Eles voltam a falar animados, conversando sobre como iriam se fantasiar e andar de mãos dadas.
Lisa nos assustou com uma batida na janela e mostrava nossos passaportes. Logo nós quatro estávamos do lado de fora, cantando e dançando a música Let it go. Lisa até fazia a coreografia, igual a do filme.
Entramos na imensa fila e adentramos ao parque. Ali era imenso, por isso compramos aquelas mochilas com guia, assim as crianças não fugiriam da gente. A cada 10 passos, a gente se encantava.
Logo fomos para as fantasias, e achei um absurdo não poder me fantasiar de Bela. Claro, essa fantasia eu já tenho, pois sou graciosa o tempo todo. Mas não custava mostrar para os outros. Apenas as crianças usavam fantasia.
Estava emburrada, até Lisa enlaçar minha cintura por trás. Sua respiração em minha nuca era eletrizante, com a voz rouca, que falava suavemente em meu ouvido, fez com que simplesmente derretesse.
— Você sempre será minha princesa. — Ela sussurrou.
Confesso que ela ainda me desestabiliza. Suas mãos macias faziam um carinho em minha cintura, e acabei suspirando em deleite. Virei meu rosto, com a finalidade de selar nossos lábios.
— Vem, vamos aos brinquedos tirar foto.
Claro que nem todo o esplendor do parque era páreo com minha beleza. As fotos só estavam lindas porque estava presente nelas. Claro, nossas crianças estavam resplandecentes tamanha felicidade.
Fomos às xícaras malucas e confesso que senti um leve enjoo. Aquele troço ficava girando, girando, girando de um lado. Girando, girando para outro. A sorte é que minha resistência é alta e assim consegui segurar.
Depois fomos para as montanhas-russas que haviam. Não curto muito esse negócio de subir e descer, cair, despencar. Gosto muito do chão e da gravidade. Meu brinquedo favorito é o carrossel, isso, sim, é brinquedo bom.
Lisa quis ir às águas, se aventurar. Claro que as crianças amaram a ideia, então lá fomos nós. A fila era imensa e já estava pensando em desistir. Aime e Léo pulavam animados e isso foi o combustível para aguentar firme.
Subimos naquele troço, e começamos a deslizar pelo rio falso. As crianças gritavam felizes e me contagiei, erguendo meus braços e gritando também. Lisa quicava no banco, mais animada de todas.
Após descermos, ela quis ir no Star Wars Galaxy. Como Aime gostava e Léo também, fui covardemente coagida a ir. Lisa ficava imitando o Chewbacca e eu tentava me desvincular dela, essa vergonha estou passando no crédito.
Fomos para um lugar onde montaríamos nosso próprio sabre de luz. Lisa escolheu vermelho, Léo azul, Aime violeta e eu o Verde. Quando estávamos montando, uma atendente simpática demais veio ao nosso redor.
— Olá, querida. Quer ajuda? — Perguntou, se inclinando para minha namorada.
Lisa a dispensou com a mão, mais concentrada nos cabos. Ela tirava e encaixava, tentando deixar o melhor possível. Isso foi empecilho para a mocréia? Não. Ela abriu mais o decote e voltou a se insinuar para Lisa.
Aperto meus olhos e chego mais perto de Lisa, dando um pequeno beijo em sua bochecha. Ela levanta o olhar e sorri, com aquela bendita covinha. Sorrio para ela e quando ela volta a prestar atenção no brinquedo, viro para a garota e dou o melhor olhar mortal. Achei que ela recuaria, mas ela só ria e olha maliciosamente para mim:
— Posso te ajudar também, gata. — Ela piscou para mim. — Sou ótima em ajudar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Uma raiva se apossou de mim e olhei feio para ela. Como ousa se insinuar para mim também? Jennie Kim é egoísta. Ela não divide e não é dividida.
— Saí, cachorro velho.
Volto a montar meu sabre, sempre de olho na piranha. O pior é que Lisa é muito burra e não percebe as intenções daquela destruidora de lares.
— Paola Bracho, vou te dar um aviso: saia antes que eu te mostre quão fundo sei enfiar esse sabre.
A vadia deu de ombros e voltou para o inferno o qual ele saiu. Lisa nem percebeu o clima, estava mais interessada na palestra do que qualquer outra coisa. Nossas crianças também, olhavam admiradas.
Dois dias passaram rápido demais. Fomos duas vezes no parque e o que eles mais usavam era o sabre de luz, fazendo guerrinha no hotel. Nunca vi minha filha tão feliz. Léo sempre a protegia da malvadona Lisa Vader.
Estávamos voltando para casa, todos usando tiaras que compramos. Lisa usava do Mickey, eu da Minnie e as crianças usavam coroas de rei e rainha. Agora tocava no rádio a seleção de música dos filmes, e todo mundo cantava.
Como posso explicar o que sinto sem ser redundante? Não tem como. Olha a família que estou tendo. Uma namorada gentil, carinhosa, brincalhona. Uma filha educada, simples, fofa. Um enteado cavalheiro, amoroso, protetor.
Nunca estive tão realizada na vida. Sentia que nada abalaria nossa vida. Sempre nos divertíamos, mostramos afeto um para com o outro. Claro que havia desavenças, nada é perfeito. Mas até nisso me sentia grata.
Grata por a briga ser por algo bobo, como uma toalha no cama. Um copo que foi deixado sujo na mesa. Nunca por mentiras, traições, dinheiro. Só de perceber isso, fico aliviada.
Finalmente avistamos minha casa. As árvores que havia nos quintais alheios, trouxeram uma sensação de lar. Amei viajar, mas mal espero poder deitar na minha cama, banhar no meu chuveiro.
Assim que chegamos, Lisa foi tirando as malas e levando para cima. Me jogo no sofá e pego meu celular na bolsa. Estranho, ele estava no silencioso para não incomodar e por isso não vi as 37 chamadas de Jisoo e 45 de Rosé. Elas estavam desesperadas.
Quando ia chamar Lisa, ela desce as escadas ao mesmo tempo que meu telefone toca. Era Jisoo ligando novamente. Mostro o visor e ela dá de ombros. Atendo a ligação e ela parecia afobada.
— Jennie, cadê vocês? — Ela falava alto.
— Chegamos agora, por quê? — Dou uma risadinha. — Sentiu falta?
— Cadê a Lisa?
Coloco a ligação no viva-voz, chamando por Lisa.
— Oi, Chu. O que houve?
— Lisa, você precisa vir agora para o hospital. — Jisoo estava um pouco histérica.
— O quê? Como assim?
— Lisa, sua mãe passou mal, vomitou sangue e desmaiou. — Sinto meus olhos se arregalaram. — Lisa, Elizabeth faleceu.
Nesse momento sinto meu chão sumir. Minha sogra não estava mais entre nós.
Indíce
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