As Golpistas A ligação
Ligação recebida por Lisa no capítulo 'O túnel'
— Alô? — Lisa atendeu.
— Lisa? Sou eu, Miyeon — disse a voz do outro lado da linha. — Escute, não diga que sou eu quem está ligando. Tente manter a neutralidade, entendeu?
— Sim — respondeu, já sentindo o coração acelerar.
— Vou conseguir fugir da casa do Jackson. Me encontre no café Dinner's, na Fieldstone Road.
— Quanto tempo?
— Em trinta minutos. Consegue?
— Preciso de quarenta.
— Então não se atrase.
Miyeon desligou. Respirando fundo, Lisa afastou Jennie com delicadeza e selou sua testa com um beijo. Sua mente fervilhava, implorando por um fio de esperança. Guiando Jennie até o carro, disse:
— Vá para casa.
— O que houve, Lisa? — Jennie a olhou, percebendo a tensão em sua expressão.
Lisa ficou rígida, mas forçou um sorriso que trouxe um alívio passageiro.
— Nada demais, babe — respondeu, acariciando-lhe o rosto. — Surgiu uma reunião de última hora. Preciso estar lá em quarenta minutos.
— Quer que eu vá com você? — Jennie perguntou, preocupada.
— Vá descansar, amor. O dia foi puxado. — Selando seus lábios, Lisa abriu a porta do carro. — Voltarei o mais rápido possível.
— Por favor, amor...
— Eu sei.
Jennie não precisou verbalizar; Lisa sabia exatamente o que ela pedia: cuidado. Vendo a namorada partir, Jennie entrou em seu próprio carro e colocou o endereço no GPS — apenas para confirmar o local exato, já que conhecia a rua.
O trajeto foi silencioso, interrompido apenas pelo tamborilar nervoso dos dedos no volante. Miyeon era a babá. Se ela conseguiu sair, por que não levou as crianças junto? O pensamento corroía Lisa. E se Miyeon estivesse envolvida com Jackson?
Estacionando em frente ao café, Lisa vestiu um sobretudo e entrou. Olhou ao redor até avistar Miyeon. Ela estava sentada com uma caneca à sua frente, o que Lisa achou quase ofensivo.
— Mas que merda, Miyeon?
A mulher fez sinal para que Lisa se sentasse. Ela bufou alto, expressando sua indignação, mas obedeceu. Cruzou os braços e a encarou com raiva.
Miyeon respirou fundo. Sabia que, a partir dali, tudo mudaria. Retirando um envelope da bolsa, entregou-o a Lisa. Ela olhou a identidade com a foto da babá e um distintivo policial. Arfou.
— Soyeon? O que isso significa?
— Significa, Lisa, que a polícia estava te investigando.
Lisa empalideceu. Sabia que cometera crimes — participava de corridas ilegais, já furtara estabelecimentos —, mas ser alvo direto da polícia era outra coisa. Gotas de suor escorreram pela testa.
— O quê...?
— Fui designada para te investigar. — Soyeon bebeu um gole de café. — Há um ano, seu nome surgiu no radar e fui enviada para me infiltrar.
Lisa sentiu as pernas fraquejarem. Por sorte, já estava sentada. Ela havia colocado uma policial infiltrada dentro da própria casa. Xingou-se mentalmente por ter sido tão ingênua.
— A ideia era ganhar sua confiança e prender quantas pessoas fosse possível — continuou Soyeon. — Mas...
Ao ouvir a palavra que indicava uma mudança, Lisa sentiu uma pontada de esperança. Quando ia perguntar, uma garçonete apareceu, e ela pediu um chá — só por educação. Assim que a atendente saiu, olhou para Soyeon e balançou a cabeça, sinalizando para que prosseguisse.
— Mas suas crianças apareceram. Sua mãe. Sua namorada. E você. — Ela suspirou. — Vi quanto amor havia na sua família. Seus filhos me amam... e eu os amo. Não consegui seguir com isso.
Lisa sentiu um alívio percorrer suas veias. Ao menos sua família e seus amigos não estavam envolvidos. Mas sabia que a investigação continuava e seu sobrenome ainda estava marcado.
— Posso me entregar — disse Lisa. — Me deixe salvar meus filhos, e depois entrego minha vida a você.
— Não será necessário, Lisa.
— Como assim? — Lisa perguntou, confusa. — Meu nome está circulando na polícia. Algo precisa ser feito.
— Já achei algo a ser feito, e esse sequestro irá calhar.
Lisa encrespou a testa, afinal não entendia como os fatos estavam ligados. A garçonete deixou seu chá, isso deu tempo para Soyeon respirar e pegar alguns envelopes. Agora que Lisa percebia a bolsa que estava com ela.
— Sabe, não quero me gabar, mas sou a melhor investigadora do distrito. — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. — Por isso me encaminharam para vocês.
— Entendo... mas o que tem a ver com o sequestro e sei lá mais o que, Soyeon? — Lisa perguntou rispidamente.
— Já vou chegar lá. — Soyeon chamou a garçonete e solicitou uma água. A tranquilidade dela irritava Lisa, que só queria dar um fim em tudo. — Quando vi que havia caído de amores por vocês, precisei achar uma solução, como havia dito. Então resolvi investigar a rede de vocês. Amigos, patrocinadores, qualquer coisa que pudesse te livrar. — Bebericando a água, para molhar a garganta, Soyeon continuou. — Então fui atrás da última alternativa: parentes.
— Não quero ser rude, mas não tenho parentes. — Lisa diz, com escárnios escorrendo de seus lábios.
— Marco Manoban. Te lembra alguém? — Soyeon sabia que Lisa não tinha contato com seu pai.
— Um rato nojento, homem sem escrúpulos. — Lisa rosnou. — Infeliz o dia que chamei de pai.
— Está morto. — Soyeon contou de uma vez.
Lisa paralisou. Ela esperava que Soyeon contasse que seu pai era um arruaceiro, golpista, verme nojento, mas não que estava morto.
Dizer que esse fato não a atingiu, é mentira. Lisa emudeceu e toda sua raiva evaporou. Nunca foi atrás do pai, afinal ele deixou claro que havia outra família, porém ele ainda era seu pai. O isa congelou. Esperava ouvir que ele era um criminoso ou desaparecido — não que tivesse falecido. Mesmo distante, ele ainda era seu pai. A dor, inesperada, a atingiu fundo.
— Sinto muito — Soyeon tocou sua mão. — Faleceu há algum tempo, vítima de câncer.
— Como isso me ajuda?
— Bem, ele se casou com uma mulher chamada Emma e teve um filho.
— Parabéns para eles. — Lisa falou sarcasticamente.
— E você não vai acreditar quem ele é. — Soyeon sorriu, balançando as sobrancelhas.
— Fala logo. — Lisa resmungou.
— Josh Manoban. — Lisa arfou. — Não, não é coincidência. É o ex da sua namorada e sequestrador de seus filhos.
— Filho da puta, irei matá-lo. — Lisa cerrou os punhos, com raiva.
— Tenho uma ideia melhor. Vamos prendê-lo.
— Qual o seu plano? — Lisa perguntou.
— Vamos incriminá-lo desse roubo. No dia que sua mãe faleceu, eles apareceram lá, Jackson e Josh. Eles nos ameaçaram com armas e me fizeram fazer uma pequena mochila contendo roupas, remédios e tudo que fosse preciso para as crianças. — Ela respirou fundo. — Eu, como policial treinada, acatei as ordens para a segurança de todos. Quando chegamos na fazenda, capturei algumas conversas e descobri que Josh sentia muito ciúmes de você.
— Ciúmes de mim? — Lisa questionou. — Ele quem estava com a família completa.
— Mas o seu pai te enaltecia. Você era a filha perfeita para ele. Com a morte de Marco, Josh ficou sem nada. Todo o dinheiro foi deixado para você.
— Então ele roubou meus filhos... por dinheiro?
— Sim. E Jackson, por vingança. Disse que você o largou.
— Malditos! — Lisa socou a mesa.
— Escute — disse Soyeon, olhando o relógio. — Me conte seu plano.
Lisa contou o plano, todos os detalhes. A oficial escutava atentamente, logo pensando nas possibilidades. Quando Lisa narrou tudo, e contou que iria se entregar, a babá negou com a cabeça, afinal ela já tinha uma ótima ideia.
— Lisa, você tem a chave e o portão aberto, não precisa pular o muro. — Soyeon esfregou as mãos uma na outra. — Escute, vamos fazer o seguinte. Você precisa de três dublês, eu conheço 3 mulheres dispostas a fazer esse papel. Vou te dar o contato delas e combine as roupas e os disfarces.
— Certo. O que mais?
— Vamos começar com a delegacia. Faça Jisoo fazer outro carro controlado e use-o para invadir a delegacia quando eles explodirem. Os policiais irão revidar, acho que você entende o que quis dizer.
— Entendo. — Lisa confirmou.
— Quando forem fugir, após o saqueamento, as três mulheres levarão o homem que irá roubar o banco em uma van, trate de achar uma. Elas irão nocautear o criminoso e fazer a polícia a seguirem, e se entregarão em um certo local. Vou passar o endereço para você saber, passarei para elas também. Elas irão testemunhar contra Jackson e Josh, informando que o plano de vingança deles seria te colocar como culpada. Não esquente, irei instruir as falas delas.
— Esse endereço, é onde estão meus filhos?
— Sim. Mas não perca a cabeça. Deixe que eu cuide de limpar sua ficha. Me deixe ajudar.
— Mas...
— Nada de mas. Passe o endereço para Jisoo e peça que ela o inclua na VPN que usará para codificar os dados. Monte o plano completo e associe ao IP de Jackson. Aqui está. — Soyeon entregou um papel com os dados do computador de Jackson.
Soyeon entregou o papel que continha os dados do computador de Jackson. Como era investigadora, ela deu jeito de conseguir tudo que precisava. Lisa estava quase beijando os pés dela, em agradecimento.
— Prepare também o automóvel que levará Rosé e Jennie. Ele deve explodir no destino final. Só se certifiquem de que nenhum oficial morra. Encontrem um CRV azul com esta placa. Façam com que ele seja filmado no túnel.
— Certo. Iremos queimar o veículo e o escritório. — Lisa disse, olhando para o papel.
— Ótimo. Preciso voltar. — Soyeon olhou novamente o relógio. — O efeito dos tranquilizantes já irá passar.
— Não sei como te agradecer, Soyeon. — Lisa falou, estendendo a mão. — Está salvando minha família.
— Não precisa, Lisa. Faço pelos pequenos. Não esqueça de ir à delegacia denunciar seu irmão, quando terminar seu roubo e também instrua Jennie a falar que o ex a fez fazer tudo, ela será limpa de qualquer acusação, deixe comigo.
— Obrigada, Soyeon.
— Me agradeça sendo feliz e indo embora daqui com sua família. Ah, antes que esqueça, procure pelo cofre 4469, parece que seu pai deixou uma lembrança para você.
— Certo, Soyeon. Nos vemos.
— Vá em paz e vai dar tudo certo.
Assentindo com a cabeça, Lisa se despediu. Cada mulher tomou um rumo diferente, mas ambas com as mesmas batidas de coração. Duas opostas da vida, uma criminosa e uma oficial, unidas motivadas pelo amor.
Indíce
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