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As Golpistas-Em família

As Golpistas

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As Golpistas Em família

— Sim, ela me disse que essa garota era Kim Jisoo, filha de minha tia. Chu, você é minha prima perdida.

Três pares de olhos focaram em mim. Sinto dificuldade em engolir, como se houvesse um bolo em minha garganta. Bom, há mesmo, então tomei um gole do suco, para descer. Não ajudou, pois ainda há o nó.

— Por favor, não ache que eu sabia isso. — Digo nervosamente.

— Eu juro, Chu. Estou tão abalada quanto você. Quer dizer, você deve estar bem abalada, achando que não tinha ninguém, e do nada uma pessoa diz que é sua prima.

Sinto uma reviravolta em meu estômago, a sensação de medo atinge meu interior com força. Meus dedos se remexem de nervosismo e mordo minha bochecha para aliviar a tensão.

— Jennie, você está dizendo que somos parentes?

Jisoo estava estática. Seu rosto não demonstrava nada, então não sabia seu posicionamento. Mas ela me surpreendeu jogando-se em meus braços. Agarrei seu corpo com brutalidade, apertando-a ainda mais.

— Sinto muito, sinto muito. — Eu disse, derramando pequenas lágrimas.

— Se eu soubesse, eu teria ido atrás de você.

— Você está aqui agora, prima.

Ela se afastou e nos olhamos. Pequenas marcas de seu choro estavam em sua face, mas havia um sorriso em seu rosto. Escutei um fungar e vi Lisa chorando também. Rosé estava com os olhos brilhando, mas não derramou nenhuma lágrima.

— Estou tão aliviada, achei que você iria me rejeitar. — Confesso.

— Jamais faria isso com minha família. — Ela disse, sorrindo.

— Mas, Jennie, o que houve com meus pais? Meus tios? Por que nunca entraram em contato comigo? — Sua voz demarcava a mágoa que sentia.

— Pelo que entendi, seus pais faleceram em um acidente. — Engulo em seco.

— Como éramos pobres, o governo não nos deu sua guarda. Minha mãe descobriu que você havia sido adotada, então ela pensou que estaria bem. Desculpe, Chu. Eu era nova e não lembrava de você.

— Aproveitem que vocês têm o agora. — Lisa nos diz, me abraçando de lado.

— Você irá trabalhar comigo, está decidido. — Jisoo me disse.

— Ainda me quer como sua atendente? — Perguntei, confusa.

— Mas é claro, Jen. E quero conhecer minha sobrinha.

Havia muito tempo que eu não sentia aquele calor em meu coração. Uma sensação de conforto, de lar, de família. Apesar dos apesares, encontrei apoio em um bando de ladras e corredoras.

— Isso pode demorar um pouco. — Digo, tristemente. — Não posso trazer Aime para cá, morando naquele muquifo.

— E por que não moram aqui? — Rosé disse.

Juro que cada vez que ela abre a boca, eu me impressiono com sua voz angelical. Ela é fina, suave e doce. Não mais do que a minha, claro, eu sou perfeita. Mas chega bem perto de bater nesse quesito.

Quanto a sua pergunta, minha resposta é óbvia:

— Não, Rosie.

Veja bem, não há como eu morar com duas estranhas. Minha filha é minha prioridade e seu bem-estar é minha missão. Por mais que sejamos primas, não nos conhecemos. Somos duas estranhas e ainda tem o fato delas serem um casal.

Posso até trabalhar com elas, mas jamais irei interferir em sua rotina. Tenho semancol e sei como pode ser complicado ter estranhos morando em sua casa. Ainda mais uma criança, que não tem o senso definido.

Não que Aime fosse uma mal-educada, jamais. Minha filha é perfeita como eu. Porém, ela pode ter ataques de birra, ou pintar parede, ou qualquer coisa que uma criança normal pode ter.

Ainda mais que ela não é acostumada a morar comigo. E do nada mora comigo e mais duas estranhas, que irá chamar de tia. E não sei como elas são como crianças. Então, definitivamente é um não.

— Sinto muito, mas não posso aceitar. — Digo. — Seremos duas estranhas invadindo a privacidade de vocês.

— Você sempre se virou sozinha, né?

A voz de Lisa sobressai sobre o ambiente. Ela olha para mim, mas não com olhar julgador. Seus olhos marrons transmitem calor e acolhimento. É como se ela entendesse essa necessidade de ser independente.

Lembro de ser assim desde pequena. E vejo como isso está refletido em Aime. Quero que ela seja diferente de mim.

Sim, uma hipocrisia, mas quem não é? É aquele ditado: faça o que mando e não me questione porque sou sua mãe e sei o que estou falando. E leve um guarda-chuva porque vai chover.

Não acho que minha independência seja ruim, de fato. Mas creio que me limita a algumas coisas, como recusar facilmente a ajuda dos outros.

— Sim. — Digo, dando de ombros.— Minha mãe sempre exigiu que eu fosse autônoma no controle de minha vida.

— Reconheço alguém que teve que se provar o tempo todo. — Lisa diz, com um sorriso triste.

— Posso fazer uma proposta?

— O quê? — Pergunto.

Apesar de estar amando tudo isso, não sei como ela consegue ajudar pessoas desconhecidas. Há uma aura bondosa. Mas daí eu lembro que ela rouba. Ela me confunde.

E eu beijo essa boca. Quero dizer, comecei agora. Mas ainda assim, aceitei ser bancada por ela, gastar a grana dos outros. Não tenho nenhuma moral.

— Aceite o trabalho aqui e eu vou te ajudar a achar algo decente para vocês. — Ela levantou a mão, me impedindo de falar.

— E não aceito não como resposta.

Achei o acordo razoável. Eu teria um emprego e poderia dar certo. Porém, ainda não sabia o salário. Sem falar que moro há uma distância razoável. Ir e voltar seria necessário duas conduções.

— Eu gostaria de aceitar, mas moro longe.....

— Você tem carteira de motorista? — Jisoo perguntou.

— Tenho...

— Minha proposta para você é a seguinte: $ 3.500 de salário e um carro para que você possa ir e voltar. Alimentação será um café da manhã, almoço e lanche da tarde dados por mim e custo gasolina.

Isso me assustou. E me impressionou. É a melhor oferta de emprego que recebi e apesar de me sentir indigna, não tenho como recusar.

— Você tem certeza? — Pergunto desconfiada.

— Toda do mundo. — Jisoo disse firmemente.

— Então eu aceito.

Ela estendeu sua mão e eu apertei com força. Eu estava tendo um novo recomeço, uma nova oportunidade e isso me fascina. Eu poderia realizar diversos sonhos e, inclusive, voltar a cursar Contabilidade.

Com esse diploma, poderia fazer minha carreira. Poderia fazer a diferença na vida de Aime. Prevejo minha filha sendo presidente. Melhor, uma famosa rica e me sustentando o resto da minha aposentadoria.

Ela é minha filha, tem meus genes. E o Tae não é de se jogar fora. Mas sou mais gostosa. Danço bem, canto bem, atuo bem. Por que minha filha seria diferente? Ela é minha cópia.

Sei que falta humildade, mas convenhamos, não preciso. Sei da minha linhagem. Mas, Jennie, você estava com aquele traste? Shiu! Águas passadas, não iremos falar sobre o inominável, vai que atrai azar.

Mas vejo enfim a luz brilhar, já passou o nevoeiro. É, talvez você conheça essa música, ela é uma das minhas favoritas. E eu enxergo Aime como minha luz. O farol que guia minha embarcação.

— Perfeito! Agora, vamos falar sobre a corrida de hoje. — Jisoo falou.

Lisa assumiu uma postura diferente, se desvinculando de mim, e colocando os indicadores no lábio, formando um triângulo.

Acabei de chegar e já terei outra corrida? Gosto assim. Empregada, com amigas, rolês aleatórios e uma ficante gostosa. Quem diria? Subi na vida. Será que elas deixar eu escolher o Jaguar?

— Hoje é patrocinada. Jisoo, o Jaguar está adequado? — Lisa perguntou.

ISSO, ISSO, ISSO. Realize o sonho dessa pobre camponesa e usem o carro dos sonhos dela.

— Nitro está injetado, as alterações no motor estão perfeitas. Todas as janelas e portas reforçadas e as armadilhas instaladas. Seguro para corrermos.

Obrigada, Deus, por esse momento. Sua filha está mais do que preparada para essa experiência e quem sabe até conseguir dar uns pegas gostosos dentro daquele carro. Sim, sua filha está mais do que pronta.

— Rosé, sei que não trocamos ainda o volante para o personalizado, mas está tudo bem usarmos ele?

A loira somente fez um joinha sorrindo.

— Que hora iremos? — Pergunto, pois quero um banho e tirar um cochilo.

— Quer ir conosco? — Lisa perguntou, com um sorriso resplandecente que deixou meu coração alegre. Me dê a mão para fugir dessa terrível escuridão.

— Já estou com o pé na jaca, afundar mais um pouco não faz mal. — Digo.

— A corrida começa meia-noite. Manoban, leve-a para sua casa, é mais perto. Jen, prima, vá descansar e nos vemos aqui.

Lisa levanta e pega em minha mão. Após me despedir, desço as escadas, atrás dela e voltamos para a garagem. Nos conduzindo, minha garota nos leva até o Civic usado mais cedo.

O caminho é silencioso e agora percebo uma coisa: será a terceira vez que irei para a casa dela. Mas algo está diferente, pois Lisa segura minha mão, e dá pequenos selares. Ela canta alegremente e sempre me olha sorrindo, quando pode.

Merda, eu estou gostando disso, gostando demais para meu gosto. Mas, Jennie, são poucos dias, você não está emocionada? Aponte um casal sáfico que não esteja. E inclua todo esse tratamento que estou recebendo.

Às vezes se apaixonar é como uma chuva suave. Ela está ali, nos molhando, mas nem sempre percebemos. Continuamos a seguir, e isso faz com que você fique ainda mais molhada, até perceber que suas roupas estão pesadas. A percepção chega tarde, mas te acerta precisamente.

Nesse momento, eu ando calmamente na calçada, mal notando a garoa se agarrar em mim. Isso não impede que minhas roupas umedeçam, mas também não me torna ignorante sobre a água. Porém, decido seguir até que minhas roupas pesem.

E espero que o resultado dessa caminhada valha a pena e, no fim, eu seja somente mais uma pessoa encharcada, mas que admira a chuva. E não quem fica doente.

O que minha paixão por você fará comigo, Lisa?

 


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