As Golpistas Lisa, a ladra
— Então Lisa subiu no telhado, abriu o guarda-chuva e se jogou.-Contou a senhora em minha frente. — A senhora está brincando comigo.-Respondo-lhe, gargalhando. Confesso que há muito não me divertia assim. O clima na casa de Lisa era tão agradável, diferentemente do que imaginava. Ah,sim! Seu nome é Lalisa, mas ela prefere ser chamada apenas por Lisa. O caminho até sua casa foi divertido também. Ela apresentou-se para mim, pediu desculpas e devolveu minha bolsa. E como prometido, me trouxe para jantar em sua casa. Era muito simples e um pouco afastada do centro. Feita de madeira envernizada, possuía uma aparência simples mas bonita. Um jardim na frente, com um cercadinho branco formavam a paisagem inicial. Uma pequena varanda, com uma cadeira de balanço e um filtro dos sonhos completavam a entrada. Havia um pequeno corredor que ligava os ambientes, e com móveis simples, mas bonitos. Nas paredes, várias fotos com Lisa e sua mãe e também com outras duas mulheres. A cozinha era pequena e acolhedora, com uma mesa de quatro cadeiras, uma geladeira, um fogão, armários e vários quadros com pequenas piadas, como: De bacon vida. E senhorinha pequena, branca e turbante completavam o aconchego. Usando um vestido rosa, óculos de grau e um pequeno relicário, ela tornava o ambiente leve e descontraído, contando as histórias de Lisa. Fazia anos que eu não sentia esse clima, essa leveza. E eu estava na casa de uma criminosa. — Acredite, Jennie. Essa menina comeu muita terra. -Ela ria abertamente, contagiando a todos. Meu abdômen doía de tanto rir. Pequenas lágrimas estavam em meus olhos, mas pela primeira vez era de felicidade. Lisa também ria enquanto fazia algumas coisas. E sempre que ela passava por trás da mãe, dava pequenos beijos em sua cabeça. — E como ela está viva ainda?-Indaguei. — Honestamente? Nem sei. -Lisa respondeu. Confesso que ela era linda. Mesmo com aquele pano de prato em seu ombro quebrando aquela vibe de badgirl. E claro, seu crocs rosa, com vários bottons de gatinho e arco-íris. Seu sorriso era brilhante. Dentes branquinhos, alinhados e perfeitos. Uma pequena covinha no lado esquerdo. Seus olhos formavam pequenas rugas nos cantos , este que era em formato de corça e marrons igual chocolate derretido. — Lembra quando você comeu minhocas apenas porque a Minnie disse que não teria coragem?-Sua mãe perguntou. — Minnie fez com que eu fizesse muitas coisas nojentas. -Respondeu e riu ainda mais. — E você ficava feliz em fazer competições. Não consigo não sorrir. Cada segundo que passo aqui, acalenta meu coração. Quando Lisa estava prestes a responder, o barulho do forno avisou que a comida estava pronta. Ela apressou-se a pegar a lasanha de queijo e presunto, colocando-a na mesa. Logo pegou um suco de laranja e tudo estava pronto para comermos. Gentilmente Lisa serviu um pedaço para cada e encheu nossos copos. Confesso que o cheiro encheu minha boca de água e estou prestes a mergulhar meu garfo naquela massa suculenta. Se não fosse por Lisa. — Não senhora, pode ir lavar as mãos. Não sei se choro ou dou risada, mas acabo fazendo o que ela pediu. Quando finalmente coloco aquilo em minha boca, derreto. A comida está maravilhosa e sinto amor sendo colocado no prato. — Gostoso, não é?-Lisa questionou. Apenas aceno com a cabeça e como mais. Eu raramente cozinho e Josh... bem, ele mal para em casa, imagina cozinhar para mim. Mal nos vemos, então refeições juntos são raros e quando acontece sempre é algo congelado. Acabo terminando antes que elas, o que ocasiona uma risada em ambas. Lisa se levanta e coloca mais um pedaço, e eu não me faço de rogada e ataco novamente. Quando termino, ouço a campainha tocar e passos. Logo deduzo serem conhecidos, em vista que elas não ficaram preocupadas. Vejo as duas meninas do quadro. Uma morena e uma loira. Ambas usavam jaqueta de couro, calça jeans e coturno. Porém a loira usava óculos escuros. — Mas veja só quem chegou. -A mãe disse.-Venham, estamos jantando. As duas olharam para mim. A mais baixa, que tinha cabelos escuros, encarou-me por breve segundos e sentou ao lado de Lisa. A loira saiu da cozinha e logo em seguida voltou com outra cadeira e encaixou entre a mãe e mim. Ela apenas acenou e serviu-se. — Jen, essas são Kim Jisoo-Apontou para a morena. -E Rosie. Apesar de uma expressão fechada, Rosie acenou novamente. Já Kim Jisoo sorriu abertamente. — Pode me chamar apenas de Chu.-Ela estendeu o braço, para apertarmos as mãos. O resto do jantar foi gostoso. Nos foi servido uma torta de chocolate, onde satisfez meu interior. Rosie não conversava muito, mas Chu falava pelos cotovelos. Ela e Lisa competiam para ver quem fazia a outra rir e cuspir a comida. — Bom, eu acho que já é hora de eu ir. -Informo, olhando para meu relógio, que marcava 22:55. Como o tempo passou tão rápido? Acho que quando nós nos divertimos é isso mesmo. Mas confesso que irei sentindo um peso em meu coração .Amei cada segundo que passei com essas desconhecidas. — Deixa que levo você. -Lisa levantou rapidamente. Me despedi de todos, dando um forte abraço na mãe de Lisa, que eu ainda não sabia o nome. Ao apertar seu corpo, senti um cheiro de mãe. Meus olhos quase lacrimejaram de saudades, mas reprimi esse sentimento. Lisa vai na frente e abre a pequena porta do cercadinho da casa. E quando chega no carro, abre a porta do carona. Nem lembro qual foi a última vez que alguém fez isso comigo. — Então, gostou do jantar?-Ela perguntou, olhando para a frente. — Eu amei. Sua mãe é um doce. — A senhora Elizabeth causa isso nas pessoas.- Seu rosto demonstrava todo amor que sentia. — Ah, esse é o nome da sua mãe.. — Sim .-Respondeu, dando de ombros. -Geralmente ela gosta que a apresentemos apenas como mãe. — Ela é uma graça .Imagino como ela deve ser uma mãe maravilhosa. Sua infância deve ter sido boa. Um suspiro alto foi solto por Lisa. Por um breve momento, suas mãos apertaram o volante, mas tão breve começou, tão breve terminou. —— Ela é a melhor mãe que pude ter. — Suas amigas são maravilhosas também. -Comento. — A Chu e a Rosie são minha família, estamos juntas há 11 anos. — Então elas são ladras também?-Perguntei, arqueando a sobrancelha e sorrindo. — Não, não.. Chu é mecânica e Rosie é motorista. Eu gostei de Lisa. Ela sempre mantinha um sorriso doce em seu rosto. Ela falava com o maior carinho possível de suas amigas e mãe. — Então você é a única fora da lei? Sua risada ecoou no ambiente, criando faíscas em meu íntimo. — Nem de longe. -Ela olhou para mim e piscou. -Um dia, se quiser, eu te mostro. Acabei acenando positivamente e voltei a cantar a música que tocava na estação. O caminho até minha casa foi rápido, Lisa pesou o pé no acelerador. Mesmo assim, foi agradável, fazia muito que eu não saia. Também, não possuo amigos. — Está entregue, senhorita Jennie.-Lisa sorriu para mim. — Obrigada pela noite, Lisa. Eu me diverti muito. Ela olhou para mim e seus olhos brilharam. Ela inclinou-se e colocou uma mecha solta atrás do meu ouvido. Seu rosto aproximava-se de mim. Meu coração acelerou com a expectativa de um beijo. Engulo em seco e umedeço meus lábios. Meu olhar caiu para aquela boca. Carnuda, rosada, macia. Eu desejava beijá-la. Ansiava pelo seu toque. O que não ocorreu. No último segundo ela beijou minha bochecha. Acabo soltando um suspiro alto, de descontentamento. — Boa noite, Jen.-Ela sussurrou. — Boa noite, Lisa. Saio do carro meio atordoada, ainda sentindo a tensão no ar. Em como seus olhos davam a sensação de um chocolate quente. Como sua mão era macia, ao deslizar pelo meu rosto. Como queria tanto sentir sua boca na minha. Nem percebo que cheguei à porta, dispersa em pensamentos. Abro minha bolsa, em busca da chave, e acabo encontrando um envelope. Entro em casa e ligo a luz para ler o que há escrito. Em uma letra de garrancho, encontro um número de telefone e o nome Lisa. Abro o envelope e quase caio para trás. Há muitas notas de 100 dólares. Precisei sentar, era mais do que 6 salários meu ali. Há um pequeno papel, com uma letra horrível, mas que visivelmente pede desculpas e que devo ligar de volta. A verdade é que ainda sou casada e deveria respeitar meu casamento. Mas Josh não respeita nem a mim. Como posso dar lealdade para quem não me dá? Estamos casados apenas por conveniência. Pego parte do dinheiro e vou para o quarto, para guardar em meu cofre. Junto dinheiro há muito tempo, com a esperança de que eu consiga comprar uma casa e poder dar um espaço digno para Aime. Não que ela não esteja em um lugar decente, mas quero ela comigo. Quero dar dignidade e um lugar melhor do que esse muquifo. Um lugar como a casa de Lisa. Apesar de não ser grande, é aconchegante. Um lar. Abro meu cofre e reparo que sumiu dinheiro. Merda, maldito. Eu sabia que ele me roubava. Pelo menos Lisa devolveu-me o dinheiro e muito mais. Isso faz eu parar e analisar o número gravado no papel pardo. Será que devo devolver na mesma moeda? Afinal, o chifre trocado não dói. Sem falar que ela me tratou muito bem. Foi gentil, sorria, fez o peso do mundo sair de minhas costas. Ao menos por algumas horas. E agora? Ligo ou não?
Indíce
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