Skip to main content
As Golpistas-Shopping

As Golpistas

© Todos os direitos reservados.

As Golpistas Shopping

— O que iremos fazer?-Questiono.

— Bom, por enquanto, que tal tomarmos um sorvete?

Dei de ombros e entrei. As roupas couberam perfeitamente. Era uma calça cargo preta, uma camiseta preta da Adidas, com detalhes brancos e um tênis branco da Adidas. Finalizo com um gorro preto e meus óculos Gentle Monster.

Ao entrar no Impala, notei algumas modificações significativas. As portas do carona e traseiras apresentavam janelas com uma barreira cruzada, semelhante a elásticos, para evitar projeções. Acima de nossas cabeças, pequenas alças de segurança foram instaladas. Além disso, cada passageiro contava com dois cintos de segurança, formando um "X" no peito.

O volante de couro apresenta detalhes exclusivos: pequenos buracos para encaixar as mãos confortavelmente. Além disso, a marcha possuía mais opções do que eu recordava. O painel também chamou minha atenção, com botões extras discretamente posicionados. E, quase imperceptível, um led verde, protegido por uma capa protetora, estava localizado logo abaixo do volante.

Confesso que não entendi muito bem, mas como todas estavam usando apenas um cinto, imitei o gesto. Só que essa porcaria travou. Eu tentava encaixar e Rosé olhava pelo retrovisor, esperando eu colocar para partir.

Uma pequena risada ecoou ao meu lado e Lisa ajeitou-se para me auxiliar. Sua mão suave passou pela minha e congelei. A suavidade de seu corpo, seus dedos esguios acariciando os meus. Uma onda de energia passava por mim, acelerando minha frequência cardíaca.

Sua boca emoldurava um sorriso radiante. Sentia seu perfume suave entrar em minhas narinas. Ela ajeitou meu cinto e arrumou uma pequena mecha solta em meus cabelos.

Se não houvesse música tocando, o carro inteiro ouviria meus batimentos. Ela passou suavemente o dedo em meu nariz, e seus olhos fecharam milimetricamente. Eles pareciam imãs, atraindo-me para mais perto. Porém o contato foi quebrado.

— Prontinha, vamos partir. -Ela disse.

Rosé saiu graciosamente da vaga, fazendo o carro deslizar na pista. Ela manejava ele com maestria, encontrando espaços para passar os outros. Logo uma conversa animada tomou conta do carro.

— Então você está desempregada?-Chu perguntou.

Rosie deu uma pequena cotovelada, mas eu acabei rindo, contagiada com o momento.

— Infelizmente sim. Mas eu já estava cheia daquele velho seboso. -Dei de ombros.

— Credo, o que é aquele Crocs horroroso dele?-Lisa comentou.

— Você estava usando também. -Acabo soltando.

Chu acabou rindo no branco da frente.

— Cara, ela tem um de cada cor.-Chu comentou.

— Não tenho, não. -Lisa ficou vermelha, assim como um tomate.

— Teve uma vez que ela ficou na fase do sapatênis. Era um horror.-Jisoo conta para mim.

Lisa cruzou os braços e fez um bico enorme. Eu e Jisoo gargalhamos com sua face. Rosie não fala nada, mas eu percebo o sorriso em seu rosto.

— Quando ela tinha 15 anos, teve outra fase.-Jisoo virou-se para trás, para poder conversar melhor comigo.- Ela achou que era emo.

— CHU!!-Lisa grita.

— Fique quieta-Jisoo ralhou.- Ela ficava usando preto, óculos sem lente.

— Não brinca. Ri, imaginando a cena.

— Juro, ela usava aquelas maquiagens pesadas, roupa preta, aquela franja lambida. -Ela volta seu olhar para a Lisa.- Se bem que a franja continua aí.

Lisa deu um pequeno tapa no dedo indicador de Jisoo, o qual estava apontado para ela. Sua face estava emburrada, mas eu percebia um sorriso minúsculo.

— E você que teve a fase do palito de dente?-Lisa comentou.

— Fase do palito de dente?-Perguntei, interessada no assunto.

— Siim!-Lisa virou-se para mim, entusiasmada. -Ela sempre, sempre, estava com um palito na boca.

— Ei, eu achava que passava uma visão mais durona.

— Chu, como você queria parecer durona com UM PALITO DE DENTE?-Lisa pergunta, rindo.

— Sei lá, vi na TV e quis imitar. -Respondeu, dando de ombros.

— Chegamos. -Lisa disse, olhando para o Shopping.

O Mall center era bonito. Em tons azuis, ele destacava-se no ambiente verde plantado ao redor. O grande letreiro branco exibia o nome de 'Char's Mall Center'. Como era cedo, encontramos uma vaga e logo descemos.

Jisoo e Rosie seguiram adiante, de mãos dadas. Confesso que são harmônicas. O contraste de altura, de cabelo e físico as tornavam complementares. Apesar de Rosé não falar muito, ou nada até agora, Jisoo falava pelos cotovelos, incluindo-me como uma amiga.

— Está tudo bem?-Lisa sussurrou em meu ouvido.

Sua voz baixa e levemente rouca, causou arrepios em meu corpo.

— Sim, sim.

Ela parou abruptamente, puxando meu braço, para que eu parasse também. Sua canhota subiu para meu rosto, enquanto a direita deslizou suavemente para minha mão, encaixando-se de forma perfeita.

— Sinto muito pelo seu emprego. -Ela sussurrou.

Senti todo meu interior aquecer. Eu estou fodida, sem emprego, sem ideia de como continuar, mas essa ação desmontou meu coração. Sua mão macia deslizava por minha bochecha e mais uma vez desejei seus lábios nos meus.

— Está tudo bem... respondi baixo.

— Irei compensá-la. Está livre essa noite?-Perguntou.

— Estou.

— Então fique o resto do dia e da noite comigo, sim?

Seu olhar brilhava em expectativa. Seu sorriso branco cegava-me, deixando-me atordoada com a beleza. Por mais que quisesse, jamais resistiria a esse charme. Eu estou fodida e mal paga.

— Claro.

— Venha, vou pagar um sorvete e vamos ver um filme.

Ela soltou minha mão, por infelicidade, mas segurou minha cintura. Entramos assim, com o casal na frente e ela guiando-me. Confesso que senti meu rosto queimar, mas não de vergonha e sim de timidez.

Em todos os meus relacionamentos, evitávamos andar de mãos dadas. As mãos sempre eram ásperas, secas, grandes demais. Eram desconfortáveis, quentes e nojentas.

Um contraste tão gigante com as mãos de Lisa. A macieza, o toque aveludado, o comprimento perfeito. Como se fosse uma peça de quebra cabeça, onde o encaixe foi moldado para nós.

Ela encaminha-me até o quiosque e compramos nosso sorvete. Confesso que estava animada, eu não tinha amigas e sentia como se fizesse parte de um grupo. Eu adoro como a Lisa e a Chu sempre se alfinetam e riem uma da cara da outra.

Rosie apesar de ser reservada, não mantinha uma expressão soturna. Ela ria e admirava Jisoo com carinho. Até pagou balas de gelatina para mim, quando fomos para o cinema.

— Vamos ver Annabelle 3?-Jisoo perguntou.

Eu estava prestes a negar, mas achei uma boa ideia. Eu odeio filmes de terror, porém é uma boa oportunidade para enroscar-me na Lisa, sem parecer que eu estou querendo.

O clima gelado da sala fez-me estremecer, mas seu longo braço aninhou-me em seu tronco, aquecendo-me instantaneamente. Aproveitei e encaixei minha cabeça em seu ombro. Somos um casal que não é casal.

Escorreguei minha mão e encaixei na dela. Ela olhou de soslaio e dei um sorriso pequeno, mostrando conforto. Sei que pareço uma adolescente, mas a verdade é que nunca fui tratada assim.

Mas, Jennie, ela te roubou. Jennie, ela fez você perder o emprego. Eu sei, eu sei. Mas ela foi tão gentil, e nunca tentou me beijar ou qualquer coisa. E isso para mim é lucro.

Sinto sua cabeça deitando sobre a minha e uma sensação de bem-estar instala-se em mim.

Após acabarmos o filme, vamos almoçar e Lisa paga por tudo. Sinto que estou tendo um dia de princesa. E daí se é dinheiro roubado? O importante é ser gasto comigo.

Lisa percebe que estou com frio e entra em uma loja. Logo ela sai com uma camiseta vermelha xadrez. Coloco-a e sinto os pelos arrepiados dissipar-se. Sua mão prende minha cintura com posse, e percebo que gosto desse tipo de possessividade.

A tarde passa voando, com as meninas conversando, comendo, rindo e vendo filmes. Logo já são 20:00 horas e Lisa nos leva para sua casa, para comermos com sua mãe.

— Olá, Jennie, querida. Que bom vê-la novamente.

Sinto sua mãe me abraçar. Isso é tão diferente. Como todos parecem e são carinhosos. Ela abraça Jisoo e Rosie também. Lisa abaixou-se e deu-lhe um beijo em sua testa.

— Mamãe, como está se sentindo?-Ela perguntou.

— Estou ótima, minha filha. -Ela olhou e sorriu para a filha.- Venham, fiz bolo de carne.

Tal qual na noite anterior, eu me senti em uma família. Eu percebi que a mãe comia pouco, e Lisa sempre a observava.

Eu comi como alguém que passava fome há dias. Na verdade, eu comi como alguém que não comia comida caseira há anos, o que é um fato. Sinto falta desse capricho, desse toque de tempero e amor.

— Quase 22 horas, vamos?-Lisa nos chamou.

— Nem preciso dizer para ter juízo. -Sua mãe ralhou.

— Sim, senhora! -Ela bateu em contingência.

Andamos até o carro, onde novamente entrei nos fundos. As meninas estavam entusiasmadas, como se algo muito legal fosse acontecer. E bem, eu sentia a adrenalina contagiar-me.

— Está pronta para um pouco de ação?-Lisa perguntou.

— Aonde iremos?-Pergunto, curiosidade transbordando em mim.

— Você verá. -Ela olhou e piscou para mim.-Rosie, pronta?

A loira apenas sorriu e acenou positivamente com a cabeça. Meu interior tremia de antecipação. Estaria eu tomando alguma decisão ruim, ao aceitar essa aventura?

 


  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!

Deixe um comentário

Você está comentando como visitante.
  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!