
As Golpistas Acordos do passado
P.O.V NARRADOR
Alguns meses antes.
A sala estava tão fria quanto a Antártica. Desde novo, o delegado Richard sempre amou temperaturas baixas e o local de seu trabalho não seria diferente. Com uma caneta batucando a mesa de trabalho, ele aguardava a oficial chamada entrar.
A porta abriu, revelando a pessoa que esperava ansiosamente. O uniforme feminino caía bem na funcionária, os coldres perfeitamente alinhados. Rick sorriu diante da visão, pois sua futura sucessora chegou carregando dois copos térmicos.
— Café preto forte, sem açúcar. Do jeitinho que você gosta, chefe.
A mulher estendeu a mão, entregando o que havia comprado especialmente para o delegado. Esse era o motivo de muitos acharem que eles tinham um caso e por isso ela era a pupila dele. O que era uma mentira, pois subiu de cargo por sua competência.
— Soyeon, minha garota favorita. — Rick disse, com um sorriso que alcançava os olhos.
— Me apresentando para o serviço. — Ela bateu em continência.
Imediatamente Rick riu. Esse era um dos motivos pelos quais ele gostava tanto de Soyeon, a leveza que ela trazia. Ser policial era difícil, o clima muitas vezes tenso, o peso das responsabilidades, o dever para com a população. Tudo isso era um fardo que eles levavam nos ombros.
Soyeon era um Sol para a maioria das pessoas. Ela trazia calor junto dela, uma aura positiva, uma confiança inabalável. Seu sorriso era contagiante, deixando todos radiantes. Menos quem a invejava e soltava rumores sobre um possível caso com Rick.
— Sente, minha querida. — Richard apontou a cadeira à sua frente. — Vamos à sua próxima tarefa.
Soyeon sentou na cadeira, pegando os envelopes à sua frente. Havia várias fotos de lojas sendo assaltadas, carros sendo furtados, filas de veículos prontos para uma racha. Ela observava nomes e listas de participantes.
— Temos algumas pulgas sarnentas nessa cidade. E está na hora de aplicarmos o veneno. — Richard disse.
— O que precisarei fazer? — perguntou ao delegado.
— Vai se infiltrar no meio deles, coletar provas, vamos acabar com esse esquema.
Soyeon assentiu, lendo os nomes da lista de suspeitos. Seus olhos focaram nas imagens de assalto e ficou chocada ao ver quem era o atuante. Apesar da má qualidade, era possível ver a beleza, o corpo esguio.
— Quem devo investigar? O alvo principal? — ela perguntou, afinal, são várias pessoas envolvidas.
— Seu foco será Manoban. — Ele floreia os arquivos, entrega para ela a ficha em questão. — Temos contatos que dizem que esse nome é uma das cabeças grandes.
— E quem é dessas fotos?
— Não sabemos, apenas o sobrenome. Mas jogando no sistema encontrei o registro de Lalisa Manoban. — Ele aponta no computador a imagem da garota. — Ela cometeu um delito em um bordel, mas a queixa foi retirada.
— Como faremos para eu entrar na vida deles?
— Não vai ser fácil, garota. Esses grupos são desconfiados. — Ele começa, o tom agora mais sério. — Você terá que se passar um tempo considerável com eles, uma posição de confiança precisa ser construída.
— Como podemos fazer isso? — ela questiona.
— Vamos te colocar dentro da casa deles. Lalisa Manoban tem dois filhos pequenos. Descobrimos que ela demitiu a última babá ontem, algo sobre não confiar. Estão desesperados por alguém novo. E você... — ele dá uma olhada de cima a baixo — ... tem o perfil perfeito.
Soyeon folheia a nova pasta: documentos falsos, certificados de primeiros socorros, cursos de pedagogia online. Tudo em nome de Miyeon Cho, 28 anos, ex-educadora infantil recém-chegada na cidade.
— Você vai se candidatar à vaga. Já agendamos a entrevista para você. Amanhã, às dez da manhã. — Rick sorri de lado. — Você tem menos de vinte e quatro horas para se transformar na babá perfeita.
Ela inspira fundo, já sentindo a pressão subir. Sabia dos riscos que esse trabalho exigia e, por mais que já tivesse vivido inúmeras situações, nunca foi de fato uma policial camuflada, afinal, precisa de muitas coisas para ser.
— E o que faço quando estiver lá? — ela pergunta, sentindo os dedos tremerem levemente.
— Ganha a confiança deles. — Rick responde de pronto. — Observa. Escuta. Descobre onde guardam os automóveis, o dinheiro, quem são os contatos. E, principalmente, avisa se planejarem outra ação. Tente descobrir quem patrocina os esquemas, quem planeja os assaltos. Seja nossa espiã.
Soyeon fecha a pasta devagar. Insegurança pairando no ar. Ela sempre amou crianças, seu sonho sempre foi ser professora, a profissão mais bela em seus olhos. Porém, o destino não foi gentil e ela acabou escolhendo a academia, onde outra profissão brilhava para si.
— E se eu gostar das crianças?
Rick faz um breve silêncio, seu olhar ficando duro. Ele conhecia as nuances da profissão, sabia exatamente que as pessoas são suscetíveis a mudar de time. Contudo, ele também conhecia Soyeon, sabia de sua lealdade acima de tudo, por isso era a escolha perfeita.
— Lembre-se quem você é, Soyeon. Do seu legado, da sua integridade e ética. Lembre-se do seu pai, um herói para muitos. — Richard disse, olhando para sua pupila. E, dessa vez, ele nem tentou sorrir.
Enquanto isso, no outro lado da cidade, Josh e Jackson arquitetavam o início do seu plano. Josh mostrava as fotos para seu comparsa, analisando a vida de Jennie, cada passo seu sendo registrado pelas câmeras de Josh.
Havia algo que os intrigava reciprocamente, dúvidas que plantavam em suas mentes igual a uma coceira. Agora era a hora perfeita para as perguntas, pois estavam sozinhos no apartamento de Jackson.
— Cara, não me leve a mal, mas por que você entregou sua esposa de bandeja para Lisa? — Jackson perguntou.
Josh coçou a cabeça antes de responder. Ele realmente gostou dela no começo. Ele se importou com ela e até concordava em ter aquela pentelha na vida deles, apesar de nunca se esforçar para isso.
— Mano, não vou mentir para você, já gostei muito dela. — Um gosto amargo se instalou em sua boca, como se amar fosse algo ruim. — Mas eu tava muito amarrado, tá ligado?
Jackson assentiu com a cabeça, mas isso não quer dizer que concordou com o comentário. Ele levantou e pegou dois copos de whiskey, entregando um para seu cúmplice.
— Isso não justifica. — Comentou, bebendo sua dose.
— A verdade é: já queria chutar a bunda dela faz tempo, mas tinha minhas comodidades. — Ele bebeu um gole antes de continuar. — Ela trazia dinheiro para casa, aproveitava gastando.
Jackson riu, achando graça pela verdade. Josh era louco por deixar uma beldade daquelas ir embora. Por mais que Jackson fosse um imbecil, ele ainda tinha olhos e sabia admirar uma mulher bonita, e Jennie era mais que linda.
Aproveitando a situação, Josh resolveu perguntar aquilo que o assombrava, pois temia que o outro estivesse apenas usando dele como uma isca.
— Mas e você? — Questionou, virando o resto de seu whiskey. — Por que quer foder com sua priminha?
— Lisa é uma vaca. — Jackson respondeu com ódio. — Ensinei a ela tudo que sabia, mostrei como se livrar da polícia. Foi só ela começar a correr e ganhar uma grana com isso, que me tornei esquecível.
Josh se surpreendeu com o ódio que Jackson falava. Assim como achou seu argumento inválido no começo, ele desconfiou da verdadeira resposta.
— Cara, explica melhor.
— Veja bem, a mãe de Lisa era doente pra uma porra, câncer e os caralhos. — Jackson encheu seu copo novamente. — Ela dançava no bordel, mas acabou machucando um cara foda. Ela até foi fichada, só que tiraram a queixa.
Josh observava em silêncio, escutando o desabafo de seu colega, enquanto enchia seu copo também, mergulhando no álcool, seu velho companheiro. Olhava com atenção, preso no enigma de tanta raiva que havia em Jackson.
— Cresci em um lar pobre, sei o que é passar fome. — Seus olhos faiscaram. — Ela tinha a promessa da mudança, porra. A merda do roubo que ela faria e eu roubaria dela.
— Então você nunca gostou dela? — Josh perguntou, degustando o líquido âmbar.
— Nunca gosto de ninguém, Josh. — Ele respondeu, com um olhar duro.
— Calma aí, cara. Achei que gostava da Lisa. — Josh ergueu as mãos em redenção.
— Da Manoban? — Ele deu um sorriso nasal. — Só senti dó da mãe carcomida dela.
Na mesma hora, Josh se engasgou ao ouvir o sobrenome de Lisa. Jackson deu pequenas tapas, com a finalidade de ajudar Josh a respirar. Quando se acalmou, Josh olhou para Jackson, a dúvida brilhando em sua íris.
— Você disse Manoban? — Perguntou.
— Sim, esse é o sobrenome de Lisa. — Jackson respondeu confuso.
— Pensei que fosse Wang...
— O quê? Não. — Jackson logo falou. — Nos chamamos de primos porque eu chamava a mãe dela de tia.
— Tem certeza que é Manoban? — Josh questionou.
— Tenho, sim, caralho. — Jackson rosnou, perdendo a paciência. — Ela adora exibir esse sobrenome para cima de nós.
Josh sentiu suas pernas fraquejarem. Ele não acreditava no que havia ouvido. Uma raiva se instalou em seu peito, deixando-o cego por vingança também. Ele se levantou, encheu sua terceira dose, olhando com fúria para seu cúmplice:
— Vamos foder com essas vadias. — Rosnou, mais determinado que nunca.
Jackson não entendeu nada, mas levantou e brindou com entusiasmo. Seja lá o que motivou Josh ainda mais, só deu certeza de ter escolhido um parceiro excelente. Jackson mal esperava começar seu plano, começando com as fotos e um leve recado para Jennie. Elas mal podiam esperar pelo que o destino reservava para ambas.
Do outro lado da cidade, duas mulheres riam e amavam sem saber que o perigo as cercavam.
Indíce
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!