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As Golpistas-A ida ao orfanato

As Golpistas

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As Golpistas A ida ao orfanato

  Sentia o clima leve no carro, mesmo indo até um local triste. Bem, eu considero triste, tendo em vista que é local de crianças órfãs ou com pais que não conseguem as manter. Minha prima Jisoo sendo uma delas.

Chegamos no orfanato e achei lindo. Havia um pátio gigante, verde e coberto de árvores. Uma capela era vista na parte dos fundos e no lado haviam dois prédios brancos. O estacionamento dava a visão de tudo e via crianças no pátio, lendo, brincando, comendo.

Jisoo estacionou em frente a uma quadra de basquete, onde havia mais de 20 crianças jogando, de diversos tamanhos. Logo eles voltaram atenção para nós e vieram correndo na nossa direção.

— Tias, vocês vieram mesmo.

— Tias, eu cresci, olha só.

— Tias, quem é essa?

Eram tantas crianças e tantas perguntas, que acabei ficando tonta. Mas logo o tumulto acalmou quando uma freira apareceu. Ela era idosa, suas rugas mostrando a passagem do tempo, mas seu sorriso era doce e caloroso.

 Veja se não são minhas meninas de ouro.  Ela disse suavemente.  E vejo que há um membro novo.

Senti minhas bochechas pegarem fogo, mas não evitei um sorriso. Estendo minha mão em sua direção e ela me puxa para um abraço gostoso.

— Muito prazer, sou Jennie Kim. — Me apresentei.

— Sou a irmã Catherine. — Disse, beijando minha bochecha. — Seja bem-vinda ao Saint Lucia.

— Kim igual minha doce Jisoo? — Ela perguntou, olhando para minha prima.

— Sim, irmã. Ela é minha prima. — Jisoo respondeu, sorrindo para mim.

— Qualquer amiga da minha Jisoo é bem-vinda.

— Trouxemos doações, irmã. — Rosé disse.

— Veja se não é minha querida Rosé. Como você está linda.

Viro para Rosé e a vejo ficar vermelha. Ela abraça a irmã, que a beija em sua testa. Logo Jisoo avisa que trouxe presentes e uma galera surge para ajudarem. Elas são abraçadas pelas crianças e logo então conversando.

Lisa percebe que estou um pouco para trás e vem em minha direção. Seu sorriso reflete a luz do Sol, mostrando como ele resplandece. Ela pega em minha mãe e indica com a cabeça uma carreta chegando. Os brinquedos chegaram na hora certa.

Com muito custo, e energia, auxiliei a carregarem. Os salões eram impecavelmente limpos, e a capela emitia um odor de canela maravilhoso. Após todo esse processo, Jisoo e Rosé se encaminharam para falar com a Superiora, então Lisa me puxou para fora, para perto da quadra.

— O que está achando do local? — Ela pergunta, sentando em um dos bancos.

— Aqui parece ser um lugar amoroso. — Digo. — Ao menos a irmã parece ser.

— A irmã Catherine é um doce. Mas desobedeça ela, para você ver. — Ela disse rindo.

— E você já desobedeceu? — Perguntei, arqueando minha sobrancelha.

— Já. Sujei a cozinha e fiquei 30 minutos de joelho na capela. — Ela conta, rindo.

— Sua danadinha. — Falei, sorrindo enquanto fazia cócegas em seu abdômen gostoso.

Quando ela estava prestes a falar comigo, um garoto ruivo apareceu. Ele corria em nossa direção, fazendo Lisa abaixar-se para pegar em seu colo, jogando-o para cima. A criança ria e ela também.

— Tia Lisa, você veio nos ver. — Ele dizia, empolgado.

— Olá, Léo. Como vai meu campeão?

— Estava com saudades, tia Lisa. — Ele segurou o rosto de Lisa, apertando a bochecha para que ela tivesse um bico.

— Eu também estava, campeão. Trouxe aquele carrinho que você queria.

— Sério? — Ela afirmou com a cabeça. — Vou pegar para a gente brincar.

Ele desceu do colo e correu em direção à capela. Lisa olhava para o pequeno com um sorriso. Havia ternura em seu olhar, quase como se ela fosse... mãe.

— Ele gosta muito de você. — Disse para Lisa, quase um pedido mudo.

— Conheci o Léo há dois anos. — Ela suspirou tristemente. — Seus pais testaram positivo para HIV, então ele foi abandonado. As crianças daqui souberam, de alguma forma, e desde que descobriram, isolaram ele. — Uma pequena lágrima se formou.

— Que horror. Por que fazem isso? — Pergunto, sentindo meu coração partir em milhões de pedaços.

— Porque as pessoas têm preconceito do desconhecido, Jennie. — Ela olhou para mim. — Elas têm medo do que não conhecem e acabam isolando aquilo que é diferente.

Meu peito se fecha perante sua fala. Lembro de chegar nesse país e sentir a dor do racismo em minha pele. Em como eles ficavam puxando os olhos com a ponta dos dedos e inventavam um idioma balbuciando qualquer coisa.

Lembro também de como apontavam para mim e riam. A dor da rejeição é a mais profunda cicatriz que uma criança pode sentir.

— Sinto muito por ele. Sei como é ser rejeitado.

Sinto os dedos de Lisa deslizando para minha cintura e ela aproximar seu corpo ao lado do seu. Sua mão envolveu minha silhueta e um beijo casto ser depositado na minha têmpora.

— Prometo que farei você nunca mais se sentir assim.

Confesso que me derreti em seus braços. Sentia cada vez mais a garoa me encharcando e não temia ficar doente.

Lisa havia me dado várias provas de cuidado e carinho. E sua felicidade em querer conhecer minha filha, enchia meu peito de amor. E agora vê-la tratar tão bem uma criança, que julgo ter a mesma idade de Aime, me deu um pouco de paz.

— As crianças ignoram ele, então em uma das minhas visitas, o vi ficar sozinho no canto. Não resisti e fui de encontro a ele. — Ela me olhava. — Parecia uma conexão de outra vida, sabe? Como se eu tivesse sonhado com ele.

Eu podia sentir o afeto que ela tinha com a criança. Seus olhos se enrugaram e as covinhas apareceram conforme seu sorriso aumentava. Não pude deixar de sorrir também, imaginando como ela seria uma boa mãe. Bom sinal para mim.

— Que bom que ele encontrou você. — Disse, enquanto passava meu polegar em sua face.

— Um dia pretendo adotá-lo.

Confesso que isso me deixou mais feliz do que esperava. Isso significa que ela é adepta ao fato de ter criança ao redor. Ótimo para mim, vou usar ela como babá para quando for para a faculdade. Ninguém mandou ela querer sair comigo.

— Tia Lisa, vem brincar comigo. — Léo havia retornado, trazendo uma retroescavadeira. Lisa pegou em sua mão e o levou para onde havia um quadrado com areia e alguns balanços. O garotinho olhou para mim e sorriu, esticando sua mãozinha para que eu pudesse pegá-la. Nem hesitei um segundo para entrelaçar nossos dedos.

Confesso que o tempo passou rápido enquanto brincávamos. Fizemos um castelo de areia, e ele foi o construtor, trazendo areia para nós. Éramos suas princesas e ele nos protegia dos monstros que tentavam nos roubar.

Logo Jisoo e Rosé chegaram e começaram a brincar também. O problema é que elas pareciam mais crianças do que o próprio Léo.

— Eu sou a princesa e você é o dragão. — Lisa disse para Jisoo.

— Não, eu quem sou a princesa, você é feia que nem um dragão. — Jisoo respondeu.

— Se eu sou feia, você é o Shrek.

— Shrek é sua bunda. — Ela olhou para Rosé. — Me defenda amor.

— Você não é o Shrek, amor. — Jisoo sorriu. — Está mais para lord Farquaad.

Jisoo fechou a cara com a mesma rapidez que Lisa caiu na gargalhada. Ela chegou a se jogar no chão e segurava seu abdômen de tanto rir.

— Cala a boca, Lisa. Se sou o Farquaad, você é o burro. — Jisoo falou, com um bico enorme.

— E a Rosé é a Fiona. — Lisa apontou para a loira.

Então elas olharam para mim e olharam entre si. Sabia que iria vir algum comentário idiota.

— Então a Jennie vai ser o dragão. — Jisoo falou. — Rabo grande a gente sabe que ela tem.

Mas olha a audácia desse toco de amarrar jegue.

— Como é que é? — Disse, indignada por esse complô.

— Você tem que ser o par romântico do burro. — Rosé disse, rindo da situação.

— Pois o burro vai namorar a palma da minha mão, se continuar assim.

— Ei, quanta agressividade. — Ela encolheu os ombros.

Desistimos de brincar na areia, então Lisa teve a ótima ideia de jogar basquete. Jisoo era tão ruim que ela perdia a bola a cada duas quicadas. Lisa colocou Léo em seus ombros e jogava assim.

Fiz dupla com Rosé, que jogava melhor. Logo chegaram mais crianças e adolescentes e o jogo virou um caos. Não conseguia encostar na bola e quando ela chegava perto de mim, eu fugia.

Lisa era a única que jogava com afinco, sempre entregando a bola para que Léo fizesse uma cesta. E cada ponto que ele fazia, ela rodopiava com ele em seus ombros. Não sabia quem estava se divertindo mais.

Após cansarem de jogarem, decidiram fazer um pega-pega. Eu sentia meu pulmão pedir socorro de tanto exercício, mas confesso que estava muito feliz. Até Lisa ser o pegador e me escolher como alvo.

Corri com toda velocidade que conseguia, mas como ela é um avestruz, logo estava me alcançando. Quando achei que estava livre, ela enlaçou com tudo minha cintura, me fazendo cair com tudo na grama.

Mas minha doce vingança foi feita: a levei para o chão comigo. Rolamos na grama macia, enquanto gargalhávamos. Ela subiu em cima de mim e prendeu meus braços acima da cabeça.

— Me soooooolta, Lisa!

— Jamais. — Ela disse gargalhando. — Está com você.

Ela sorria me olhando. Lentamente a risada foi diminuindo e seu rosto ficou mais suave, mas ainda havia um sorriso no rosto. Seus olhos me fitavam com carinho e focaram em meus lábios.

— Você é linda, Jennie. — Ela sussurrou para mim. — Quer sair em um encontro comigo?

Seus dedos soltaram minhas mãos e começaram a dedilhar meu rosto. Seus dedos acariciavam cada canto em minha face e seus olhos acompanhavam todo movimento. Quando seu polegar passou em meus lábios, dei uma pequena mordida, fazendo com que Lisa sorrisse e mostrasse sua covinha.

— Ainda tem dúvidas?

— Então é um sim? Você sairia comigo? — Ela perguntou esperançosa.

— Eu seguiria você até o inferno, Lisa.

— Não precisa tanto. — Ela sorriu. — Te pego às 20:00.

— Combinado. Agora que tal selar esse acordo? — Perguntei, dando um sorrisinho safado.

Lisa olhou para os lados e viu estarmos mais afastadas. Então baixou e capturou meus lábios com os seus, dando um selinho. Confesso que queria mais, mas estávamos em público.

Ela se afastou e me deu a mão, para eu levantar. Ajeitamos as roupas e voltamos lentamente para a área das crianças. Quando chegamos perto, retirei minha mão da dela e encostei em seus ombros, olhando dentro de seus olhos.

— Está com você. — Disse e corri.

Quando olhei para trás, Lisa sorria, mas ainda estava no mesmo lugar. Ela balançava a cabeça negativamente e olhava para mim. De repente ela começou a correr e a folia recomeçou.

Ai, Lisa, o que você está fazendo comigo?

 


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