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As Golpistas

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As Golpistas End game

Lisa e Jennie não sabiam quanto tempo havia se passado naquela delegacia. Foram interrogadas inúmeras vezes, assim como as três mulheres, além de Roger, Jackson e Josh. Cada um foi ouvido separadamente, para os investigadores compararem as versões e buscassem contradições. Roger, ao ser atingido, sofreu uma lesão no lobo temporal esquerdo, o que afetou sua memória. Esquecia nomes, lugares, rostos. Seu depoimento, por isso, era vago e considerado inválido para uso legal. Na residência de Jackson, um notebook foi apreendido e os peritos o analisavam com urgência. Além disso, havia o depoimento completo de Soyeon — pessoa em quem Richard confiava cegamente. Afinal, ela era sua melhor agente e fiel à justiça. Ao fim da noite, Richard finalmente concluiu que Jennie e Lisa eram vítimas de duas mentes perturbadas. As provas recolhidas eram suficientes para incriminar Josh e Jackson, que então permaneceram detidos. Jennie e Lisa estavam separadas, impedidas de manter contato direto. Mas nada podia apagar o vínculo entre elas: dois corações distantes pulsando em um mesmo compasso, sustentados pela esperança de um final feliz. As crianças ainda estavam assustadas. Há dias haviam sido arrancadas dos braços de suas mães. Miyeon — ou melhor, Soyeon, seu verdadeiro nome — permanecia com elas, cuidando o tempo todo. Por mais que tentasse consolá-las, Aime e Leo só queriam uma coisa: voltar para suas mãezinhas. Quando Richard enfim deu-se por satisfeito, liberou Jennie e Lisa para recolherem seus pertences. Não se espante com a rapidez de sua decisão. Ele só queria colocar um ponto final em toda aquela dor. Assim que os olhos de Jennie encontraram Lisa, ela correu ao seu encontro e a abraçou com força, as lágrimas escorrendo sem controle. Estavam exaustas. Só queriam as crianças de volta. Antes que se separassem para procurá-las, dois pequenos chamados ecoaram pelo corredor.Aime e Leo corriam o mais rápido que podiam e, em segundos, seus corpinhos se chocaram contra os das mães.Lágrimas de alívio e felicidade transbordaram. Todos ali sabiam que o que viam era o reencontro de uma família que nunca deveria ter sido separada. Logo, ouviu-se uma salva de palmas. Os oficiais, emocionados, aplaudiam a cena diante deles. Lisa apertava Léo com tanta intensidade que parecia impossível haver dois corpos ali. Aime, por sua vez, era sufocada pelos braços magros de Jennie, que molhava seus cabelos com lágrimas silenciosas. As emoções eram tantas que ninguém conseguia segurá-las. Quando o reencontro se acalmou um pouco, elas trocaram os pares. Agora era Lisa quem esmagava a pequena Kim com abraços e beijos, enquanto Jennie cobria o rostinho de Léo com carinho. Os quatro matavam a saudade que sentiam uns dos outros. Soyeon observava a cena com um leve sorriso no rosto e um peso a menos na consciência. Sabia que separá-los teria sido uma injustiça ainda maior. O roubo real do banco ainda precisava ser resolvido — mas aquilo ficaria para o dia seguinte. Por hoje, ela encerrava seu turno. — Lisa — chamou ela.A loira levantou o olhar e se aproximou. — Obrigada, Miyeon, por cuidar das crianças — disse Lisa, com gratidão nos olhos. — Não sabia que você era policial. — Meu nome é Soyeon. Jeon So-Yeon. Se quiser, posso explicar tudo que está acontecendo. Ambas sabiam, na verdade. Mas era necessário manter o teatro. Não podiam correr riscos de levantar suspeitas. Fingindo desconhecer a situação, Lisa aceitou a carona que Soyeon lhe oferecia. — O oficial Moore levará sua moto até sua casa. Vamos, eu levo vocês todos. E assim, os quatro — Kim-Manoban — seguiram para a viatura que Soyeon dirigia com tranquilidade. Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, refletindo nos prédios altos da cidade.As crianças dormiam, aninhadas no corpo quente e protetor de suas mães. Lisa e Jennie ainda mantinham os olhos atentos, mas seus mindinhos se tocavam, como uma promessa silenciosa: Tudo ficaria bem.   P.O.V Jennie Kim   Não há palavra que expresse o que sinto neste momento. Estamos todos deitados na cama, aconchegados, juntos, como sempre deveria ser. Olhar o rosto dos nossos filhos assim, serenos e despreocupados, não tem preço. — Você deveria estar dormindo — a voz de Lisa soou pelo quarto. Sei que ela dormiu tão pouco quanto eu. A adrenalina ainda corria em nossas veias. A loucura do dia anterior voltava e se repetia na minha mente. Ainda não processei tudo o que aconteceu. — Lisa, podemos conversar? — perguntei. — Claro, amor. Vamos para a cozinha, as crianças ainda estão dormindo. Nos levantamos com o máximo de cuidado e seguimos silenciosas até a cozinha. Lisa preparou o café, ligando a máquina, e logo foi à geladeira pegar ovos, queijo e leite. Eu a observava enquanto se movia com tranquilidade — como se não tivéssemos, horas atrás, roubado um banco. — Amor? — chamei. — Pode perguntar, Jen. Não vou esconder nada. Suspirei alto. Aquilo foi a confirmação: ela sabia que Josh era seu irmão. — Há quanto tempo? Digo, desde quando sabia que vocês eram irmãos? E a Miyeon ser da polícia... como isso aconteceu? — Levei as mãos à cabeça, tentando organizar os pensamentos. — Desde a noite dos fogos — ela respondeu, batendo os ovos calmamente. — Miyeon... ou melhor, Soyeon, me ligou naquela noite e passou uma cafeteria. Enquanto Lisa falava, minha mente girava. Minha vida parecia um filme de baixo orçamento. (Ou uma fic, mesmo.) Só uma mente perturbada inventaria tanta coincidência. (Sim, estou falando com você, autor.) — Mas... e o que faremos com o que roubamos? Digo, é muita coisa — perguntei, baixando a voz. — Bem, não sei você, mas eu cansei deste país — disse ela, me encarando. — Lembra do que te pedi durante a missão? Engasguei com o café. Esquece, Jennie não morreu antes. Ela morreu agora, engasgada com café quente, vestida com um pijama da Hello Kitty. No meu túmulo, escrevam: "Pelo menos não estava encalhada." — Vo-você falou sério? — perguntei, ainda tossindo. — Se você não achou sério, então vou precisar refazer — disse ela, com um sorriso misterioso. Lisa se ajoelhou e tirou uma pequena caixa de veludo do bolso do roupão. Meus olhos se encheram de lágrimas. Meu coração palpitava tão forte que parecia prestes a romper meu peito. Um arrepio percorreu minha espinha quando segurei sua mão. Todo o ar escapou dos meus pulmões. Naquele instante, nada mais importava além de dizer "sim" para aquela mulher. — Jennie, não faz sentido termos passado por tudo isso se não for para sermos eternas uma na vida da outra — disse, abrindo a caixinha e revelando uma aliança dourada. — Casa comigo? — Não existe outra resposta além de: SIM! Lisa se levantou e me abraçou. Senti seu corpo tremer e suas lágrimas molharem minha camiseta rosa. Ela sempre foi forte, sempre segurou tudo — mas ali, ela se permitiu desabar. E eu... eu fui com ela. Também chorei. Um rio de sal escorria dos meus olhos. — Está tudo bem, Lisa. Estamos bem agora. Ela soltou um soluço, e eu selei seus lábios para acalmá-la. Passei os dedos por seu cabelo sedoso e, aos poucos, ela foi parando de chorar. Ainda bem que o fogão estava desligado, ou a casa teria pegado fogo. — Desculpa, Jen — sua voz falhou. — Desculpa por tudo que fiz vocês passarem. — Shhh... já passou. Estamos aqui. Juntas. Ali, sentadas no chão frio da cozinha, deslizei o aro dourado em meu anelar. Era uma aliança simples, mas linda: com uma pequena pedra rubi no centro. A dela, com uma pedra verde. Cada cor representava nossas casas em Harry Potter — sim, Lisa é Sonserina. — Lisa? — Ela respondeu com um "hum" nasal. — Podemos não chamar o meu cunhado? Tentei aliviar o clima. Afinal, era meu noivado, caramba! Ela riu. Riu até se jogar no chão e me puxar junto. Ficamos ali, deitadas no azulejo gelado, rindo e nos abraçando. E confesso que não queria estar em nenhum outro lugar. Não existe lugar melhor do que nos braços de quem nos faz lar.      


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