
As Golpistas Laços
Minha perna tremia violentamente, o nervosismo aflorado em minha pele. Lisa permanecia focada na estrada, sorrindo e cantando. Seus lábios, rosados e carnudos, mostravam a fileira perolada. Apesar de tudo, só de saber que aquele sorriso é destinado para mim, meu coração dá um solavanco de alegria.
— Chegamos, boneca.
Olhei para o local e fiquei impressionada. O galpão era alto, com o logo da oficina se destacando. Havia três entradas de garagens, e mais ao fundo inúmeros equipamentos e elevadores.
Havia cerca de 5 carros, sendo que dois estavam elevados, com três homens analisando-os. Olhei ao redor em busca de minha prima. Minha prima. Só pela hipótese de que ela renegue nosso laço, sinto tremor em meu interior.
Lisa encaixou seu braço possessivamente em minha cintura, guiando o caminho. Passamos por mais uma área, onde havia um enorme estacionamento, com 10 carros no local. Suas marcas e modelos variam, mas o que chamou minha atenção foi um Jaguar F- Type, azul-escuro.
Instintivamente fui de encontro a ele, passando minha mão por seu capô. Seu interior era revestido em couro preto e notei modificações tais quais haviam no Impala. Virei o rosto para Lisa e ela sorriu, tocando no teto do carro.
— Esse é meu favorito. O Rony vai de 0 a 100 km/h em menos de 6 segundos. A velocidade dele era em 250 km/h, mas conseguimos dar uma aumentada. — Ela olhava para o carro com paixão.
— Quer dar uma volta?
Minha língua coça para que eu diga sim, mas eu estava em uma missão. Missão essa de tentar contar para Jisoo que somos primas. A ansiedade não irá permitir que eu desfrute do passeio.
— Estou cansada de tanto ficar sentada em um veículo. — Minto. — Quero tomar um café e comer alguma coisa.
Lisa acena e pega minha mão, nos retirando do local. Ela me guia até uma escada caracol, nos levando para cima. Quando chegamos, ela abre uma porta, revelando uma pequena travessa, que leva a uma casa.
Uma ligação entre uma casa e a oficina. Havia duas portas de vidro, mas que havia um adesivo fumê, o que impedia de ver por dentro. No canto, há um pequeno interfone, onde Lisa digitou uma sequência de números, fazendo uma música tocar e a porta ser destrancada.
A porta dava para uma sala grande. Havia um sofá em L, da cor marrom, um tapete felpudo, da cor marrom, tomando parte da sala. Um imenso painel segurava uma TV de 80 polegadas, e embaixo um rack com videogames e jogos finalizava a área. Duas plantas grandes compunham o cenário, uma de cada lado do sofá.
Lisa me guiou novamente para a saída, indo em direção a um pequeno corredor, que dividia os cômodos. Entramos no primeiro a direta, onde deu a cozinha. E ela era linda.
Os móveis eram, em sua maioria, preto. Jisoo estava cozinhando no cooktop preto, um aroma delicioso no ar.
Rosé estava sentada na mesa de seis lugares. Ela era de mármore preto, combinando com as cadeiras da mesma cor. Na pia, os armários eram brancos com maçanetas pretas. A geladeira de duas portas era branca, e havia um local para a saída de água em suas portas.
O micro-ondas e o forno, ambos pretos, ficavam embutidos nos armários, dando uma apresentação sofisticada. E havia um enfeite de Hello Kitty na bancada, com inúmeros talheres e apetrechos em rosa.
— Oi, meninas, chegamos. — Lisa disse, simplista.
Jisoo olhou por sobre o ombro e sorriu, fazendo seu olho desaparecer. Rosé já havia nos cumprimentado com um acenar de cabeça e estava resolvendo um jogo de Sudoku. Sua testa tinha uma fina linha de concentração.
— Oi, Jennie. Como foi a viagem?
— Foi ótima, eu estava com saudades da minha filha. — Respondi, honestamente.
— Você tem filha? — Lisa perguntou, sorrindo. Bom sinal.
— Sim, minha pequena Aime tem quatro anos e mora com meus pais.
— O nome é tão lindo quanto ela deve ser.— Jisoo comentou.
— Ela é minha borboleta. — Digo, sorrindo.
Lisa sorriu e pegou minha mão, beijando-a nas costas.
— E quando poderemos conhecer essa princesa?
— Você quer a conhecer? — Perguntei, atônita.
— Mas é claro. Por que não iria querer?
Dei de ombros em resposta, mas não consegui segurar que o sorriso rasgasse minha face. Ela me abraçou de lado, deu um beijo em minha têmpora e foi olhar o que Jisoo cozinhava.
— Traga logo sua pequena. — Jisoo disse, enquanto batia em Lisa com uma colher de pau.
— Iremos amar conhecê-la, Jennie.—Rosé disse.
Meus olhos arregalaram e meu pescoço doeu quando olhei rapidamente para ela. Seu rosto estava suave, mostrando seu sorriso perfeito. Ela fez um joinha com a mão e voltou a jogar. Pisquei várias vezes e meu interior se aqueceu com tamanha ação.
Sempre que digo que tenho filha, é como se houvesse um repelente de amigos. Todos se afastaram, como se eu tivesse uma praga. E agora? Esse acolhimento é algo incompreensível, porém fico grata que esteja acontecendo.
— Jen, queria falar com você. — Jisoo disse.
Eu juro, eu gelei, eu congelei, eu travei. Eu paralisei, não consigo olhar para o lado. Eu fiquei pasma, eu fiquei branca, eu fiquei fria.
— Claa-ro.
— Mas primeiro, vamos comer. — Lisa disse, batendo palma de contentamento.
Jisoo fez um macarrão ao molho branco, com brócolis e bacon, suco de limão e batata frita. Só de olhar, meu estômago roncou, o que, na verdade, é um mito, mas ele deu sinal de vida.
Lisa e Rosé entraram em uma competição de quem comia mais e eu assistia horrorizada com a quantidade que a minha garota comia. Sério, ainda bem que ela rouba e tem mais dinheiro, sem condições.
Após eu ficar pensando em como aquelas duas são magras, fomos para a sala. Havia uma travessa com bolo e café, e Lisa se serviu. Pai amado. E Rosé ainda pegou dois pedaços. Eu não vou convidar ninguém para comer comigo.
— Jennie, preciso falar com você. — Jisoo disse séria.
Pronto, família. Agora ela vai me ridicularizar, mandar eu a merda, dizer que sou o milho do coco.
— O que foi, Chu? — Buscando serenidade do cu, pergunto com um poker- face danado.
— Bem, Lisa te fez o favor de tornar você uma desempregada. — Lisa deu um soco em seu braço, com um bico enorme em seus lábios.
— Vagabunda! Enfim, eu tenho uma vaga como atendente em minha loja e quero saber se você gostaria de trabalhar aqui conosco.
— Mas eu não entendo nada de carro. — Digo, segurando o choro.
— Não precisa entender. Basta atender ligações, cobrar os clientes e ser simpática.
— Você quer que eu trabalhe aqui?
Sinto meus olhos lacrimejarem, emocionada. Eu era uma desconhecida, quer dizer, nem tanto, que ela vai oferecer uma vaga.
— Claro, Jen. Você ganhou meu coração quando mostrou a bunda que Deus te deu.
Lisa e Rosé romperam em gargalhada, fazendo que nós duas também caíssemos no riso. Mas meu interior estava agitado, minha mente estava estática. Porém, não posso aceitar sem primeiro contar a verdade.
— Chu, antes de aceitar, preciso te contar algo.
A seriedade tomou conta da sala, e as meninas olhavam para mim em expectativa.
— Mas antes, será que posso perguntar algo?
— Que séria. Claro, manda aí. — Ela respondeu.
— Você pode me contar sua história?
Ela ergue as sobrancelhas, mas não fez cara feia. Bem, ela é linda, jamais teria uma face feia. Só a expressão.
— O que você quer saber exatamente?
— O que quiser me contar. — Falo em baixo tom.
— Bem, eu sou órfã. Vivi minha vida quase inteira na Coreia, mas fui adotada por um casal americano. Mas eles não gostavam do meu sotaque, então fui para o sistema de novo. — Ela disse, respirando fundo.
— Então quando fiz 17 anos eu saí, batalhei e agora sou fodona.
Meu coração se apertou e respirando fundo, fiz minha última pergunta antes de contar a minha revelação.
— Você, se pudesse, gostaria de ter alguém da sua família por perto?
Sua mandíbula foi contraída minimamente e seu rosto endureceu.
— Depende.
Lentamente tirei a foto do meu bolso. Ela estava esmagada, amassada, mas ainda dava para ver nitidamente. Estendendo a foto para Jisoo, ela pegou automaticamente. As meninas estavam mudas e eu sentia o clima tenso.
Jisoo olhava com afinco, passando o dedo na imagem. Vi um vinco se formar em sua testa e ela se questionar. As engrenagens de sua mente tentava compreender o que era isso.
— Sou eu quando era criança. — Ela disse baixinho.
— Como? Quem?
— Quando visito minha mãe, eu sempre tenho o hábito de olhar as fotos antigas da Aime.
— E por que você tem uma foto minha? — Ela me cortou.
— Como eu estava dizendo, tenho esse costume. — Respirei fundo.
— Dessa vez olhei o meu álbum e encontrei essa foto. Reconheci alguns detalhes em você e isso plantou uma dúvida em minha mente. Então perguntei para minha mãe.
— Sua mãe? — Jisoo visivelmente tremia.
— Perguntei a ela quem era essa menina. E ela me respondeu.
— Ela disse quem era essa menina comigo na foto?
— Não Jisoo, ela respondeu quem era a menina na foto comigo.
— Com você? — Seus olhos se arregalaram.
— Sim, ela me disse que essa garota era Kim Jisoo, filha de minha tia. Chu, você é minha prima perdida.
Indíce
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