
As Golpistas Desafios
— Então eu disse: DU-VI-DO! Ela foi lá e raspou as sobrancelhas. — Minnie nos contava sobre a adolescência dela e de Lisa.
Minha gargalhada soou acima do som alto. Ainda estávamos no campo, ouvindo música e bebendo cerveja. O clima era agradável e as músicas suportáveis. Lisa havia nos levado para um canto iluminado e sua amiga Minnie veio conosco.
Estamos conversando e falando sobre como Lisa sempre fazia coisas doidas, apenas pelo fato de alguém duvidar. Eu queria ter toda essa coragem. O máximo que já fiz foi o Racha e só porque eu não sabia que iria acontecer.
OK, eu fui jantar na casa de uma ladra totalmente desconhecida?. Sim, eu saí com ela no dia seguinte, no caso hoje, e estou até agora com ela. Tudo bem, vocês possuem ótimos argumentos, mas quem resiste a essa mulher? Eu mesma não.
Reparo em uma mulher vindo em nossa direção. Ela era loira, usava um cropped preto, uma calça preta com inúmeros bolsos e um tênis em seus pés. Seu rosto era asiático, com belos olhos e uma boca fina, porém manchados de vermelho. Ela atravessou nossa roda e pegou a cintura de Minnie. Gostei.
— E aí, perdedoras? — Analisando bem, sua testa era enorme.
— Hei, bebê. — Minnie responde, beijando seus lábios. Gostei disso.
— Diz isso, mas minha namorada fez você comer poeira. — Jisoo responde, fazendo um high-five em Rosé, que apenas sorri.
— Foi pura sorte. — Ela respondeu, empinando o nariz. Seu olhar voltou para mim.
— E você?
— Jennie. — Estendo minha mão cordialmente.
— Qual a boa? Sou Yuqi, mas pode me chamar de pé fundo. — Ela abraçou os ombros de Minnie e beijou sua bochecha.
— Pé fundo no freio. — Lisa respondeu, colocando seu braço em meu ombro.
A covinha apareceu e seus olhos brilhavam. Sua direita segurava um copo vermelho, com energético. Sua franja não balançava com o vento, o que me faz pensar que talvez ela use muito laquê.
— Vá se fuder, Manoban. Eu não vejo você manobrando.
— Claro, acho que não consegue ver muita coisa quando só enxerga minhas costas. — Disse Lisa, com um imenso sorriso.
— Com a Rosé no volante é fácil, quero ver você no comando. — Yuqi provocou.
Olhei esse ping-pong de conversa e senti um peso no olhar de Yuqi em cima de Lisa. Quase um ódio palpável, uma raiva escondida. Trabalhar com o público nos deixa sensíveis com as nuances das expressões. Como o enrugar de seu lábio.
— Você sabe que minha especialidade é outra. — Lisa respondeu-lhe. — Mas isso não me impede de ser boa em tudo que eu faço.
Até agora não ouvi mentiras, porque ela roubou bem e me beijou melhor ainda.
— Você se achar muito para que se esconde atrás de Rosé, não acha? — Yuqi
alfinetou.
— Que tal um desafio? — Lisa sugeriu
Desafio? Que desafio? A gente já não fez isso agora?
— Aceito, Manoban. Eu ganho de você, com meus olhos fechados.
— Quero ver quem ganha. Dez quilômetros. — Lisa desafiou.
— Você desafiou e eu faço as regras.
Lisa cruzou os braços e fez um biquinho. Percebi ser uma expressão de quando ela não gosta. Achei muito fofo.
— Está bem! Manda o desafio que eu ganharei. — Seu sorriso convencido é lindo.
— Uma ida e volta até o lote Damas......
— Facinho, facinho. — Lisa respondeu
— E Jennie e Minnie precisam furtar alguma coisa e precisaremos de prova.
O semblante de Lisa cai, ao mesmo tempo que processo a fala.
— COMO É QUE É? — Gritei.
Nunca cometi um crime na vida e agora preciso roubar? Eu sabia que deveria ter fugido com o circo quando pude. Eu deveria ter virado palhaça, porque devo parecer com uma.
— Ela não está aqui? Qual é o problema? — Eu estava começando a detestar essa garota.
— Não. Ela não é assim. — Lisa defendeu-me.
— Ela está com medinho? — Ela olhou para mim. — Ou não tem coragem?
Não deveria ter caído no papinho dela. Eu não deveria ter deixado me afetar.
— Aceito!
Mal acredito que aceitei. Eu nunca roubei. Puta que pariu, por que eu simplesmente não concordei que sou uma rata? Maldito álcool em minhas veias. Maldita vontade de querer me exibir.
— Jen, você não é ladra. — Lisa deslizou sua mão por meu antebraço, entrelaçando nossos dedos. — Não precisa fazer nada disso. Yuqi é uma idiota.
O calor de seu toque percorreu pela extensão de meu corpo. Pode me chamar de louca, mas aquilo acendeu em mim uma coragem inusitada.
— Tudo bem, Lisa. Só uma vez. — Respondi-lhe, tocando sua bochecha suavemente e sorrindo.
— E aí, garota? Vai arregar? — Yuqi disse, sútil como um elefante.
— Aposto mil dólares. — Estendo minha mão em sua direção.
— Apostado. Essa vai ser moleza.,
Seu sorriso debochado foi como fogo em minha gasolina. Apertei a mão de Lisa e puxei-a em direção ao carro. Eu quero ver aquele sorriso morrer. Mas antes de conseguirmos andar muito, ela nos chama através de um assobio.
— Lisa e Jisoo, ok!Rosé fica.
— Medo de que trapaceamos? — Lisa questionou.
— Sim, vocês são ladras, não jogam limpo.
Rosé olhou para Lisa, que apenas acenou positivamente. A loira ficou embaixo da árvore e ergueu a cabeça, passando um gesto de confiança. Jisoo seguiu para a dianteira e abriu a porta traseira , para que eu pudesse entrar.
Lisa entrou na vaga de motorista e dirigiu de volta para a 'largada'. Minnie e Yuqi encostaram e outra garota foi para a frente dos carros. Dessa vez estávamos sem os capacetes, apenas os cintos garantem nossa segurança.....
— Atenção às regras! — Aquela garota gritou. A música havia sido desligada e o silêncio dominava o local. — Esta corrida é extra-oficial. Sem apostas, sem uso de nitro e estão por conta. Nossos acessos não estão autorizados a serem usados se forem seguidas. O primeiro carro a chegar, ganhará a corrida, sendo pago pelo carro perdedor.
Ela levantou um braço e um pano estava sendo segurado. Lisa e Yuqi aceleraram sem sair do local. Jisoo estava como copiloto e começou a gravar.
— Atenção galera da REEEDE Globo! Estamos aqui, ao vivo, para gravar a vitória da nossa amiga Lisa. — Ela virou para a dita. — E para o primeiro assalto de Jennie. — Ela virou para mim.
Fiz um joinha, como se estivesse tudo bem. Mas não está nada bem. Como irei fazer essa bendita aposta? Eu já sinto o suor percorrer em minha espinha. Vejo a garota largar o lenço e Lisa pisar com força no acelerador.
Jisoo comemora e ri, dando forças para sua amiga. Yuqi está colada com a gente, dirigindo seu Chevrolet Omega CD vermelho. São dois carros antigos, mas que correm muito bem.
Lisa entra na cidade novamente, mas dessa vez seguindo outra direção. Logo a cidade nos rodeia, mas é na parte mais simples, quase perto de onde ela mora. Casas pequenas e pequenos comércios dominam a paisagem, nos fazendo entender que era um bairro residencial.
Como a rua estava deserta, praticamente, os carros seguiam quase colados, o motor rugindo, quebrando o silêncio noturno. Lisa deslizava com maestria, sempre cuidando das curvas e dirigindo com qualidade.
Yuqi às vezes tentava jogar a lataria do carro contra o nosso, mas Lisa sempre previa e afastava-se dela.
Além de gostosa, dirigia bem. Jisoo grava ao mesmo tempo que narra, deixando tudo muito divertido. Logo nos aproximamos de um posto de gasolina. As cores azuis eram chamativas e a placa com o nome "DAMAS" brilhava, chamando a atenção.
Lisa virou em direção ao posto, e olhou pelo retrovisor. Seus olhos castanhos eram hipnotizantes e me perdi naquele oceano marrom.
— Presta atenção, Jennie. — Ela me encarava pelo retrovisor, sua língua umedecendo seus lábios, tão sexy. — Você não precisa fazer nada. Eu pago esses Mil dólares e está tudo bem.
Algo em mim borbulhou, acendendo uma chama de coragem. Talvez a maneira pela qual ela queria me proteger ou como seus olhos eram quentes e acolhedores...
Havia algo que fazia meu interior aquecer e querer ficar com ela. Mesmo que isso quebrasse alguma ética ou moral que eu tenha. Ou talvez fosse as cervejas que tomei, fazendo minha mente enodoar.
— Eu quero, Lisa. — Digo firmemente. — O que preciso fazer?
— Roubar.—Disse Jisoo, rindo como uma hiena.
— Idiota.—Lisa disse. — Vá com calma, olhe as prateleiras, pegue alguma coisa e saia correndo. Estaremos esperando.
Lisa estacionou suavemente no posto. Abri a porta e corri para dentro, afinal o tempo era essencial. Ando às pressas, olhando para os itens, e vou até as bebidas. Olho para trás e vejo Minnie entrando, o que me leva a um pequeno desespero.
Pego uma garrafa e coloco dentro de minhas calças, obviamente mal escondido. Escuto passos e vejo um garoto com um esfregão olhando para mim.
Sinto minha pressão baixar, mas não tenho tempo para isso. Corro em direção à saída e ele está atrás de mim. Sinto sua mão segurar minha calça, mas ignoro e saio correndo, indo para o Impala.
A porta está aberta, apenas me jogo no estofado e vejo Lisa partir com tudo. Jisoo filma tudo e gargalha com vontade.
— Jennie, eu sabia que você possuía um cofre, mas um banco é novo para mim. — Chu disse, filmando meu traseiro.
Quando sigo seu olhar, vejo que parte de minha bunda está à mostra. Aquele idiota deve ter puxado minha calça.
Mas com a adrenalina, a sensação de missão cumprida e as risadas no carro, meu sistema acabou dando pane e eu gargalhei. Lisa dirigia um pouco devagar, o que permitiu que eu conseguisse me ajeitar e fechar a porta.
Agora Lisa corria com uma velocidade maior, deixando o carro de Yuqi para trás. No som tocava Sheesh-BabyMonster e cantávamos alto.
— B.A.B.Y.M.O.N.
Rapidamente voltamos para o meio do nada e chegamos em primeiro. Yuqi chegou dois minutos depois, pisando fundo e quase atropelando as pessoas.
— Aqui está a porra do dinheiro, Manoban. — Yuqi estendeu o dinheiro, trincando a mandíbula.
Ela agarrou Minnie e foi embora.
Uma pequena vitória entrou em meu ser. Eu fiz coisas horríveis, mas me diverti muito. A garrafa de vodca seguia firme em minha mão, como um troféu a ser mostrado. Ergui como se erguesse uma taça e uma pequena comemoração ocorreu.
— É isso aí, garota. — Rosé disse.
Foi a primeira vez que ela havia falado comigo, senti uma alegria imensa. Lisa ergueu-me em seus ombros, como se eu fosse ganhadora de uma corrida.
O sorriso não saiu de meus lábios e a sensação de ter encontrado pessoas que estavam felizes por estarem comigo adentrou em meu coração.
Eu estava em meu nicho.
Indíce
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