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As Golpistas-Uma nova pista

As Golpistas

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As Golpistas Uma nova pista

Lisa voltava para a oficina, saímos um pouco mais tarde do que 23 h. Estranhei ser tão tarde, na outra vez saímos mais cedo. Mas segundo minha gata, hoje é um evento diferente.

Eu ouvi que seria patrocinado, mas não entendi muito bem o que significava, mas sei que poderemos ir com o Jaguar e isso já me deixa feliz. Ele é um monstro andando e quero muito sentir essa belezinha.

— Lisa?

— Sim, boneca? — Ela olhou por somente um segundo para mim.

— Qual a diferença de hoje? Quero dizer, iremos usar um carro mais potente e será bem mais tarde...

— Bem, hoje é corrida da Liga.

— Não sabia que existia... — Disse, com um tom baixo.

— Legalmente não existe, é contra as regras. Mas um bando de riquinho, sem nada para fazer, gosta de apostar em nós e o prêmio compensa.

— E como funciona? — Minha curiosidade está ao nível alto.

— Bem, são 12 carros e 11 corridas ao ano. Cada corrida vale $ 50.000 e último colocado é desvinculado. Usaremos o Jaguar porque ele é nível dos competidores da Liga. O Impala são apenas para as brincadeiras.

— Os outros também usarão carros fodas?

— Sim, vai ter muito carro bom. — Ela olhou para mim e piscou. — Mas somos melhores.

Dei uma risadinha e olhei para o movimento. A escuridão dava pequenas brechas através dos postes, que mostravam as florestas que havia no acostamento. Uma música suave tocava no rádio e um pequeno frio adentrou em meu corpo.

Agora era agosto, logo o outono chegaria e com ele o frescor. Me encolhi no casaco de Lisa, permitindo que seu cheiro adentre em minhas narinas. Eu poderia inalar seu perfume por toda minha vida e jamais me enjoaria.

Chegamos logo a oficina e as meninas nos chamaram para dentro de casa. Jisoo me recepcionou dando um abraço de urso, o qual retribuí e Rosé fez um High-Five.

— Vamos? — Lisa nos chamou.

Entrei e observei o carro seguir o mesmo esquema de modificações que o Impala, somente o volante era original, e desta vez Rosé usava uma luva de couro.

— Para quê a luva? — Perguntei.

— Para que a mão dela não deslize e ela perca o controle total do carro.

Ok, é um ótimo motivo para ela usar. Acho Rosé tão habilidosa, como ela acelera suavemente e quão concentrada ela é. Sinto minha vida segura em suas mãos. Eu não deveria pensar assim não.

— Você deve dirigir desde que nasceu. — Brinquei.

— Bem, dirijo desde os 16. — Ela falou.— Achei nisso uma forma de poder tirar de mim toda a tristeza que havia em meu peito. Dirijo pela adrenalina que sinto, pelo modo como comando tudo, como me faz bem.Um dia chegou e pensei:  Eu vou dirigir meu próprio destino.

Acho que essa foi as frases mais longas que ela dirigiu para mim. Mas sinto um peso em meu coração ao entender o que ela quis dizer.

— Você sempre sentiu que não tinha controle de sua vida? — Perguntei.

Rosé estava calma, olhava para mim às vezes, através do retrovisor.

— Nunca tive. Meus pais eram viciados, e quando ela engravidou, não parou de usar. Nasci prematura, estão já comecei vindo mais cedo do que o programado. Quando era pequena, aprendi que deveria ficar calada senão eu apanhava. — Ela respirou fundo. — Eles queriam que eu ficasse muda. Eles me largavam sozinha enquanto se drogavam e escondiam as comidas. Eu só ganhava se ficasse muda, não chorasse e seria na hora que eles queriam. Muitas vezes eu ficava amarrada ao pé da mesa, passando fome, frio e dores, e quando iam outras pessoas lá, me escondiam com a toalha.

Isso explica muita coisa. Imagino quanto ela sofreu até entender que se ficasse muda, sua vida não seria prejudicada.

— Eu tinha um tio, Jungkook, ele sempre cuidava de mim. — Ela continuou. — Quando fiz cinco anos, meus pais começaram a me dar como garantia de pagamento para os traficantes. Às vezes eles eram bons, era tratada muito bem, mas ainda estava em lugares insalubres. Meu tio sempre aparecia com dinheiro e me tirava de lá, até que um dia ele não voltou.

Sinto minha garganta fechar. Eu não estava esperando por isso. Quanto que a pequena Rosé precisou viver. Quanto ela teve que ser forte, segurar choro, ser invisível.

— Um dia ele só parou de ir. Soube pelo traficante que ele havia sido assassinado, então eles me colocaram no orfanato. E foi onde conheci o amor da minha vida. — Ela disse sorrindo para Jisoo. — Eu nunca pude controlar o que comer, quando comer, como agir, nada. Então quando pego no volante, sinto que consigo finalmente ser quem sou e controlar o rumo da minha vida.

Sento um aperto na mão e vejo Lisa olhar para mim. Seu olhar demonstrava que entendia o nó que eu estava sentindo. Ela fazia ideia de como meu interior se quebrou e deu forças para que eu não chorasse.

Lisa se inclinou e beijou minha bochecha, dando um sorriso minúsculo. Jisoo colocou sua mão na coxa de Rosé, dando suporte para sua esposa. Elas trocavam um sorriso mútuo repleto de carinho.

— Que bom que nos conhecemos, Rosé. Fico honrada em escutar sua história e fazer parte dela agora. — Falei, com um sorriso gentil em minha face.

— Fico feliz de ter conhecido todas vocês. Ainda mais em ter conhecido Jisoo e ela ter me ensinado o que é amar. — Ela olhou rapidamente para o lado. — Conhecer Lisa para saber o que é amizade. E agora vou saber como é ter uma prima.

Sinto meu interior se aquecer com suas doces palavras, mas vejo a verdade nelas. Claro, a melhor experiência que ela terá, será me ter como prima. Quem não amaria o fato de me ter em sua vida?

O silêncio reinou no carro, porém estávamos felizes, cada uma mergulhada em seu mundo. Lisa ainda segurava minha mão, sempre fazendo carinho com seu polegar. Sua presença me conforta e torna tudo melhor.

Percebo que o caminho dessa vez é diferente, pois não estávamos indo para o interior e sim para o centro da cidade. Mais precisamente ao sul, onde há mais tuneis e estrada de somente duas pistas.

Estranho o fato, pois será impossível costurar com essas condições, sem falar que essa região é conhecida pela alta criminalidade por haver locais onde a escuridão predomina. Isso está cheirando igual fralda de bebê após ele mamar a manhã inteira.

— Não iremos para a pista? — Pergunto.

— Iremos, sim, estamos a caminho dela. — Jisoo responde. — Essa corrida será diferente, pequena Padwan.

— Sim, que será patrocinado e prêmio maior.

— Mas não é só isso que muda, pequena. — Jisoo continua.

Apenas um adendo aqui: pequena é a mãe. Aposto que sou mais alta que esse anão da Branca de Neve.

— Ela será mais competitiva e cada vez será mais perigoso. Essa é a oitava corrida, as coisas ficarão um pouco mais sérias.

Acabo engolindo em seco. Merda, deveria ter pensado melhor antes de querer participar. Mas nãoooo, estou me sentindo um Toreto e quis correr. Bem feito para mim, assim começo a pensar antes de agir.

Vamos lá, Jennie, não seja um frango. Você é poderosa, gostosa, divertida e corajosa. Você não vai dirigir mesmo, não é? Confie nas habilidades da sua prima agregada, ela é fodona.

Pai, sua filha nunca esteve pronta, ela retira tudo que disse anteriormente. Não me faça perecer hoje, eu ainda não cumpri com a minha missão nessa vida, então não me leve. E caso eu vá para baixo, faz favor de me deixar aqui ainda, tenho muitos pecados para cometer.

Finalmente chegamos e já havia um público enorme. Muitas pessoas estavam lá, bebendo e cantando. Havia 4 carros, todos em cores chamativas, estacionados perto de um arco, onde havia uma faixa amarela pintada.

Havia telões, onde mostravam várias  imagens de camêras, que foram estrategicamente colocadas no caminho. Uma barraca elegante abrigava alguns homens bem vestidos, que bebiam champanhe e riam de alguma piada que deveria envolver nós, os CLTs .

As meninas desceram e imitei seus movimentos. Lisa procurou por minha mão, e engatamos nossos dedos. Confesso que minha bochecha ardeu de timidez quando reparei em quantas pessoas nos fitavam.

As meninas andavam confiantes e foram em direção aos Riquinhos Rico. Eles eram feitos por moldes, não era possível. Todos eram loiros, usavam uma camiseta polo e um casaco amarrado em seus pescoços.

Isso sem falar nas calças de péssimo gosto, os sapatênis horrorosos e aqueles cabelos lambidos para trás. Credo, se tivesse dinheiro, usaria somente roupas elegantes e faria meu amor se vestir elegantemente também. Imagina ser rico e mulambento igual a eles?

— Boa noite, senhores. — Lisa os comprimentou.

— Boa noite, Manoban, Kim e Park. Vejo que há uma nova peça nesse grupo. — Os olhos do mesquinho foram de encontro a nossas mãos entrelaçadas.

Acho bom esse cover de Kurt Cobain não estar de olho em minha garota. Ela não é minha garota ainda e nem sabe que é, mas isso não quer dizer que vou dividir. Jennie Kim é egoísta em relação à Lisa Manoban. Tirem seus olhos dela.

— Sim, essa é a Jennie.

O xerox mal feito do espantalho da Fandangos levantou e pegou minha mão, beijando nas costas dela. Eu, hein. Saí cachorro velho, daqui. Eu não divido e não sou dividida. Retiro minha mão das suas e limpo o local babado.

— Muito prazer, Jennie. Sou Richard, é uma honra conhecê-la.

Credo, até o nome dele é de rico. E sim, é claro que é uma honra me conhecer. Até parece que algum dia eu falaria com você por livre e espontânea vontade. Gente rica não se toca que são bregas e ninguém gosta?

— Prazer, Richard. — Fiz uma cara séria, vai secar a mãe.

— Viemos somente os cumprimentar, já vamos para nosso carro.

— Boa sorte, meninas. Estou apostando em vocês. — Ele piscou o olho em direção a Rosé.

— Obrigada e divirtam-se com nosso espetáculo. — Jisoo disse.

Voltamos para o carro e seguimos para a linha de partida e chegada. Rosé estava atrás de dois carros, sendo a terceira colocada. Havia um Porsche 911 amarelo, o Mustang verde daquele carinha que quase ganhou da gente aquela vez, uma BMW M3 Sedan e um Toyota GR .

Estava me sentindo em 'Velozes e Furiosos', mas Rosé não é musculosa e careca. Não usamos capacetes dessa vez, mas sinto que o cinto é bem mais apertado. Mal consigo respirar, porém, não irei reclamar.

Novamente vejo Minnie ir para o centro. Usava um top preto com uma calça camuflada. Como que a criatura não sente frio? Estou usando um casaco porque a temperatura está fresca e a diaba de top. Deve ser o fogo no rabo que esquenta aquele corpo.

Minnie se posicionou no meio da rua, e levantou uma arma. Os carros começaram a rugir e nosso (já me sinto dona) Jaguar não foi diferente. O som do tiro ressoou e com isso fui lançada para trás.

Só posso rezar para não virar camiseta de saudades.

 


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