
As Golpistas Retornando para casa
— A mamãe promete que virá buscar você.
Eu estou abaixada na altura de Aime. Estávamos no terminal rodoviário, aguardando meu embarque. Minha filha chorava, e eu não estava diferente. Cada despedida era uma facada em meu coração.
— Por favor, mamãe. Não deixe a Aime de novo. — Ela soluçava em meus braços.
Sinto meu coração ser dilacerado. Uma parte de mim sempre morre quando lágrimas caem do seu rostinho infantil.
— Ei, escute a mamãe. — Limpei sua face, olhando-a em seus olhos.
— Na próxima vez que você me ver, nunca mais irei embora sem você?
— Você jura? — Ela levantou o mindinho.
Levanto e engato o meu. Encho suas bochechas com meus beijos e marco-a de batom. Meus pais apenas nos olham com pena, mas eles sabem que quero o melhor para minha filha. E agora lutarei ainda mais por isso.
— Juro juradinho. Agora a mamãe vai embora, mas quando você fechar o olhinho e dormir bastante, eu volto e te levo comigo.
— Se eu fechar meu olhinho e nanar bastante, a mamãe vem? — Ela perguntou, chorosa.
— É uma promessa, minha flor. Agora mamãe tem que ir, mas eu volto te pegar.
Antes de entrar, sinto um arrepio em minha nuca. Meu instinto diz que estou sendo vigiada, mas olho ao redor e não enxergo ninguém suspeito. Passo a mão em meus pelos arrepiados e ignoro a sensação.
É com a maior dificuldade que embarco, sempre olhando para trás. Ver Aime chorando no colo de minha mãe é devastador. Mas agora sem Josh e com um novo emprego, posso dar tudo de mim e voltar para ela.
Agora o outro pensamento que invade minha mente é: sou prima da Jisoo. Alguém que teve um momento de felicidade com ela, antes de uma tragédia. Tínhamos laços sanguíneos, que nos uniam.
Mas o que isso significava? Éramos duas estranhas que passaram momentos juntos e só. Como abordar esse assunto, com uma total desconhecida e nova peguete de sua melhor amiga?
Oi, e aí, Jisoo? Nóis é prima, tá ligado?
E se a nova família que a adotou não contou sobre? Eu não posso estragar essa relação, desmentir algo que não me diz o respeito? Ela vai me odiar, a nova família vai me odiar e Lisa também. Não dá para simplesmente falar isso.
Carrego comigo a foto, na intenção de poder provar os fatos, mas o bolo ainda está em minha garganta.
Imagina você achar que é órfã, que não há ninguém no mundo para você e do nada uma estranha fala que é sua família. É como comer uma torta de carne e depois descobrir que é de soja.
OK, essa comparação não faz sentido. Mas é como se você fosse trouxa e depois descobre que é um bruxo que precisa ir para uma escola cheia de coisas estranhas e precisa subir na vassoura e apontar varinhas. Analisando bem, analogias não são meu forte, mas você consegue imaginar, certo?
Pois não sei bem como agir, só sei que preciso. E também preciso de um emprego, tipo agora. E também terminar minha faculdade. Uma casa decente. E também uma vida calma. Está bom para você ou quer mais um pouco?
Primeiro vamos naquilo mais importante: dar uns beijos na Lisa.
Brincadeira!
Preciso arrumar meu currículo e ir em busca de emprego. Essa é minha prioridade. O maior problema é alguém querer empregar. Todos querem experiência e como que vou ter se ninguém quer ser?
Às vezes acho que isso é esquema de pirâmide e entra apenas Q.I: Quem Indica. Não tem outra lógica. Você não nasce com o aprendizado. Você o busca através do tempo, mas as empresas não entendem isso.
Quando eu tomar o poder desse país e virar rainha, tudo vai mudar. Vou alterar todos os princípios e dar chances para mães e pessoas novas que ainda não tiveram chance na vida.
E também vou mandar queimar todos esses que ficam falando que sou Xing Ling. Se é para ser xenofóbico, que seja um decente. Eu sou coreana, puta que pariu, povo burro demais.
Acordo dos meus sonhos de monarquia chegando na rodoviária. Espanto qualquer resquício de sono e me preparo para desembarcar. Quando desço do ônibus, me surpreendo com quem está me esperando.
— Lisa, o que faz aqui? — Olho-a, sorrindo tanto quanto ela.
— Você disse que estava voltando, quis fazer a gentileza de te buscar.
Ela estava linda, usando um cropped preto, mostrando seu abdômen, e uma calça camuflada. Sentava. Nem guindaste me tirava de cima. Aí, credo.
— Tudo isso é saudade? — Peço, enlaçando seu pescoço e puxando-a para um beijo.
Quando nossos lábios se conectaram, toda a realidade foi para o espaço. Sua língua macia dançava em minha boca, suas mãos agarravam minha lombar com possessividade. Sentia a eletricidade percorrer pelas pontas de seus dedos, causando em mim, um formigamento.
Com a sanidade falando alto, desvinculo nossos lábios e finalizo nosso beijo. Não sem antes salpicar de pequenos selares, mas ainda mantenho os braços em seu pescoço. Se depender de mim, será seu colar. Ou segundo, já que posso colocar outras coisas em volta de seu pescoço.
Jennie, mas você é uma pervertida. Sim, eu sou e faz tempo que ninguém me pega de jeito. Uma mulher tem suas necessidades e uma Lisa pode muito bem suprir. Olha esse abdômen, essa pegada. Ela dá mais do que conta.
— Não fuoi eu quem mandou alguém ficar longe das 'sirigaitas'. — Ela disse, sorrindo.
Aquele sorriso, aquela covinha, esses olhos. Esse combo será minha morte.
— Não namoramos e não somos oficiais. — Digo, olhando em seus olhos.
— Mas Jennie Kim não gosta de dividir.
Diz a corna. Ai, me deixe. O Josh era um traste que fazia o favor de descontar sua vida sexual com outras. Mas Lisa? Ah, não, queridos. Lisa é meu pedaço de mal caminho, ao menos por enquanto.
— Seu sobrenome é Kim? — Ela pergunta, curiosidade transbordando em suas íris.
— Sim, sou uma Kim. — Respondo, desvinculando-me.
Viro as costas, a fim de respirar e ignorar as batidas rápidas de meu coração. Eu sei que ela conhece mais alguém com esse sobrenome. Mas preciso saber de algumas coisas.
— A Chu também é. — Ela diz, simples.
— Vai me dar uma carona? — Pergunto.
— Com toda a certeza, boneca. — Ela estendeu a mão para mim, a qual juntei nossos dedos. — Sua carruagem está esperando.
Quando chegamos no estacionamento, arqueio a sobrancelha. Um Honda Civic é destravado por Lisa, e a porta do carona é aberta para que eu entre. O carro cheirava a novo e os bancos de couro eram macios.
— Nova aquisição? — Pergunto.
Lisa sorri e nos tira do estacionamento suavemente. Suas mãos fazem o carro deslizar pela pista e quase não ouço o barulho do motor. Quando chegamos na sinaleira vermelha, ela olha para mim.
— Não. Esse carro está na oficina da Chu, para ela fazer manutenção.
— Então você roubou o carro? — Pergunto, rindo com o cenário. Mas também com medo da polícia aparecer e ser presa.
— Não, digamos que estamos fazendo o Test-Drive. — Ela diz, rindo.
Sorrio também, mas imagino que essa sejaé uma ótima maneira de abordar sobre Chu, de maneira sutil. Solto um pequeno pigarro e começo a sondar o assunto.
— Falando em Jisoo, ela é mecânica e tem sua oficina?
— Sim, ela e Rosé possuem uma oficina juntas. — Seu sorriso estonteante estava virado para o trânsito, pois, estava dirigindo.
— E você ajuda? — Pergunto, apenas para distraí-la das intenções das perguntas.
— Bem, ajudo a achar algumas peças.....
— Achar, sei, — Solto uma risadinha. — Mas como vocês se conheceram?
— Quando eu tinha 11 anos teve um projeto na escola, onde a gente trocava cartinhas com um pessoal do orfanato. — Minha respiração se prende.
— E Jisoo foi a menina com quem troquei correspondência. Quando acabou o projeto, continuei escrevendo e quando ela saiu aos 17 anos, mesmo com minha vida sendo um inferno, eu dei um lugar para ela ficar.
Meu coração se apertou nesse momento. Como uma pessoa tão linda como Jisoo não foi adotada? E pensar que morávamos perto, mas nem sabíamos a existência uma da outra? Como vou fazer para recuperar esse tempo perdido?
— Rosé foi a primeira namoradinha de Jisoo. E creio que será a única. — Ela diz, sem perceber que estou apreensiva. — Então Chu se dedicou àquilo que fazia de melhor: consertar carros. E dois anos depois, quando Rosé saiu, elas decidiram morar juntas e abriram a oficina com muito esforço.
Eu sentia o orgulho de Lisa, em como ela amava aquelas meninas. E pensar que ambas são novas. Jisoo é apenas um ano mais velha que eu e Lisa e Rosé são um ano mais nova que eu.
— E você está me levando para elas? — Pergunto, pois quero tirar esse peso de meu coração.
— Quer conhecer a oficina das meninas? — Ela olhou para mim, com a covinha aparecendo.
Lisa, para de olhar assim para mim. Para com esse sorriso fácil, com esses olhos de chocolate quente, essa covinha hipnotizante, com esse seu jeito tão magnético. Pare antes que eu caia em espiral por você.
— Claro, eu adorei aquelas duas. E é bom fazer amizades. — Digo, tentando parecer desinteressada.
— Então não posso sair com mais 'sirigaitas' e você quer conhecer melhor minha segunda família? — Ela pergunta divertida.
— Bem, não é bem assim... — Digo, constrangida.
— Daqui a pouco você me pede em casamento. — Ela diz, brincando.
Cruzo os braços e faço um pequeno bico.
— Não vou pedir nada!
— Pena, pois se pedisse, eu aceitava!
Viro meu rosto e encontro-a gargalhando. Desfiz meu braço cruzado e sorrio junto.
Ah, Lisa, você está sendo minha perdição.
Indíce
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