Flores de Gelo: O império caído Capitulo 1 - Parte III
Em silêncio absoluto, Anya permanecia escondida, enquanto as vozes no corredor se tornavam mais altas, indicando que as portadoras das palavras estavam se aproximando. Para o azar da princesa, eram sua mãe e uma das faxineiras.
— Precisamos de uma boa arrumação neste castelo! — dizia Cassandra, com o tom firme e autoritário que lhe era característico. — Amanhã o rei retornará com toda a sua família!
Ao ouvir aquilo, Anya sentiu seu coração apertar. Peter, o esnobe, voltaria.
Ainda escondida atrás da porta, Anya olhou para a maçaneta que começava a se mover. Seu coração disparou enquanto a porta lentamente se abria, deixando entrar um fino feixe de luz no quarto escuro. No entanto, a porta logo se fechou novamente, e Anya suspirou de alívio, sentindo os músculos tensos relaxarem.
— Essa foi por pouco — murmurou, permitindo-se respirar mais fundo.
Ela olhou com cuidado pela fresta da porta, certificando-se de que não havia mais ninguém por perto. Após verificar o corredor, abriu a porta lentamente, enfrentando o ranger agoniante que parecia ecoar em sua mente. Nervosa, mordeu os lábios, mas não desistiu.
Passo a passo, com movimentos calculados, Anya seguiu em direção ao seu quarto, evitando fazer barulho. Chegando à escadaria, ergueu delicadamente seu vestido, mas foi atrapalhada pelas roupas que carregava escondidas. Mesmo assim, não parou. Estava determinada.
Subia apressada os degraus quando, de repente, sua cabeça bateu em algo.
— Ai! — soltou, levando a mão à testa.
Erguendo o olhar devagar, viu Cassandra parada, com uma expressão severa e os braços cruzados. A rainha a fitava de cima a baixo, examinando cada detalhe. Assustada, Anya rapidamente escondeu as roupas atrás de seu volumoso vestido azul, torcendo para que sua mãe não percebesse nada.
— Temos muitas coisas para conversar, mocinha — declarou Cassandra, sua voz carregada de desaprovação. Seus olhos apontaram para o quarto de Anya. — Entre.
Sem escolha, Anya seguiu as instruções da mãe. Entrou no quarto e sentou-se na beirada da cama, ajeitando o vestido enquanto tentava controlar o nervosismo.
— Anya, você está prestes a completar dezoito anos! — começou Cassandra, andando de um lado para o outro, com gestos amplos e palavras carregadas de seriedade. — É hora de aprender a ter modos!
— Meus modos são perfeitamente colocados onde convém — rebateu Anya, com a calma que suas aulas de etiqueta lhe ensinaram. Enquanto falava, continuava a esconder cuidadosamente as roupas sob o vestido. — Mas aquele príncipe esnobe é um completo idiota inconveniente.
A rainha parou, incomodada pela resposta direta da filha.
— Mas é com ele que você... — começou Cassandra, hesitando por um momento, como se estivesse prestes a revelar algo importante.
— Continue! — exigiu Anya, enquanto sua indignação crescia. — Diga logo!
— Isso não vem ao caso agora — respondeu Cassandra, desviando o olhar, claramente desconfortável. Sua voz tremia levemente. — Pelo bem do seu futuro, pare de tratá-lo dessa forma.
Ao virar-se para sair, foi interrompida novamente pela voz de Anya, que soou firme e desafiadora:
— Ou o quê?
Cassandra, irritada, voltou devagar, aproximando-se até ficar cara a cara com a filha. Respirou fundo e, com uma voz firme e cortante, decretou:
— Você não pisa mais fora deste castelo!
Sem esperar por uma resposta, girou nos calcanhares e saiu do quarto, batendo a porta com força. O som dos saltos ecoou pelo corredor enquanto ela descia as escadas com passos decididos.
Ao chegar à sala de reuniões, encontrou Robert, o escrivão, organizando seus materiais.
— Comece a escrever — ordenou, sentando-se na cadeira com um movimento brusco.
— Um momento, majestade — respondeu Robert, pegando sua pena e preparando o papel.
— Caro rei Árthur — ditou Cassandra, sem paciência. Após uma breve pausa, continuou: — Quero que compareça ao castelo o mais rápido possível.
Robert transcreveu cada palavra, finalizando a carta com o selo real de Azuris. Então chamou sua ave mensageira, Belatrix, que pousou graciosamente em sua mão. Com delicadeza, amarrou a mensagem à perna do pombo e o soltou no ar. Belatrix bateu as asas com força, desaparecendo no céu noturno em direção ao reino de Heráclion.
Enquanto isso, a noite envolvia o castelo em um manto de silêncio. No entanto, Anya tinha seus próprios planos.
No amanhecer seguinte, os primeiros raios de sol iluminaram seu rosto, e a princesa despertou. Após ouvir os passos de sua mãe saindo de perto, colocou seu plano em prática. Pegou as roupas escondidas e, sem hesitar, pulou pela janela da torre, mergulhando no rio cristalino abaixo.
A queda foi graciosa, e o vestido azul inflou como um guarda-chuva enquanto ela descia. Ao alcançar a água, nadou até a margem, onde trocou suas roupas por um vestido simples de camponesa decorado com margaridas. Agora, vestida como uma aldeã, colocou um chapéu de palha, com um lindo laço amarelo, que a protegia do sol e caminhou rumo à vila.
Chegando ao vilarejo, Anya tentou se misturar aos plebeus. Suas mãos estavam entrelaçadas, e seus passos eram tímidos, mas sentia-se deslocada. Ao tentar imitar a confiança das pessoas ao seu redor, e copiar o modo de como as outras pessoas andavam, sentiu seus pés se embolarem, fazendo com que Anya estivesse prestes a ir de encontro com o chão.
Antes que caísse, uma mão firme a segurou.
— Cuidado! — disse uma voz masculina e gentil.
Anya ergueu o olhar e encontrou um jovem de cabelos castanhos e olhos azuis intensos. Ele vestia roupas simples, mas havia algo encantador em sua presença.
— Muito obrigada — agradeceu, ainda tentando se recompor.
— Não foi nada. Mas tome cuidado onde pisa — respondeu ele, com um sorriso leve. — Algumas carroças passam por aqui deixando pedras no caminho.
Anya sorriu de volta, ainda surpresa.
— E como posso chamar meu herói?
Ele a encarou, tímido, mas com um sorriso sincero.
— Pode me chamar de Klaus.
Indíce
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!